Notícias - Província Franciscana da Imaculada Conceição do Brasil - OFM

Boas festas de São Francisco de Assis!

04/10/2016

Notícias

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Neste dia 04 de outubro celebramos a solenidade de São Francisco de Assis. Festividade que nós, Família Franciscana, iniciamos na véspera com o “Transitus” de São Francisco, isto é, a celebração que encerra o mistério da vida e da morte do nosso Seráfico Pai como caminho único para a ressurreição e a glória. Este caminho único nós o professamos quando rezamos com toda a Igreja esta oração da solenidade: “Ó Deus, que fizestes o seráfico Pai São Francisco assemelhar-se ao Cristo por uma vida de humildade e pobreza, concedei que, trilhando o mesmo caminho, sigamos fielmente o vosso Filho, unindo-nos convosco na perfeita alegria”.

VEJA A MENSAGEM DO MINISTRO PROVINCIAL 

Assemelhar-se a Jesus Cristo é para cada cristão um itinerário penitencial a ser abraçado todos os dias na fiel observância da boa-nova do santo Evangelho.  São Francisco de Assis realizou este seu caminho com muita propriedade, como tão bem nos atesta Santa Clara: “O Filho de Deus fez-se para nós o caminho, que nosso bem-aventurado pai Francisco, que o amou e seguiu de verdade, nos mostrou e ensinou por palavra e exemplo” (TestC 5).

São Francisco, no Testamento que elaborou pouco tempo antes de deixar esta vida terrena, nos recordou que Jesus Cristo foi o ponto de partida deste itinerário que ele empreendeu: “Foi assim que o Senhor concedeu a mim, Frei Francisco, iniciar uma vida de penitência” (Test 1). Este Senhor que o chamou a esta vocação, também foi ao longo de toda a sua vida seu Conselheiro, Amigo, Mestre, Guia, Caminho e Fundamento em todas as suas ações. Por isso, ao cumprir o mandado que recebeu do Crucificado, “Vai, restaura a minha Igreja” (LTC 13), “não desfez os alicerces, mas edificou sobre eles, reservando essa prerrogativa, mesmo sem pensar, ao Cristo: ninguém pode pôr outro fundamento senão o que foi posto: Jesus Cristo” (1Cel 18).

A Regra que ele deixou para a Ordem Franciscana, no seu denominador comum, prescreve que esta vida e sua permanente formação, onde quer que os irmãos estejam, é a busca incessante deste “assemelhar-se ao Cristo”. Alguns exemplos: “A regra e a vida dos frades menores é esta: observar o santo Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo” (RB1,1); “Aqueles que quiserem abraçar esta vida e vão ter com os nossos irmãos,… a eles digam os ministros a palavra do santo Evangelho” (RB2,1.5); “Digam os irmãos o ofício divino” e nos exercícios quaresmais tenham como referência os mistérios da Encarnação, Paixão, Morte e Ressurreição do Senhor (RB 3); “Admoesto em Nosso Senhor Jesus Cristo que, ao irem pelo mundo…” tenham em tudo como referencial o Santo Evangelho (RB 3, 10-14); “Servir o Senhor em pobreza e humildade…” Portanto, “por amor ao nome de nosso Senhor Jesus Cristo, não queirais possuir jamais outra coisa debaixo do céu” (RB 6); Na pregação (evangelização) falar com clareza e retidão “porque o Senhor, na terra, usou de palavra breve” (RB 9); Viver uma relação obediencial “em tudo que prometeram ao Senhor observar” (RB 10); “Guardar a pobreza e a humildade e o santo Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo como firmemente prometemos” (RB 12).

Também os biógrafos do Santo de Assis atestam que a sua vida foi uma constante busca de assemelhar-se a Jesus Cristo. São Boaventura, na Legenda Maior, cap. XIII, elaborou um belíssimo texto para mostrar a fidelidade e a conformidade de São Francisco com a “Cruz” (Evangelho) de nosso Senhor Jesus Cristo. E afirma que “o angélico Francisco não tinha por hábito descansar enquanto estivesse à procura do bem”

(LM 13,1). Ainda no mesmo relato sobre os sagrados estigmas, quando Francisco chega “ao cume da perfeição do Evangelho” (LM 13,10) no Monte Alverne, o Doutor Seráfico escreve que o “valente soldado de Cristo” (LM 13,9) permitiu que “o verdadeiro amor de Cristo transformasse o amante na própria imagem do amado (LM 13,5). Um itinerário de identificação pelo qual o “amante de Cristo” se transfigurou, “não tanto pelo martírio corporal quanto pelas chamas do amor do espírito” (LM 23,3), trilhado pela tríplice via (purificativa, iluminativa e caritativa) e que “deram ao santo o poder de curar, livrando da peste, de dar claridade ao céu e aos corpos calor” (LM 13,7).

Já Tomás de Celano, ao querer passar para a memória de cada frade os feitos do Seráfico Pai, afirma: “São Francisco é um espelho santíssimo da santidade do Senhor e uma imagem de sua perfeição” (2Cel 26).

