Missão de Angola em festa com três ordenações presbiterais
04/01/2022
Com 31 anos de criação, a Fundação Imaculada Mãe de Deus de Angola estará em festa no dia 15 de janeiro: serão ordenados presbíteros Frei Canga Manuel Mazoa, Frei Mário Sampaio Pelu e Frei Santana Sebastião Cafunda.
Eles serão ordenados às 9h30, no Kimbo São Francisco, em Luanda, pela imposição das mãos de Dom Filomeno do Nascimento, Arcebispo de Luanda.
Eles escolheram como lema desta ordenação: “Apascentai o rebanho de Deus que vos foi confiado” (1Pd 5,2).
Atualmente, a Fundação Imaculada tem seis sacerdotes angolanos. Segundo o Relatório ao Capítulo Provincial, a Fundação tem hoje 77 frades angolanos.
CONHEÇA OS TRÊS FRADES ORDENANDOS
FREI CANGA MANUEL MAZOA
Natural de Kwanza Norte, Ndalatando, onde nasceu no dia 23 de março de 1993. Filho de Manuel Canga Mazoa e Domingas Francisco João, tem dois irmãos: Malamba e Lemos. Vem de uma família de orientação católica. O pai foi engenheiro e professor e a mãe bancária.
Site Franciscanos – Quando se deu o discernimento vocacional?
Frei Canga – Difícil dizer quando começou, mas até onde tenho consciência foi em uma das conversas que tive com minha avó. Ela me disse que tinha um tio no seminário diocesano da minha cidade. E surgiu a curiosidade de saber o que era o seminário e como era a vida dos que moravam nele. Acho que é daí que a semente da vocação começou a ser despertada e mais tarde veio a oportunidade de aprofundar com os Frades Menores.
Site Franciscanos – E como conheceu os Frades Menores?
Frei Canga – Eu conheci os Frades Menores através da minha avó, que me fez o convite de conhecer as Irmãs Clarissas do Kimbo São Francisco, no Palanca. Até aqui não conhecia nada sobre os franciscanos. Após a celebração no Mosteiro das Clarissas, a minha avó me desafiou a contar todos os meus sonhos, desejos, a qualquer irmã Clarissa, pois julgava ela que as Clarissas falavam face a face com Deus. Tinham o celular de Deus e a qualquer momento podiam fazer chegar os meus sonhos até Ele e vê-los realizados o mais rápido possível. Fui apressadamente falar com as irmãs e daí acabei conhecendo o outro lado do carisma franciscano, os Frades Menores. As irmãs disseram que lá era apenas um mosteiro feminino, mas que se eu fosse do outro lado do quintal, poderia falar com os frades. Então, tive a oportunidade de conversar com Frei Afonso Katchekele e Frei Laerte de Faria dos Santos. A partir daí, fiz a preparação vocacional e, em 2008, ingressei no Seminário Monte Alverne, Malange, onde hoje sou vice-orientador.
Site Franciscanos – Então, sua ordenação será um momento feliz para sua avó?
Frei Canga – Infelizmente, minha santa vovozinha faleceu tem um mês, ela que muito desejou e esperou por este momento, não poderá estar presencialmente, mas acredito que lá do céu ela estará me acompanhando, cantando e entoando hinos de louvor e ação de graças.
Site Franciscanos – Por que escolheu a vida religiosa franciscana?
Frei Canga – Os frades me acolheram muito bem quando fui pela primeira vez bater à porta deles.
Site Franciscanos – Como se define Canga Manuel Mazoa?
Frei Canga – Alegre e apaixonado pela vida. Eu gosto de viver e vivo com alegria e intensidade todos os instantes da minha vida. Até os momentos tristes eu procuro celebrá-los, na perspectiva de que, no final, eles terão um desdobramento feliz.
Site Franciscanos – Como está a Fundação em termos de vocações?
Frei Canga – Vocacionalmente segue vigorosa. Deus tem realmente nos abençoado com muitas vocações e com um nível aceitável de perseverança. Isso pede mais responsabilidade da parte de todos, de modo a continuar formando com qualidade e solidez o frade que nós desejamos a fim de responder aos desafios da Ordem e da Igreja.
Site Franciscanos – Como está sendo sua experiência como vice-orientador no Seminário de Malange?
