Dom João Inácio Müller fala de seus planos e desafios
15/01/2014
Nesta conversa, o novo bispo conta as expectativas que tem pela frente, revela o que deixa mais saudade de sua antiga missão e garante que deseja permanecer próximo a seus confrades Franciscanos.
Empossado bispo da Diocese de Lorena, SP, no último final de semana (11/01), Dom Frei João Inácio Müller, OFM, conta, nesta entrevista, as expectativas diante do trabalho que tem pela frente, revela do que mais vai sentir saudade de sua antiga missão, aponta os caminhos por onde pretende seguir na condução daquela Igreja particular e garante que deseja manter-se em sintonia e proximidade com seus confrades. Dom Frei João Inácio nasceu em Santa Cruz do Sul, RS, no dia 15 de junho de 1960. Foi nomeado bispo pelo Papa Francisco em 25 de setembro de 2013.
Frei Gustavo Medella
Site Franciscanos – Do Rio Grande do Sul para São Paulo. O senhor já se sente preparado para se tornar um “gaúcho de coração paulista”?
Dom Frei João Inácio Müller – Deus vai nos preparando com o passar dos dias. Se dependêssemos somente de nossas forças, nunca estaríamos preparados, mas nós fomos criados por Deus, à sua imagem e semelhança, e desejamos, em nosso dia a dia, espelhar esta semelhança, pois a cada dia Ele nos concede a graça para crescermos neste processo. Aqui em Lorena, para mim, tudo é novo. As pessoas são muito afetivas. Eu sinto que há uma sede muito grande de Deus e uma intensa busca do Sagrado nesta Região de São Paulo. É uma efervescência na busca do religioso que eu não tinha vivido antes. Tudo isto cria uma realidade de expectativas muito positivas. Tenho encontrado um bom clero, muitos líderes, também o Dom Beni (Dom Benedito Beni dos Santos, Bispo Emérito), e todos eles têm me auxiliando bastante. Eu me encontro muito à vontade e percebo que logo me sentirei em casa nesta Diocese.
Site Franciscanos – Do que o senhor vai sentir mais falta em relação à sua terra natal e à vida de frade?
Dom Frei João Inácio Müller – É uma pergunta um tanto difícil de se responder, pois faz bem pouco tempo que estou aqui (cerca de dez dias), mas o que de imediato estranho, do que sinto falta, é a ter os irmãos ao redor quando, desde cedo, já nos encontramos na capela para rezarmos juntos o ofício, fazermos a meditação, celebrarmos a eucaristia, conversarmos à mesa do café, contarmos piada, rirmos juntos. E este, então, é um contexto novo que estou encontrando. Por outro lado, já estou descobrindo caminhos para suprir estas lacunas com, por exemplo, na relação com os padres – que, pelo que percebo, também têm uma vida marcada por certa solidão – n6t6 neles uma abertura para nos encontrarmos a fim de conversar, rezar, meditar a Palavra. Também tenho a presença do Dom Beni e procuro manter uma relação muito fraternal com os funcionários aqui da cúria para criar um clima de família. Não estou assustado com esta realidade nova, mas posso dizer que faz falta este lado muito bonito da vida franciscana, e da vida religiosa em geral, que é a vida fraterna.
Site Franciscanos – O senhor pretende manter a proximidade com os franciscanos? De que maneira?
Dom Frei João Inácio Müller – Sou muito ligado à minha Província de origem, (Província de São Francisco de Assis, RS), onde fui por seis anos Ministro Provincial. Também conheço diversos frades da Província da Imaculada Conceição, que abrange o território da Diocese de Lorena. Em Guaratinguetá, cidade vizinha, há o Seminário Frei Galvão e também desejo logo procurar os confrades que ali vivem para, desde já, alimentar o espírito fraterno com visitas, participação em momentos recreativos e o cultivo destes laços tão importantes. Também terei contato com os leigos da Ordem Franciscana Secular e com as religiosas que seguem o carisma de Francisco de Assis, de maneira que em nenhum momento estarei distante da Espiritualidade Franciscana, algo que é central em minha vida.
Site Franciscanos – Quais são os seus primeiros planos como bispo de Lorena? Existe alguma prioridade ou aspecto que o senhor pretenda desde o início enfatizar?
