O futuro da Igreja e a resposta franciscana do Sefras
07/11/2023
São Paulo (SP) – O assessor Frei Vanildo Luiz Zugno, frade capuchinho, falou sobre o futuro da Igreja aos frades do 1º Congresso de Irmãos Leigos, nesta terça-feira (07/11), no Convento São Francisco, na região central de São Paulo. “E nós, como franciscanos, seguindo o modo de ser e agir de Francisco de Assis, estando junto aos mais pobres, levando o consolo, levando o pão, a saúde, o auxílio que as pessoas precisam e dizendo para toda a sociedade: é preciso mudar isso”, disse Frei Vanildo.
E foi um dia de experiências dos frades participantes deste 1º Congresso da Conferência Franciscana do Brasil e do Cone Sul no Serviço Franciscano de Solidariedade (SEFRAS), especialmente nos serviços da região central da capital, como o atendimento à população em situação de rua, migrantes e refugiados e idosos.
Antes, no início da manhã, os frades se reuniram na Capela do Convento para pedir a Luz de Cristo que ilumina a vocação de frades menores. Cada frade acendeu a vela no Círio pascal (adornado com flores no centro da capela). “Por meio deste sinal, queremos pedir ao Senhor que se torne o centro de nossa vida pessoal, fraterna e comunitária. Que seja Ele o centro da luz que ilumina nossa semana e derrame, assim, sua luz em nossos encontros fraternos”, rezaram. Depois, levantaram as velas em sinal de louvor. “Rezamos pela história vivida de cada Província, por todos os irmãos que se transformaram em luz do Senhor”, pediram.
Segundo Frei Vanildo, estamos vivendo hoje um momento muito delicado e importante da história da Igreja Católica. “O Papa Francisco, desde que assumiu em 2013, está tentando implementar uma série de reformas para que a Igreja seja mais fraterna e sinodal em sua constituição interna, que ela seja mais missionária, uma Igreja em saída, disposta sempre a levar a Boa nova de Jesus Cristo a todas as pessoas e contribuir na construção de uma sociedade, onde os povos, as culturas, as pessoas possam viver a fraternidade social, a fraternidade universal e a amizade social”, disse o assessor.
“São três grandes temas que o Papa Francisco nos seus diversos pronunciamentos e ações vem desenvolvendo: sinodalidade, missão Igreja em saída e todos somos irmãos. São três grandes eixos que norteiam o Papado de Francisco e são três temas que mexem com a vida da Igreja e mexe com a vida de cada um de nós, que nos sentimos identificados com a Igreja Católica e que queremos contribuir com a missão da Igreja. Eles exigem mudança, uma transformação e até mesmo uma conversão de uma Igreja fechada em si mesmo, de uma Igreja preocupada só com a própria salvação ou só com aqueles que são membros da Igreja”, explicou.
Para Frei Vanildo, as mudanças nem sempre são fáceis, principalmente nesses tempos em que a sociedade também está vivendo um momento de profunda crise. “Às vezes as pessoas dizem: a Igreja está em crise. Não é só a Igreja, é o mundo todo. Vamos olhar o que está acontecendo no mundo: guerras, migração, problemas econômicos, problemas políticos, culturais, ou seja, é um momento que não só a Igreja está mudando, mas toda a sociedade está em uma transição que, às vezes, é dolorosa. É difícil sair de um modo de ser para outro modo de ser”, frisou o frade.
“Neste contexto, nós, religiosos, principalmente nós que professamos esse modo de vida, somos chamados a dar a nossa contribuição com a palavra e com o testemunho. A palavra anunciando a esperança, anunciando a Boa Nova do Evangelho, que Deus está presente com cada pessoa, com todas as pessoas, principalmente com aqueles que nossa sociedade mais sofre. Levar a eles o anúncio da Boa Nova e mostrar a eles, na prática, que ela é possível através das nossas ações. E nós, como franciscanos, seguindo o modo de ser e agir de Francisco de Assis, estando junto aos mais pobres, levando o consolo, levando o pão, a saúde, o auxílio que as pessoas precisam e dizendo para toda a sociedade: é preciso mudar isso”, acrescentou.
