Notícias - Província Franciscana da Imaculada Conceição do Brasil - OFM

“A voz do povo” entre os lançamentos da Editora Vozes

12/03/2020

Notícias

A voz do povo

Carlos Piovezani

Ao longo da História, a fala de membros das elites políticas, religiosas ou intelectuais sempre gozou de legitimidade e foi considerada correta, elegante e racional. Sua escuta também fora considerada adequada, pois se dizia que essas pessoas não eram manipuladas por emoções. Ao mesmo tempo, a fala e a escuta do povo eram menosprezadas e não possuíam legitimidade. Afirmava-se que o povo falava errado, que seu discurso era grosseiro e que ele se deixava levar por suas paixões. Desse modo, o povo foi durante muito tempo praticamente reduzido ao silêncio. Mesmo quando o orador e a retórica popular passaram a se impor e a igualdade de direitos foi proclamada, isto é, mesmo nas práticas e nas ideias progressistas, esse preconceituoso discurso dominante continuou a deixar suas marcas.

Em A voz do povo, Carlos Piovezani convida-nos a uma fascinante aventura intelectual: construir uma metalinguagem da emancipação popular, que desnaturalize esse discurso de deslegitimação da fala e da escuta populares. Com base em diferentes áreas do conhecimento, tais como a Linguística e a História das Ideias Linguísticas, a Análise do Discurso e a História das sensibilidades, Piovezani vai tecendo progressivamente uma genealogia da longa história de discriminações e vai, com muita agudeza, examinando discursos conservadores e progressistas do Brasil e do mundo, para mostrar as mudanças na visão sobre a fala do povo, mas também a permanência de preconceitos. Este é um livro que todas as pessoas comprometidas com a mudança de uma sociedade tão desigual como a nossa precisam ler.

Nº DE PÁGINAS: 304

 

Ministério sacerdotal

Roberto Noriega, OSA

A formação dos presbíteros – inicial ou permanente – tem sido sempre uma preocupação constante na vida da Igreja. Na atualidade deve se adaptar a tempos necessitados de presbíteros qualificados e competentes em seu trabalho evangelizador na perspectiva do Concílio Vaticano II.

Do ponto de vista moral, corresponde ao presbítero tomar decisões que às vezes são extremamente complexas e para as quais nem sempre está preparado, o que dificulta levar a cabo sua missão. Recorrendo à ética aplicada podem-se oferecer imagens e encontrar meios que iluminem sua vida e enriqueçam seu compromisso profissional. Esta é a ideia de base desta obra que aponta, em primeiro lugar, a peculiaridade da vocação ao ministério ordenado que, observada a partir da Escritura e da Patrística, adquire conteúdos teológicos dos quais derivam atitudes éticas fundamentais.

Uma vez colocados os alicerces, na segunda parte se iluminam várias dimensões da vida e ministério do presbítero. Para tanto, são tratados em perspectiva deontológica alguns aspectos de sua tríplice missão: o governo, que gera relações pastorais que exigem atenção e cuidado a partir do ponto de vista do uso do poder e da autoridade, a administração dos bens econômicos e o cuidado dos mais pobres, e a integridade afetivo-sexual; o ensino, que se centra na Palavra de Deus, aplicada comunitariamente pelos meios de comunicação e difusão e pessoalmente no acompanhamento; e a santificação, por meio dos sacramentos no âmbito celebrativo, privilegiando a atenção aos enfermos.

A orientação final sugere a elaboração de um código ético próprio como instrumento válido para a reflexão e o crescimento moral. Desse modo se aperfeiçoa a inquietude puramente espiritual nesta “arte de servir” aos demais, na Igreja e para o mundo.

Roberto Noriega, OSA, é doutor em Teologia, especialidade em Moral, pelo Instituto Superior de Ciências Morais (Universidade Pontifícia de Comillas), e mestre em Bioética. É professor nos centros agostinianos Etav (Estudo Teológico Agostiniano de Valladolid) e CTSA (Centro Teológico San Agustín), onde tem lecionado Ética e Deontologia Sacerdotal. Em conjunto com sua atuação acadêmica traz sua experiência no campo formativo, no qual esteve durante doze anos, e o trabalho pastoral paroquial em Portugal, Brasil e atualmente na Espanha.

Nº DE PÁGINAS: 376

 

Presbítero
Vocação e Missão

Dom Orlando Brandes

O sacerdote tem os olhos fixos na glória de Deus e na salvação do mundo. Ele aponta para o primado de Deus e para a elevação da dignidade humana, assumindo o propósito do esquecimento de si e a promoção do outro.

Ele assume a missão de cultivar o amor a Deus através de vários ensinamentos e atitudes que farão a diferença em seu cotidiano e na própria realização de sua vida pessoal.

Cultivar a espiritualidade do serviço quer dizer: “Eu sou de Deus e para os outros”, abraçando uma vida descentralizada de si e concentrada em Deus e no próximo. Eis a beleza, a riqueza, o segredo da vida sacerdotal.