Neste querer assemelhar-se a Cristo, Francisco observou atentamente e viveu com intensidade duas características a ele reveladas pelo próprio Filho de Deus: a humildade e a pobreza.

Para assemelhar-se a Jesus Cristo na humildade, Francisco despojou-se de tudo e de todas as coisas para ser merecedor da “humildade sublime e humilde sublimidade” de Deus. Isso transparece quando ele se despojou de suas vestes e se revestiu de vestes humildes e vis; quando não temeu a mendicância como companheira e irmã da pobreza de Nosso Senhor Jesus Cristo e de sua Mãe pobrezinha; quando reconheceu e confessou sua fragilidade humana e tomou consciência de que a salvação é obra do Deus da Misericórdia; quando partilhou o pouco da fraternidade com os mais pobres deste mundo; quando reconheceu e enalteceu as virtudes na vida dos irmãos a ele dados pelo Senhor; quando se compadeceu e ofereceu misericórdia ao irmão que clamava por misericórdia; etc. Se nos ‘Louvores a Deus Altíssimo’ Francisco proclamou “Tu és Humildade”, esta humildade não é um sentimento abstrato ou uma concepção teórica sobre Deus, mas é a contemplação concreta de um Deus humano e humilde que se tornou visível e palpável na Encarnação, na Paixão e na Eucaristia.

Da mesma forma, para assemelhar-se a Jesus Cristo na pobreza, Francisco não viveu um conceito genérico e nem assumiu uma filosofia abstrata e nem entrou na ‘moda’ de mais um movimento pauperístico. O princípio da opção que Francisco elegeu para si e para a fraternidade foi o de colocar-se com retidão no caminho da bem-aventurança evangélica: “Bem-aventurados os pobres”. Nesse sentido, a pobreza de Cristo passou a ser o caminho ascético-penitencial que se atinge depois de muita luta e desapropriação do coração das coisas que impedem o discípulo de abraçar, viver e caminhar com liberdade o caminho do Santo Evangelho. Este apelo espiritual foi magnificamente descrito na alegoria da Pobreza Franciscana e retratado com maestria e sutileza no texto do ‘Sacrum Commercium’. O autor desta obra coloca na boca de São Francisco estas palavras, exortando os seus cavaleiros-irmãos a irem à luta: “Irmãos, o caminho é apertado e a porta que leva à vida é estreita, e são raros os que a encontram. Fortalecei-vos no Senhor, pelo seu soberano poder, pois tudo o que é difícil ser-nos-á fácil. Deponde a carga da vontade própria, atirai para longe o peso dos pecados e preparai-vos como homens fortes… E há um espírito que vos guia, Cristo Senhor, que vos atrai até o cume do monte com vínculos de caridade” (SC 12). E no cume deste itinerário habita a “rainha das virtudes”, “a Senhora Pobreza, que se reclinando no trono de sua nudez, veio-lhes ao encontro com preciosas bênçãos” (SC 15).

Para concluir, retomo a segunda parte da oração da Solenidade de São Francisco: “Concedei que, trilhando o mesmo caminho, sigamos fielmente o vosso Filho, unindo-nos convosco na perfeita alegria”. Não importa a minha identidade pessoal. Cada um de nós pode ser este irmão (e irmã) perfeito, sonhado por São Francisco (cf. EP 85). Posso ser o “Frei Bernardo, homem de fé e de amor à pobreza”, ou o “cortês e gentil Frei Ângelo, com sua simplicidade e pureza”, ou o “distinto e sensato Frei Masseo com sua bela e piedosa eloquência”, ou o “contemplativo e piedoso Frei Gil”, ou o “Frei Rufino, com sua prece virtuosa e constante”, ou o paciente Frei Junípero, com toda a sua vileza e ardente desejo de imitar Cristo”, ou “Frei João, com seu vigor corporal e espiritual”, ou o “caridoso Frei Rogério”, ou até mesmo ser “o inquieto Frei Lúcio, preocupado em não querer permanecer mais de um mês no mesmo lugar”. Enfim, também posso ser o “Frei Leão”, apelidado por São Francisco de “ovelhinha de Deus”. Importa que cada um empreenda o caminho da “perfeita alegria” (cf. Fior 8) na qualidade de fiel discípulo e companheiro de São Francisco.

E para se chegar à “perfeita alegria”, é notório que o caminhar de Francisco não passou pelo poder da sabedoria humana, nem pelo poder civil e eclesiástico, e muito menos pelo poder que procede do pregador midiático com seus feitos miraculosos de ‘cura e libertação’, entendido como apropriação dos dons recebidos de Deus. O caminho da “perfeita alegria” trilhado por São Francisco consiste no “vencer-se a si mesmo” e no “gloriar-se na cruz da tribulação de cada aflição, porque isso é nosso e assim diz o Apóstolo: Não quero gloriar-me, a não ser na cruz de Nosso Senhor Jesus Cristo” (Fior 8).

A cada irmão e irmã, desejo uma feliz e abençoada Festa de São Francisco de Assis!  Que o Senhor, por intercessão do nosso Pai Seráfico, nos abençoe e nos guarde no seu amor!


 Frei Fidêncio Vanboemmel, OFM

 Ministro Provincial