“A Palavra de Deus faz um caminho dentro de nós”
31/01/2018
Cidade do Vaticano – “Como poderíamos enfrentar a nossa peregrinação terrena, com as suas dificuldades e as suas provas, sem ser regularmente nutridos e iluminados pela Palavra de Deus que ressoa na liturgia?” Ao dar continuidade a sua série de catequeses sobre a Santa Missa, o Papa Francisco falou na Audiência Geral desta quarta-feira, a quarta de 2018 e a 213ª de seu Pontificado, sobre a Liturgia da Palavra, “que é uma parte constitutiva porque nos reunimos justamente para escutar o que Deus fez e pretende ainda fazer em nós”.
“É uma experiência que acontece ‘ao vivo’ e não por ouvir dizer – explicou o Santo Padre aos fiéis presentes na Praça São Pedro – porque quando na Igreja se lê a Sagrada Escritura, é Deus mesmo que fala ao seu povo e Cristo, presente na sua palavra, anuncia o Evangelho”, disse.
O Papa alertou, então, que muitas vezes enquanto se lê a Palavra de Deus, se fazem comentários sobre como o outro se veste ou se comporta. Ao invés disto, “devemos escutar, abrir o coração porque é o próprio Deus que nos fala e não pensar em outras coisas ou em falar de outras coisas. Entenderam? Não acredito que aconteça muito, mas explicarei o que acontece nesta Liturgia da Palavra”:
“As páginas da Bíblia deixam de ser um escrito para tornarem-se palavra viva, pronunciada por Deus. É Deus que, por meio do que se lê, nos fala e nos interpela ao que escutamos com fé (…). Mas para escutar a Palavra de Deus, é preciso ter também o coração aberto para receber a palavra no coração. Deus fala e nós nos colocamos em escuta, para depois colocar em prática o que ouvimos. É muito importante ouvir. Algumas vezes não entendemos bem por que existem algumas leituras um pouco difíceis. Mas Deus nos fala o mesmo em outro modo: em silêncio. Não esqueçam isto. Na Missa, quando começam as leituras, ouçamos a Palavra de Deus”.
“Temos necessidade de escutá-la!”, enfatizou o Papa. “É de fato uma questão de vida, como bem recorda a incisiva expressão «nem só de pão o homem viverá, mas de toda a palavra que procede da boca de Deus»”.
Neste sentido, “falamos da Liturgia da Palavra como da ‘mesa’ que o Senhor prepara para alimentar a nossa vida espiritual”. A mesa litúrgica é abundante, “abre mais largamente os tesouros da Bíblia”, do Antigo e no Novo Testamento, porque neles é anunciado pela Igreja o único e idêntico mistério de Cristo: “Pensemos na riqueza das leituras bíblicas oferecidas pelos três ciclos dominicais que, à luz do Evangelhos Sinóticos, nos acompanham no decorrer do ano litúrgico, uma grande riqueza”.
O Papa chamou a atenção para a importância do Salmo responsorial, “cuja função é favorecer a meditação do que foi escutado na leitura que o precede”. “É bom que o Salmo seja valorizado com o canto, ao menos do refrão”, observou Francisco, acrescentando que também as leituras dos dias feriais constituem “um grande nutrimento para a vida cristã”.
O Santo Padre explicou então que “as leituras da Missa, variadamente ordenadas segundo as diferentes tradições do Oriente e Ocidente, estão contidas nos Lecionários”: “A proclamação litúrgica das mesmas leituras, com os cantos deduzidos da Sagrada Escritura, exprime e favorece a comunhão eclesial, acompanhando o caminho de todos e de cada um”.
Neste sentido – explica – “se entende porque escolhas subjetivas, como a omissão de leituras e a sua substituição com textos não bíblicos são proibidas”: “Isto de fato empobrece e compromete o diálogo entre Deus e o seu povo em oração. Pelo contrário, a dignidade do ambão e o uso do lecionário, a disponibilidade de bons leitores e salmistas. Mas busquem bons leitores, eh!, aqueles que saibam ler, não aqueles que leem e não se entende nada, eh! é assim, eh! Bons leitores, eh! Devem se preparar e ensaiar antes da Missa para ler bem. E isto cria um clima de silêncio receptivo”.
A Palavra do Senhor é uma ajuda indispensável para não nos perdermos, nos nutre e nos ilumina, nos ajudando assim a enfrentarmos as dificuldades e as provas de nossa peregrinação terrena.
Mas “não basta ouvir com os ouvidos, sem acolher no coração a semente da divina Palavra, permitindo a ela de dar fruto”: “A ação do Espírito, que torna eficaz a resposta, tem necessidade de corações que se deixem trabalhar e cultivar, de modo que aquilo que é ouvido na Missa passe para a vida cotidiana, segundo a advertência do apóstolo Tiago: «Sede cumpridores da palavra e não apenas ouvintes; isto equivaleria a vos enganardes a vós mesmos».”
“A Palavra de Deus faz um caminho dentro de nós. A escutamos com os ouvidos, passa pelo coração, não permanece nos ouvidos, deve ir ao coração e do coração passa às mãos, às boas obras. Este é o percurso que faz a Palavra de Deus: dos ouvidos ao coração e às mãos. Aprendamos estas coisas. Obrigado.”
Fonte: Vatican News