Franciscanos caminham pela paz e em defesa da vida em Duque de Caxias
07/10/2013
Os franciscanos e simpatizantes do carisma franciscano vivenciaram uma rica experiência fraterna durante o momento de oração realizado durante a III Caminhada Franciscana pela Paz e em Defesa da Vida realizada em Duque de Caxias (RJ), no último domingo. O evento abriu a Semana Nacional da Vida que está sendo celebrada no Brasil inteiro com o apoio da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (Cnbb).
A caminhada foi uma iniciativa promovida pela Fraternidade Franciscana Santo Antônio, ligada à Ordem Franciscana Secular (OFS), em conjunto com a Juventude Franciscana, Sinfrajupe, Pastoral Familiar, Pastoral da AIDS, ASPASA e Colégio São Francisco. O evento contou ainda com o apoio do jornal Pilar, da Diocese de Duque de Caxias e São João de Meriti.
O evento fez parte da programação da Semana Franciscana, e teve como objetivo de chamar a atenção para a violência e o extermínio de jovens na Baixada Fluminense e para a necessidade de se debater o fenômeno da violência e seus impactos nas vidas de crianças e jovens das periferias das grandes metrópoles brasileiras. Durante o momento de oração, os participantes puderam refletir sobre a violência e os problemas que atingem as famílias brasileiras, principalmente as crianças e jovens, idosos e mulheres, bem como o meio ambiente e seus ecossistemas. Além das associações, grupos, pastorais e fiéis da paróquia, a caminhada também reuniu pessoas que passavam pelo local, e que vivenciaram essa marcante experiência de comunhão fraterna em prol da paz e em defesa da vida.
Dados do Mapa da Violência 2013: Homicídio e Juventude no Brasil, realizado pelo socólogo Julio Jacobo Waiselfisz, com o apoio da Faculdade Latino-Americana de Ciências Sociais (FLACSO) e do Centro de Estudos Latino-Americanos (Cebela), revelam números de guerra na mencionada faixa etária.
Somente em 2011, ano conclusivo do estudo, foram 1.505 homicídios de jovens no Estado do Rio de Janeiro, cujos dados registram uma pequena diminuição de 45,2% em dez anos de análise. A gravidade do número se mostra mais evidente quando se calculado no universo 100 mil habitantes da faixa etária – método comum para se medir a violência nos principais centros.
O Estado registrou 58 mortes por 100 mil jovens que residem em cidades fluminenses, superando a média nacional, de 53,4 mortes. Comparativamente, essa taxa só é superada pelo número de mortes registradas nos conflitos armados no Iraque no período de 2004 a 2007, quando se registrou média de 64,9 mortes por 100 mil habitantes.
Em números absolutos, o Estado do Rio de Janeiro teve registrado em 2011 taxa de 58 mortes por 100 mil habitantes (1.505 casos), figurando como o 14ª Estado mais violento. Em 2001, ano inicial da análise, o Estado ocupava o segundo lugar nacional com 2.746 casos. Nas cidades com mais de 10 mil habitantes na faixa etária de 15 a 29 anos, quatro municípios fluminenses figuram no ranking entre os 100 mais violentos: Duque de Caxias (46º posição), seguido por Macaé (62º), Cabo Frio (70º) e Nova Iguaçu (96º), duas delas situadas na Baixada Fluminense, região historicamente abandonada pelos governos federal e estadual.
Isso representa dizer que dentre as cidades do Estado do Rio de Janeiro com mais de 10 mil habitantes na faixa etária de 15 a 29 anos, Duque de Caxias é a cidade com o maior índice de homicídios de jovens por armas de fogo com uma taxa de 135,2 e 201 casos de morte de jovens em 2011. Considerando os 100 municípios com mais de 20.000 habitantes, o a taxa de homicídios na população total, Duque de Caxias registra uma taxa é de 60,3, ocupando a 88ª posição no ranking das100 cidades com maiores índices de violência, com 519 casos em 2011.
A capital fluminense apresentou uma taxa de 41,4 mortes no universo de 100 mil jovens, abaixo da média nacional que é de 82,0. Somente em 2011, foram 405 homicídios. Infere-se, portanto, que Duque de Caxias é mais violento do que a capital. Os números são contundentes e demonstram o a perversidade do sistema capitalista e o grau violência a que são submetidos os mais pobres.
O estudo também revela que mulheres com idade entre 15 e 24 anos foram as principais vítimas de homicídio na última década. De 2001 a 2011, o índice de mulheres jovens assassinadas foi superior ao do restante da população feminina. Em 2011, a taxa de homicídios entre mulheres com idades entre 15 e 24 anos foi de 7,1 mortes para cada 100 mil, enquanto a média para as não jovens foi de 4,1. Ainda segundo o estudo, de 2001 a 2011, o índice de homicídios de mulheres aumentou 17,2%, com a morte de mais de 48 mil brasileiras nesse período. Só em 2011 mais de 4,5 mil mulheres foram assassinadas no país.
O Mapa da Violência também apontou para uma queda considerável no número de homicídios ocorridos entre a população branca (queda de 26,4%) e um aumento no numero de homicídios entre a população negra (aumento de 30,6%), ou seja, o número de homicídios ocorrido entre a população branca cai de 41% (2002) para 28,2% (2011), enquanto na população negra essa taxa, que já era bastante elevada, vai de 58,6% (2002) para 71,4% (2011).
As estatísticas são frias, mas trazem o recorte de raça e gênero que revelam o extermínio da juventude negra. O racismo está institucionalizado e transformou-se numa política genocida das elites e do aparelho estatal brasileiro que urge ser abolido. Precisamos dar um basta nas execuções sumárias, arbitrárias e extralegais que matam nossa juventude, principalmente nas favelas e periferias.
Não basta combater as desigualdades, temos que cultivar uma cultura de paz que vença o racismo, o machismo e a homofobia que legitimam a exclusão. O número elevado de assassinatos reflete não só a perversidade do sistema capitalista, mas desnuda as mazelas de nossa própria história, marcada por séculos de escravidão indígena e negra que estruturou economicamente e socialmente o Brasil.
A vida e os sonhos da juventude estão sendo interrompidos pela violência presentes nas cidades da Baixada Fluminense. Realizar uma caminhada pela paz e em defesa da vida é emblemático não só pela violência que assola a juventude, mas pela coragem e ousadia de vencer a indiferença e trazer para o debate essa temática e denunciar a negligência dos governantes frente à impunidade e a cultura da violência presente nas cidades brasileiras.
A Caminhada Franciscana pela Paz e em Defesa da Vida sinaliza para toda a sociedade a necessidade de busca por estratégias eficazes para o enfrentamento da exclusão e da violência, construindo uma cultura de paz e justiça para as futuras gerações.