Dom Frei João Inácio Müller – De início, basicamente, vou visitar as paróquias todas, as casas religiosas, as forças evangelizadoras da Diocese para saudar as pessoas, escutá-las, conhecê-las. Também com os padres terei um encontro proximamente e já estive com os diáconos. Eu não vim para cá com um Plano de Evangelização que é meu. As posturas que brotam de meu coração, de minhas convicções evangélicas, são aquelas que nascem em torno do lema que escolhi, que nasceu em meu interior, “O amor é a glória de Deus”. Esta é a mística com a qual estou aqui, mas não vim enviado para executar uma obra específica ou adotar uma linha de trabalho pré-determinada. Chego como missionário. Agora vou colocar os pés aqui, tentar escutar com todo empenho e colocar-me a serviço das necessidades reais desta Igreja e por isso o primeiro passo é ouvir os pastores: sacerdotes, diáconos e lideranças leigas que estão hoje conduzindo os trabalhos nas mais variadas presenças em nossa Diocese. Nós temos várias presenças carismáticas aqui, ou seja, movimentos, congregações e serviços (Salesianos, Canção Nova etc.) que são suscitados pelo Espírito e aos quais precisamos animar para que cada um, com seu dinamismo próprio, possa encontrar o seu jeito de servir a Deus, à Igreja e à Diocese no serviço do Evangelho.
Site Franciscanos – De que maneira as orientações do Papa Francisco vão ajudar o senhor em seu ministério?
Dom Frei João Inácio Müller – Em sua exortação apostólica Evangelii Gaudium (A Alegria do Evangelho), o Papa Francisco oferece uma leitura contemplativa do Evangelho. Não tenho dúvida de que todos nós, a começar por mim, e também padres e leigos, somos fortemente convidados pelo Papa a olharmos o Evangelho a partir desta ótica pela qual a Boa Nova de Cristo deve ser estudada, acolhida e praticada. O Papa tem os olhos fixos em Jesus e nós precisamos também direcionar nosso olhar e nossas forças na mesma direção. O Papa está nos animando a novamente bebermos na fonte da Trindade, Pai, Filho e Espírito Santo, para sermos sinais da presença de Deus no mundo de hoje. Vamos todos nos debruçar sobre este texto, na certeza de que através dele e das palavras do Papa Francisco, o próprio Deus nos fala.
Site Franciscanos – Conte um pouco de sua caminhada na Vida Religiosa Franciscana
Dom Frei João Inácio Müller – Eu entrei no seminário, com 13 anos, em 1973. Naquele tempo, era um “guri”, conforme falamos lá no Sul, muito acanhado. Comecei a caminhada no Seminário Menor e depois prossegui no 2º grau. E hoje eu reconheço que fui para o seminário inspirado por algumas figuras de frades que me cativaram na infância, seja tocando a gaitinha de boca, e também pelo hábito. Em 1980, ingressei no noviciado, um tempo muito bonito, um ano do qual guardo muitas lembranças boas, de nossos momentos de oração, de meditação, que me marcaram muito. Neste período também tive a graça de participar das atividades pastorais em uma capela distante 7 Km de nossa casa, os quais eu percorria a pé, fielmente, a cada domingo. Em seguida, durante o curso de Filosofia, passei por um tempo de muita crise, como costuma acontecer, quando nos deparamos com os pensadores, vários deles agnósticos. Depois, na Teologia, eu comecei a conseguir colocar de maneira mais firme os fundamentos de minha vocação de frade e também pude fazer o meu discernimento em relação à ordenação presbiteral. Tive ainda o privilégio de passar três anos de estudos em Jerusalém, onde pude ter contato com todos os lugares santos e, consequentemente, contemplar os eventos salvíficos a partir da ótica da Espiritualidade Franciscana. Quando voltei ao Brasil, trabalhei na Pastoral Vocacional, passei a atuar na formação, quando pude reforçar ainda mais as bases de minha vida franciscana a partir de estudos que fiz em Roma. Ao retornar de Roma, por oito anos fui Mestre de Noviços, função na qual também tive a oportunidade de me aprofundar ainda mais no cultivo pessoal Espiritualidade de Francisco de Assis. Mais tarde, tive vários serviços no âmbito da Província, onde fui definidor e, nos últimos seis anos, Ministro Provincial, além de presidente da Conferência dos Frades Menores do Brasil (CFMB). por quatro anos, e também da Conferência Latino Americana (Uclaf), quando buscamos uma abertura ao Espírito Missionário através da ação concreta de fortalecer nossa presença franciscana na Amazônia.
Site Franciscanos – Receba nosso abraço fraterno e que Deus abençoe sua missão.
Dom Frei João Inácio Müller – Obrigado e que Deus abençoe a todos, Paz e Bem!