Beleza e agonia do Velho Chico retratadas em exposição
01/02/2018
São Paulo (SP) – O Rio São Francisco, com seus mais de 3 mil km de extensão, é o quinto maior rio do país. Suas águas passam por mais de 500 municípios, em cinco estados: Minas Gerais, Bahia, Pernambuco, Sergipe e Alagoas. O Velho Chico, como é carinhosamente chamado, foi retratado de diversas formas: em poesia, música, novela. O Santuário e Convento São Francisco, no centro de São Paulo, acolheu no mês de janeiro a mais recente manifestação cultural e afetiva pelo Rio São Francisco.
A exposição “Canta e Chora Francisco” retrata a relação do povo, sobretudo os moradores da Serra da Canastra (MG), onde está localizada a nascente do rio, com as águas, os mitos e sobretudo o sofrimento do rio, que sofre as consequências da intervenção humana.
A exposição nasceu a partir do sonho de Sandoval Ferreira, mineiro, antropólogo e artista plástico. Ele afirma que em janeiro de 2014 teve um sonho, onde estava no Rio São Francisco e ouviu uma voz vinda do vento, que dizia: “Canta, canta, canta”, seguida de sons de música e da água, vindas da queda da cachoeira Casca d’Anta. Em seguida, outra voz e uma brisa quente disseram: “Chora, chora, chora”. No sonho, ele via o fogo, que consumia a mata local. Três dias depois, veio a notícia de que a nascente do rio havia secado e houve uma grande queimada, que atingiu a fauna e a flora locais.
Na nascente há uma imagem de São Francisco de Assis, que dá nome ao rio e é patrono do meio ambiente. Esta imagem está retratada em três telas trazidas para a exposição. São dezenas de telas, entre clássicas e abstratas, além das esculturas, em sua maioria feitas com troncos de madeira retirados do solo do Rio São Francisco durante este período da seca. Alguns troncos estavam submersos há mais de 500 anos, segundo o curador. Sandoval afirma que não foi feita nenhuma modificação na estrutura dos troncos, apenas limpeza e aplicação de produtos para conservação.
Além de trabalhos do curador, a exposição traz obras de José Limonti Júnior, artista plástico de Ibiraci (MG) e diretor da PROBRIG, Protetores da Bacia do Rio Grande e Magda Belato, de Franca (SP).
Sandoval Ferreira afirma que o objetivo de seu trabalho é sensibilizar o visitante para a realidade do Rio São Francisco, despertar para o cuidado com o meio ambiente e evangelizar.
Entre as peças, destaca-se a escultura “Irmão Sol”, que está no centro da exposição, no teto. Esta foi uma das peças que mais emocionou o franciscano Dom Luís Flavio Cappio, bispo da diocese de Barra (BA), quando esteve no Santuário visitando a mostra. O curador afirma que o bispo ficou muito emocionado quando viu o enorme sol, representado na figura, pois recordou a greve de fome que fez em 2005, contra o projeto de transposição do Rio São Francisco, pois o sol era muito forte. A imagem também fez o franciscano recordar a passagem do encontro de São Francisco de Assis com o Serafim Alado, por causa do formato e das seis pontas que estão na peça.
São dezenas de telas e esculturas que retratam não somente a dor e agonia de um rio, mas a beleza da região, com sua cultura, histórias e a íntima relação com a fauna, a flora e as águas do Velho Chico.
A exposição “Chora e Canta Francisco” fica em cartaz até o próximo domingo (4), no Santuário e Convento São Francisco, no centro de São Paulo. O curador recebeu dois convites para levar a exposição para o Rio de Janeiro e Bahia, mas sem data confirmada até o momento.
Santuário e Convento São Francisco
Largo São Francisco, 133
Centro, São Paulo – SP
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