Beneditinos se juntam aos franciscanos para celebrar São Francisco de Assis
30/09/2018
Moacir Beggo
São Paulo (SP) – Foi em Assis, há 800 anos, que o jovem Francisco se aproximou dos Monges Beneditinos e ganhou deles a igrejinha da Porciúncula, que depois se tornou o berço da Ordem Franciscana. Neste domingo (30/9), sexto dia da Novena a São Francisco, Beneditinos e Franciscanos celebraram esta amizade no centro de São Paulo. Pela segunda vez, a imagem do Padroeiro do Santuário e Convento São Francisco foi trazida em procissão do Mosteiro até o Convento, onde às 10h30 teve início a Celebração Eucarística, presidida por Dom Mathias Tolentino Braga, abade do Mosteiro São Bento.
Dom Mathias teve como concelebrantes Frei Alvaci Mendes da Luz, reitor e pároco do Santuário, e Frei Gustavo Medella, Definidor da Província da Imaculada. Segundo o celebrante, na liturgia deste domingo, a Igreja pede justamente um olhar para o outro. “Temos a tendência, como Josué, de querer afastar o outro de perto de nós por causa de ciúmes. Como no Evangelho, onde os apóstolos ficam enciumados de Jesus. Mas o Mestre os convida a acolher todo aquele que vem até nós”, lembrou Dom Mathias.
Celebrar São Francisco, segundo Dom Mathias, é uma festa que não diz respeito somente às comunidades franciscanas, mas à toda a Igreja. “São Francisco, com seu amor à pobreza, não só olha para o outro como o pobre que necessita de nossa ajuda. Como ensina a bem-aventurança de Jesus, cada um de nós deve se reconhecer pobre, necessitado do amor do outro. E assim, na sua pobreza, São Francisco enriquece toda a Igreja com os dons que Deus lhe dá”, explicou o abade.
“A grandeza de Francisco foi justamente se perceber pobre, necessitado. Ele necessitava do amor daquele mendigo, do amor do leproso. Ele se reconhecia tão pequeno, tão incapaz, que tinha que se apoiar nos outros. É nessa sua pobreza que ele então acolhe o outro. E se a gente não for pobre, não vai ter a perfeição do amor com que Jesus nos pede para amarmos”, acrescentou o abade.
Dom Mathias lamentou que muitas vezes achamos que só o outro precisa de nós e só nós temos algo a oferecer e, quando isso acontece, oferecemos ao outro o que está sobrando, o que nos restou, como a sobra da comida, uma roupa velha. “E a gente fica com o que é bom, com o que é melhor. E Jesus diz: quando deres uma festa, não chama só seus amigos, aqueles que podem retribuir um almoço, um jantar para você, mas oferece um banquete para um doente, para um pobre. É isso que Francisco nos mostra”, frisou o celebrante, lembrando que a Igreja, na época de Francisco, vivia mais o espírito de riqueza e não tinha essa pobreza que Jesus pedia.
Segundo o abade, uma das primeiras coisas que o Papa Francisco chamou a atenção da Igreja n0 momento que ele escolheu o nome de Francisco – primeiro papa com esse nome -, foi para o fato de que a Igreja precisava ser pobre. “E ele dizia: Não podemos dar a nossa esmola depositando na conta bancária de uma ONG para ela ajudar o pobre. É muito confortável isso. Ele diz que é necessário a cada um de nós tocar a carne do pobre, pois a carne do pobre é o Cristo. Fazer como São Francisco ao abraçar o pobre. E dormir com o pobre na rua, sentir frio com ele. É necessário essa identidade com o pobre. Esse é o amor de Francisco por Cristo. Mas o Cristo concreto, não o da minha imaginação, da leitura que eu faço da Bíblia, do entendimento que eu tenho, mas esse Cristo que diz que está com fome, pedindo um copo d’água, que está preso, que está doente. Ele se identificou de tal forma com cada um de seus irmãos, reconhecendo neles o Cristo, e por isso teve a graça de manifestar no seu corpo o sinal do amor de Cristo. Brotou nas mãos, nos pés e no lado as chagas do Cristo Crucificado”, assinalou.
O abade citou Santo Agostinho, lembrando que quem ama, de certa forma, se identifica com o amado. Não é à toa que no matrimônio – e Jesus vai fortalecer isso -, o esposo e a esposa que se amam tornam-se uma só carne, um só corpo. Na Eucaristia, nós também dizemos que, ao acolhermos o Corpo de Cristo, nós O amamos de tal maneira que nós nos tornamos com Ele um só corpo, um só espírito. Então, o amor nos faz identificar com o outro”, acrescentou.
Segundo o abade, Jesus não quis, simplesmente, dar algo para nós. “Mas Jesus quis doar a si mesmo, derramar o seu sangue, entregar-se por nós”.
“Qualquer um que faz o bem, ele o faz animado pelo espírito de Deus. E é nesse sentido que Francisco é um modelo para nós, nessa abertura de coração, que reconhece o Cristo não só no batizado, no católico, naquele que comunga a Eucaristia, que confessa os seus pecados, mas no pecador, que às vezes usa o amor de Deus em outras religiões para dividir, para disseminar o ódio. O que Jesus nos pede é reconhecer aquele que faz todo o bem e que está a nosso favor. Peçamos a São Francisco que inspire o Brasil, sobretudo neste momento delicado que estamos vivendo a uma semana das eleições”, completou.
EMOÇÃO NA PROCISSÃO
Pelo segundo ano, a procissão uniu o Mosteiro São Bento ao Convento São Francisco no percurso da Rua São Bento. Com cantos e orações, Frei Gustavo Medella animou todo percurso, fazendo sempre uma parada nas esquinas para uma reflexão mais profunda. À frente do andor do Padroeiro, os coroinhas e as crianças da catequese, vestidas como “Francisquinhos” e “Clarinhas”.
Chegando no Largo São Francisco, na última parada, Frei Medella pediu a inspiração de São Francisco de Assis para criar no Brasil uma cultura de paz. Ele lembrou a morte brutal do desempregado Fernando Celestino de Jesus, de 29 anos, na madrugada da última sexta-feira, quando foi espancado até a morte.
A agressão aconteceu em frente à Faculdade de Direito da USP. No momento, ocorria uma festa universitária organizada pelas atléticas XI de Agosto, da Faculdade de Direito, e Visconde de Cairu, da FEA (Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade).
Em memória de Celestino e em protesto por todas as mortes violentas no país, Frei Medella pediu um minuto de silêncio e oração. Esse gesto ele fez deitado no chão. Foi um momento intenso e que chegou a emocionar as pessoas.
Nesta segunda-feira, a Novena ao Padroeiro São Francisco será realizada ao meio-dia. Nesta celebração estarão presentes as três Ordens do ramo masculino – os Frades Menores, os Capuchinhos e os Conventuais – e a TOR – Terceira Ordem Regular.