Frei Canga – Uma experiência surpreendente que destaco em três pontos: O primeiro, convivência mais intensa com os confrades que já encontrei no Seminário, respectivamente: Frei Ermelindo, colega de turma do Noviciado; e Frei André Luiz Henriques, que já convivemos durante um ano no tempo da Filosofia no Palanka, Luanda. O segundo, gratuidade. Oportunidade de restituir com amor e criatividade tudo que me foi dado com muito carinho ao longo do processo da formação inicial. E o terceiro, a chance de ser irmão com os seminaristas: aprender que a formação é mais do que transmitir conteúdo. Formação é tudo: é presença, convivência, silêncio, oração e trabalho. É ser irmão. É aprender ensinando, segundo a perspectiva da partilha de dons.
Site Franciscanos – Há espaço no mundo de hoje para o carisma franciscano?
Frei Canga – Felizmente nosso carisma continua sendo atual, atuante e profético, na Igreja e no mundo. Atualmente, onde a bandeira mais levantada e suscitada é a ‘eulatria’, a sacralização do eu, de alguma forma o carisma franciscano – hoje muito divulgado e querido pelo Papa Francisco -, pode ser uma proposta de saída do autorreferenciamento para o reencontro daquilo que sempre fomos: alteridade, ou melhor, existir para o outro. Na compreensão de que todos somos irmãos, teias de relações e nunca ilhas.
Site Franciscanos – Que mensagem deixaria para quem quer seguir os passos de Francisco e Clara?
Frei Canga – Francisco e Clara são modelos seguros e comprováveis que nos levam a Cristo. Porém, não a qualquer Cristo, mas àquele Cristo pobre, humilde e crucificado. Pobre porque nos abre para o Deus da vida; humilde porque nos leva ao encontro da nossa verdadeira essência, o humus (terra); e crucificado, porque nos abre aos outros. Portanto, ser franciscano é um caminho de felicidade, construído todo dia na relação saudável com Deus, com os irmãos e com a criação.
FREI SANTANA SEBASTIÃO CAFUNDA
Natural de Malange (Malanje), mas cresceu em Luanda. Seus pais são Belege e Antonica. Vem de uma família cristã que desde cedo procurou formar os filhos nesta ética. “Somos cinco irmãos, três deles com suas outras famílias constituídas”.
Site Franciscanos – Quando se deu o seu discernimento vocacional?
Frei Santana – Penso que se deu aos poucos, na medida em que, por um lado, fui me aproximando dos vocacionados de minha paróquia, acompanhando, no início, os meus amigos em seus ambientes. Uns curiosos e outros decididos a conhecer mais de perto a vida religiosa consagrada, assim como a vida no seminário. E por outro lado, o testemunho de vida de um religioso consagrado que conheci também foi muito importante. Este religioso seria meu confrade anos depois.
Site Franciscanos – Por que escolheu a vida religiosa franciscana?
Frei Santana – Sempre gostei de estar entre amigos, conversar um pouco, compartilhar a vida de maneira muitas vezes bem-humorada. E o frade de quem falei há pouco manifestava uma forma de vida próxima a isso que chamo de “estar junto”. Não mais, entre amigos exclusivamente, mas entre irmãos. E manifestava esta forma de maneira contagiante. A forma como lidava com as pessoas, em geral, era muito acolhedora e fraterna. O mesmo ocorria na forma como celebrava a Eucaristia. Via nisto tudo uma forma concreta e muito bonita de viver aquilo que aprendia na Igreja como vivência do “reino de Deus”. Nesta ocasião, eu participava da vida da Igreja na Paróquia de Santa Ana, comunidade São José (atual matriz da Paróquia de São Lucas que os frades atendem).
Site Franciscanos – Como se define Santana Cafunda?
Frei Santana – Um misto: alegre, brincalhão, silencioso e observador.
Site Franciscanos – Há espaço no mundo de hoje para o carisma franciscano?
Frei Santana – Sim, com certeza. Num mundo de muitos esperançosos e outros tantos desistindo de suas esperanças, a vivência do carisma franciscano se torna um sinal de que ainda vale a pena acreditar no reino anunciado por Jesus Cristo e traduzido de muitas formas por Francisco de Assis para os de seu tempo. E hoje, para nós. Num mundo de crescente isolamento social e falta da cultura da vizinhança, o ideal de vida fraterna testemunhada pelos frades é sinal de que vale apenas acercar-se de pessoas, compartilhar a vida, etc. Num mundo de crescente indiferença interpessoal, particularmente a indiferença com os mais pobres, o carisma franciscano sinaliza que todos somos iguais diante de Deus e nada mais. Por isso, o outro importa, nos desafia, conflitua e se torna necessário para o nosso crescimento enquanto pessoas.
