“O lugar do outro – História religiosa e mística”, entre os lançamentos da Vozes
06/10/2021
O lugar do outro – História religiosa e mística
O historiador Michel de Certeau aborda, nesta obra, um objeto privilegiado: a história religiosa nos séculos XVI e XVII. O autor questiona a confusão, o fervor, os textos e as reformas dos crentes contestadores e inquietos, marcados pela fratura da Cristandade. Ao proceder à análise de obras exemplares (Henri Bremond em Histoire littéraire du sentiment religieux; e Robert Mandrou sobre os processos de feitiçaria), ele mostra como o seu ponto de vista é diferente dessas abordagens: nele, a elucidação historiográfica não está separada da pesquisa histórica; daí, a sua insistência sobre a alteridade do passado, sobre a necessidade de uma distância crítica e sobre um respeito sem cumplicidade. Servindo-se de uma familiaridade incomum com os escritos de teologia e de espiritualidade, o historiador M. de Certeau acaba por diversificar os registros: ora um personagem central ocupa a cena (René d’Argenson, intendente do rei, ou Carlos Borromeu, dedicado inteiramente à implementação da reforma tridentina da Igreja, entre Roma e Milão); ora trata-se de um momento decisivo para uma instituição (a Companhia de Jesus, sob o mandato de seu 5º Superior Geral, Claudio Acquaviva) ou um texto fundador (os Ejercicios espirituales de Santo Inácio de Loyola). Em alguns ensaios, o historiador faz ressurgir o emaranhamento de círculos devotos desejosos de reformar a Igreja, além de uma multiplicidade de redes que coletam cartas e relatos nos quais ressoa o eco apaixonado de debates místicos. E, em todos, ele insufla vida e significação ao procurar o lugar do outro, na alteridade de Deus, no conflito provocado pelas diferenças entre crentes e no encontro com outras sociedades. Daí, o olhar voltado
para uma antropologia incipiente: com Montaigne que julgava os canibais do Brasil, recebidos na Corte Francesa, comparáveis aos súditos do rei; e com Lafitau que iria inscrever os hábitos e costumes dos ameríndios na longa história da humanidade.
Quando alguém questionava Michel de Certeau a respeito de sua identidade profissional – intrigado com a sua maneira de transpor as fronteiras entre as disciplinas, de questionar os pressupostos e de pôr em prática os métodos das mesmas sem se deixar confinar nem se instalar aí permanentemente –, ele respondia que era um historiador, mais precisamente um historiador da espiritualidade.
A própria natureza de seu objeto de estudo e a maneira como ele tinha se apegado à sua história haviam inspirado suas viagens: “Sou apenas um viajante. Não só porque viajei, durante muito tempo, através da literatura mística (e este tipo de viagem exige ser modesto), mas também porque – tendo feito, no tocante à história ou a pesquisas antropológicas, algumas peregrinações ao redor do mundo – aprendi, no meio de um tão grande número de opiniões, que eu não passava de um particular entre muitos outros, limitando-me a relatar alguns dos itinerários traçados – na diversidade de numerosos países, passados e presentes – pela experiência espiritual”.
Na alegria: o modo de vida do cristão
Ser cristão é ter alegria no coração, porque mesmo na dor, nos sofrimentos, ele precisa encontrar a paz. Não ter medo que somente o mal aconteça, mas tentar reencontrar a quietude que o mundo pode oferecer. Segundo o Papa Francisco, ter alegria é pedir o dom do Espírito Santo, buscar a paz que o Senhor nos dá. Apenas com a força de Deus, com a força do Espírito Santo, podemos viver a alegria cristã, sabendo admirá-la, e nos salvar de viver apegados a outras coisas, até mesmo às coisas mundanas.
Por isso, devemos pedir ao Senhor que nos dê a afeição diante dele e das inúmeras riquezas espirituais que sempre nos concedeu. Aprender a lidar com as dificuldades com paz no coração, não buscar uma alegria que, muitas vezes, pode nos entristecer, por ser temporária, que promete algo bom, e, no fim das contas, nada tem a nos oferecer.