Este é um livro destinado àqueles que estão discernindo um processo vocacional de levar Deus às pessoas, tendo como propósito cultivar essa missão nos dias atuais.

Dom Orlando Brandes é catarinense, nascido em 1946. Cursou Teologia na Gregoriana de Roma, cidade onde também pós-graduou-se em Teologia Moral. Foi bispo de Joinville, arcebispo de Londrina e atualmente de Aparecida.

Nº DE PÁGINAS: 192

 

Teoria dos sistemas na prática – Vol. III
História, semântica e sociedade

Niklas Luhmann

A teoria dos sistemas sociais, tal como elaborada por Luhmann ao longo das décadas de 1960-1990, tem no problema da diferenciação social um de seus desenvolvimentos decisivos. Correlacionada a isso, há uma transformação semântica – do conjunto dos significados operantes na sociedade, e do modo como eles concretizam-se em comunicações –, que Luhmann procura historiar. Ou seja, procura identificar, no interior de problemas e contextos específicos, como a passagem da sociedade diferenciada por estratos para a sociedade diferenciada funcionalmente implicou – gerou, modelou, desenvolveu, aplicou – transformações semânticas: uma nova semântica do amor, da distribuição, do indivíduo, do Estado, da classe, da moral, e muitas outras mais, para todos os domínios onde operam sistemas, ou seja, onde há comunicação. Por semântica entende-se agora como se concebe, como se pensa, como se compreende, como se classifica, como se codifica etc.; em suma, como se produz sentido (sem o qual não há comunicação, a operação basilar dos sistemas sociais), e importa compreender como isso se transforma com a passagem da diferenciação estratificatória para a diferenciação funcional (a sociedade moderna).

Observando ao revés, pode-se então caracterizar a sociedade moderna, funcionalmente diferenciada, pela via das transformações semânticas que ela consuma – e necessita, para continuar existindo, pois depende de sentido, sem o qual as comunicações, que são as operações decisivas dos sistemas sociais, não se completam.

Ao longo dos textos selecionados, o leitor encontrará em ação a terminologia desenvolvida na teoria dos sistemas de Luhmann – e em caso de necessidade pode sempre recorrer a Sistemas sociais, ou a algum léxico luhmanniano –, mas mesmo que isso signifique um ralentar na velocidade de leitura, não é jamais um impedimento (como pode ocorrer, ocasionalmente, em textos mais abstratos), pois logo a seguir o exemplo da semântica em análise oferece luz e sentido. Por outro lado, encontram-se dispersas pelo texto as peraltices da linguagem e escrita luhmanniana: repetições, uso de termos e expressões fora de contexto e, não menos importante, sua ironia, pois “apenas a sociedade pode comunicar, e a figura do ‘autor’ nada mais é do que um artefato dessa comunicação”. Ou seja, a linguagem não é de Luhmann, mas da sociedade.

Os textos que compõem este volume foram extraídos de uma série de estudos que Niklas Luhmann (1927-1998) publicou, a partir de 1980. Hoje, esses livros contabilizam seis volumes e totalizam 26 estudos; traduzimos aqui nove deles, distribuídos em três volumes. O propósito é oferecer ao leitor brasileiro uma boa e significativa amostra desses trabalhos, que revelam vertentes menos conhecidas por aqui das investigações de Luhmann.

Nº DE CAPAS: 232

 

Os desafios deste tempo

Regis de Morais

Sem dúvida vivemos um momento histórico difícil. Porém, não se deve confundir o difícil com o impossível. Para que tal confusão não ocorra, a primeira grande necessidade é a de que reflitamos sobre as angústias que agora nos habitam; façamo-lo realisticamente, mas lembrando-nos do pensamento tão belo e firme de Ernst Bloch (Princípio-esperança): “No futuro moram todas as possibilidades, as muito boas e as muito ruins. Quais se concretizarão? Isto dependerá da dignidade com que assumirmos nosso momento presente”.

Nenhum momento é hora de se desistir. É hora sim de se fazer uma boa análise, e lembrar que nosso mundo não é; ele está sendo. Assim, lembremo-nos da notável frase latina (Império Romano): Contra speam, spes – Esperança contra toda desesperança.

Disto cuida este livro. Mas sem abrir-se mão de analisar corajosamente as dificuldades que ora nos causam mal-estar.

Regis de Morais (João Francisco Regis de Morais) é mineiro de Passa Quatro, mas vive no Estado de São Paulo há 51 anos (Campinas). É licenciado em Ciências Sociais e Filosofia. Mestre em Filosofia Social (PUC-Campinas), doutorou-se em Filosofia e História da Educação (Unicamp). Livre-docente pela Unicamp e seu professor titular, aposentado agora. Lecionou na PUC do Chile e prestou serviços à Universidade Técnica de Lisboa. Tem 70 livros publicados (Filosofia, Sociologia e Literatura) e 60 artigos publicados em revistas acadêmicas e obras coletivas. Ao todo esteve 41 anos em universidades. Hoje viaja para conferências.