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“É preciso não só ajudar a pessoa que está hoje na minha porta pedindo o pão que ela precisa, mas é preciso trabalhar para que o pão não falte para mais ninguém. Porque o pão existe, a casa existe, o remédio existe, só que eles são mal distribuídos. Enquanto uns acumulam, falta para outros. Basta caminhar pelas ruas de nossas cidades, de qualquer cidade do Brasil, de qualquer pequena grande cidade e a gente vê que o grande problema no Brasil é a desigualdade. E a desigualdade é a fonte de boa parte dos males de nossa sociedade”, lamentou.
“Por isso que quando o Papa Francisco, seguindo a voz de Francisco de Assis, diz: Fratelli tutti. Todos são irmãos e irmãs, isso toca o mais profundo de nossa experiência de fé, de que em Jesus Cristo já não há mais judeu nem grego, nem escravo nem livre, nem homem nem mulher, mas todos são um em Jesus Cristo. Recuperar essa verdade fundante da nossa fé é o grande apelo que o Papa Francisco nos faz hoje e que para nós, franciscanos, remete à origem do nosso carisma, a experiência de Francisco de Assis de ser irmãos de todos, de aproximar-se de todos, de cuidar de todos e de levar a todos uma Palavra e uma mão, onde estão os bens necessários para a vida de cada pessoa”, completou Frei Vanildo.
Ainda de manhã, os frades se reuniram em grupos para ler e refletir sobre o novo documento-síntese do Sínodo 2023.
A EXPERIÊNCIA DO SEFRAS
À tarde, os frades foram divididos em grupos para visitarem as obras do SEFRAS. Um bom grupo de frades, guiados por Frei Tiago Gomes Elias, conheceu o trabalho no Chá do Padre, no momento em que colaboradores e voluntários se preparavam para distribuir as quentinhas, como é feito todo dia às 16h30. Enquanto isso, o grande salão, que foi usado no almoço, foi lavado para prepará-lo como dormitório para 100 pessoas. Os frades se dividiram nas tarefas para ajudar e conhecer um pouco esse exercício de solidariedade.
“Não conhecia o Chá do Padre. Para mim era, na verdade, um lanche. O que eu pude perceber na prática, visualizando, mais que dar um chá é na verdade refeição. O que eu percebo é uma experiência solidária que é feita entre os frades, entre pessoas de boa vontade que colaboram, independente de crença, religião, conjuntamente com os órgãos públicos e sociais da comunidade. Então, é um lugar que cuida, que acolhe, que defende a comunidade. É uma experiência. Teremos ainda outra experiência e acredito que isso nos mostra, de fato, o que é o carisma franciscano. Nós estamos aqui refletindo o que é ser frade, ser irmão menor. Percebo que há muitos irmãos passando fome e sofrendo com várias necessidades. Isso aqui é um pouco do que há de solidariedade. Para mim é uma experiência empolgante e que a gente deve olhar com zelo e descobrir meios de envolver a comunidade na ajuda dos que mais necessitam. É a verdadeira experiência de Paz e Bem”, contou Frei Flávio Noleto, da Província do Santíssimo Nome de Jesus.
Os frades foram acolhidos no Chá do Padre pela Coordenadora Léia Lobo, que há trabalha no SEFRAS há 5 anos. “Antes trabalhava com migrantes e refugiadas na Casa de Assis”, contou.
Ela confessou que é “franciscana de coração” e que admira muito os franciscanos. “Acho que por isso assumi o trabalho com muito gosto. Eu gosto do trabalho dos franciscanos porque são muito pés no chão, são verdadeiros. O pobre, para mim, é questão dos franciscanos. Trabalhar na rua realmente ali com o povo. É também a minha causa, então nisso eu fico muito confortável por ser católica. Acho que aproxima muito de minha fé que, muitas vezes, a gente não está dentro da igreja, mas estando ali com os pobres, estamos vivendo a espiritualidade eucarística. Estamos vivendo no processo de evangelização, que é próprio dos franciscanos”, disse.
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Os participantes do serviço já conhecem os frades, segundo Léia. “Mesmo sem o hábito já conhecem eles e respeitam o trabalho deles, que é muito antigo. Muitas vezes essa população de rua vem aqui, já alimentada, simplesmente porque tem necessidade de ser ouvida”, explicou a coordenadora.
Nesta quarta-feira, 8 de novembro, os frades continuam as reflexões com a assessoria de Frei Vanildo.
Moacir Beggo