Site Franciscanos – Que mensagem deixaria para aqueles que querem seguir os passos de Francisco e Clara?
Frei Santana – Atreva-te experienciar! É desafiante, mas muito interessante.
FREI MARIO SAMPAIO PELU
Natural de Benguela, bairro Cotel, onde nasceu no dia 20 de agosto de 1988. Cresceu com os cuidados da mãe Antónia Nondjamba e de suas irmãs que muito contribuíram para sua educação e formação acadêmica. O pai Adriano Pelu, de feliz memória, partiu para casa de Deus muito cedo. A educação religosa recebeu dos familiares, especialmente da mãe cristã católica muito devota. “Ela é para mim uma heroína, como muitas mulheres angolanas, que tudo fazem para que não falte nada em sua mesa. Hoje, me sinto feliz por aprender muito com ela, principalmente a se relacionar bem com os outros. Como mãe, cumpriu sua missão e está na glória de Deus pai”, conta Frei Mario. Tem 11 irmãos e ocupa o 9º lugar.
Site Franciscanos – Quando se deu o discernimento vocacional?
Frei Mário Pelu – Foi no ano 2008 por intermédio de um colega Cornélio do ensino médio que entrou no seminário, despertou em mim o chamamento de Deus. Eu, estava longe da Igreja na adolescência, abandonei completamente a participação da vida ativa da Igreja. Agora, considero-me filho pródigo.
Agradeço a Deus por ter me interpelado na pessoa dos meus colegas, começando pelo meu colega Cornélio, que me explicou como fazer parte do grupo vocacional e entrar no seminário, e mais tarde, o Stfany que me levou à igreja e me apresentou no grupo vocacional da missão de Nossa Senhora de Nazaré em Benguela e, consequentemente, conheci o carisma franciscano e os frades. Desde sempre recebi o apoio incansável dos meus familiares na minha opção vocacional, e dou graças a Deus por tudo.
Site Franciscanos – E como conheceu os Frades Menores?
Frei Mário Pelu – Eu conheci os frades por meio das Irmãs Franciscanas Missionárias de Maria, na missão de Nossa Senhora de Nazaré, em Benguela. Na diocese não há presença da Ordem dos Frades Menores. As irmãs franciscanas fazem um belo trabalho no acompanhamento vocacional e promovem a espiritualidade franciscana na Diocese. O primeiro frade Menor que conheci foi Frei Afonso Katchekele, em 2009, numa visita pastoral vocacional.
Site Franciscanos – Por que escolheu a vida religiosa franciscana?
Frei Mário Pelu – Escolhi a vida religiosa franciscana porque gosto da vida missionária e os frades não têm morada fixa, são forasteiros, e também, a espiritualidade franciscana de viver o evangelho. Os frades não têm uma atuação específica para testemunhar o evangelho, se compararmos com as demais congregações ou ordens. Isto me fascinou quando minha promotora vocacional, Irmã Afonsine Kahembe, apresentou para nós cada carisma. Foi uma experiência sem igual.
Site Franciscanos – Há espaço no mundo de hoje para o carisma franciscano?
Frei Mário Pelu – O carisma franciscano é sempre atual; é o evangelho gritando nas praças públicas, pela dignidade da pessoa humana, pelo cuidado da casa comum, por um mundo mais justo, fraterno e de paz. A espiritualidade franciscana congrega tudo e todos. É da fraternidade universal; todos somos irmãos, independentemente das nossas diferenças.
Site Franciscanos – Que mensagem deixaria para quem quer seguir os passos de Francisco e Clara?
Frei Mário Pelu – A mensagem que deixo é de encorajamento. Que as pessoas não tenham medo de tomar decisões, por mais que se erre na escolha, há sempre um caminho para recomeçar. Deus sempre abre um novo caminho até que se acerte a direção. Portanto, ser franciscano é uma opção para você, porque Francisco e Clara nos apontam para Cristo, pobre, humilde e crucificado.