Nº DE PÁGINAS: 128

 

Hannah Arendt – Conceitos fundamentais

Editado por Patrick Hayden

Filósofa, teórica política e crítica, Hannah Arendt é amplamente considerada uma das pensadoras mais brilhantes do século XX. Figura independente e erudita, central para a cena intelectual do último século, ela permanece como criadora de originais e incisivos conceitos que ponderam sobre questões fundamentais ao coração das humanidades e ciências sociais. Suas explorações são vastas em escopo e ecléticas na abordagem, lidando com temas como liberdade e responsabilidade, violência e revolução, guerra e totalitarismo, alienação social e fetichismo tecnológico, imaginação e discernimento, política participativa e desobediência civil, e o sentido mesmo da existência humana.

Sua extensa produção inclui densos, complicados e característicos livros de filosofia e teoria política, centenas de ensaios, entrevistas e palestras sobre História, Filosofia, Literatura e Cultura, mas também correspondências mais íntimas e escritos jornalísticos. Como autora e figura pública, era grandemente lida e frequentemente controversa; sua vida e escritos não convencionais atraíram defensores apaixonados e críticos não menos ardentes. Acima de tudo, o pensamento de Arendt e seus conceitos visam situar ao centro da discussão aqueles processos, amiúde obscuros, que transformam o mundo moderno, e destacar os grandes desafios que enfrentamos, como indivíduos e como sociedade. Suas observações tratam de um mundo lutando para encontrar o seu caminho em tempos repletos de incertezas.

Ao lerem este livro os leitores irão encontrar não apenas o escopo impressionante e a profundidade da obra de Hannah Arendt, mas igualmente as múltiplas visões de pensamento que abriu.

Patrick Hayden é professor de Teoria Política e Relações Internacionais na Universidade de St Andrews. É autor de Political Evil in a Global Age: Hannah Arendt and International Theory (2009) e Cosmopolitan Global Politics (2005), e editor do The Ashgate Research Companion to Ethics and International Relations (2009). Sua pesquisa se atém à teoria política internacional, teoria política e social contemporânea, direitos humanos e problemas relativos à justiça/injustiça na política global.

Nº DE PÁGINAS: 328

 

A Ética a Nicômaco
Uma chave de leitura

Michael Pakaluk

Suponho que a definição de um texto fundamental é seu caráter preliminar: é o que deveríamos idealmente ler e dominar antes de estudar e pensar sobre outras coisas. Por essa definição, a Ética de Aristóteles conta como um dos textos mais fundamentais no pensamento ocidental. Encontra-se na raiz da filosofia moral, da teoria política, da ciência comportamental e da economia, além de ser de influência predominante e contínua na literatura e cultura de um modo geral.

Não surpreende que muitos livros tenham sido escritos sobre um trabalho tão fundamental. Por que, então, estou oferecendo mais um? A explicação é fornecida por minha própria experiência. Tentei escrever um livro que poupasse os estudantes de hoje parte do trabalho que necessitei realizar para ler e entender a Ética. Meu objetivo foi formular e, depois, transmitir algo do que aprendi em meu enfrentamento com a Ética durante esses anos. Por exemplo, há uma arte ou habilidade particular de ler Aristóteles, que envolve ser capaz de ver que ele está propondo um argumento, em uma sentença ou passagem, e, depois, reconstrói esse argumento por reflexão e avaliação. A densidade e a concentração do pensamento de Aristóteles são difíceis para serem apreciadas por estudantes iniciantes, especialmente porque ninguém mais escreve desse modo; praticamente cada sentença desempenha um papel em um argumento ou outro, e cada palavra desempenha um papel específico na sentença, como um poema cuidadosamente elaborado. Tento explicar como Aristóteles escreve e dar dicas para reconhecer argumentos.

Mas meu objetivo principal neste livro é relativamente modesto. É simplesmente fornecer uma introdução clara, acessível e abrangente à Ética de Aristóteles para estudantes com um conhecimento mínimo em filosofia e ética, e que provavelmente se dedicarão a algo diferente do trabalho acadêmico em filosofia. Portanto, pareceu prudente manter-me num mínimo de consideração explícita da literatura secundária (exceto pelas notas bibliográficas que seguem cada capítulo) e, mesmo em alguns casos, quando isso serviu ao propósito do livro, dar uma atenção relativamente pequena a interpretações que, não obstante, têm sido amplamente aceitas entre estudiosos.

Michael Pakaluk é professor-adjunto de Filosofia na Clark University, Massachusetts. Publicou extensamente trabalhos de história da filosofia, incluindo Platão, Santo Tomás de Aquino, Hume e Reid, assim como de filosofia política, lógica filosófica e do começo da filosofia analítica.

Nº DE PÁGINAS: 496