Os temas tratados neste livro podem levar o leitor a buscar algo possível, a reencontrar o que, de fato, realmente importa.
“Um cristão vive na alegria. Mas onde está essa alegria nos momentos mais tristes, nos momentos do sofrimento? Pensemos em Jesus na Cruz: estava alegre? É claro que não! Mas certamente estava em paz! De fato, no momento da dor e da provação, a alegria se transforma em paz. Ao contrário, no momento da dor, uma diversão se transforma em escuridão, em trevas.
Eis por que o cristão sem alegria não é cristão; o cristão que vive sempre na tristeza não é cristão. Os cristãos que, no momento das provações, das doenças, de tantas dificuldades, perdem a paz carecem de alguma coisa.
Não devemos ter medo, mas alegria: não ter medo é pedir a graça da coragem, a coragem do Espírito Santo; e ter alegria é pedir o dom do Espírito Santo, mesmo nos momentos mais difíceis, com aquela paz que o Senhor nos dá”.
O novo rosto do clero
Este livro é o resultado de uma pesquisa de campo, que buscou identificar o perfil dos “padres novos” no Brasil, em relação à sua visão do mundo de hoje, da Igreja e do exercício do próprio ministério. Os dados levantados são oriundos de uma consulta a presbíteros, leigos(as), jovens, seminaristas e religiosas de três dioceses, em cada uma das cinco regiões do país. A análise preliminar dos resultados, que hora se apresenta, foi feita por teólogos-pastoralistas e cientistas sociais de renomadas universidades do país.
Entre outros, a pesquisa mostra os “padres novos” em meio a práticas pastorais e comportamentos pessoais, por um lado ligados aos valores da “pós-modernidade” e às novas tecnologias e, por outro, a devocionismos e tradicionalismos nostálgicos de um passado sem retorno. Com isso, se constituem em um sujeito ambíguo e incômodo, entre o distanciamento da renovação do Vaticano II e da tradição eclesial libertadora e inovações por eles veiculadas a serem levadas em consideração.
Nas últimas décadas tem irrompido no seio do catolicismo brasileiro e para além dele um novo perfil de presbíteros, denominados “padres novos”, que por suas práticas pastorais e comportamentos pessoais têm promovido na esfera da experiência religiosa o deslocamento do profético para o terapêutico e do ético para o estético. Isso tem provocado tensões e entraves nos processos pastorais em curso, tanto entre os presbíteros nas dioceses como em relação às religiosas e aos leigos e leigas nas paróquias onde atuam. Entretanto, o novo perfil de presbíteros na Igreja Católica não é um fenômeno a ser desqualificado ou desprezado. Ao contrário, ainda que em muito se vincule a posturas pré-conciliares e à denominada “pós-modernidade líquida”, seu modo de ser e de agir questiona práticas eclesiais correntes, põe em xeque comportamentos costumeiros, desafiando um estudo para além de leituras ligeiras ou pragmáticas do fenômeno. Este livro apresenta parte dos dados levantados por uma pesquisa de campo levada a cabo em todo o território nacional, seguida de uma análise dos resultados, ainda que de modo preliminar, por parte de renomados teólogos-pastoralistas e cientistas sociais.
A vida lógica da alma
“O surgimento da tradução portuguesa deste livro é uma ótima oportunidade para abordar dois tópicos que são essenciais para o entendimento da sua tese e propósito. Um dos tópicos se refere à ideia da ‘vida lógica da alma’, na qual a palavra ‘lógica’ tem frequentemente sido um obstáculo para um acesso genuíno a esta obra. O outro tópico é a questão acerca de qual foi a motivação fundamental para a escrita deste livro ou, para dizer de outro modo, qual é a questão que está em jogo nele.
Quando as pessoas escutam a frase ‘a vida lógica da alma’, a primeira ideia que frequentemente parecem ter é que ‘lógica’ se refere à lógica formal, até mesmo à lógica matemática, e portanto a frase sugere uma abordagem abstrata, estritamente racionalista da vida psíquica, talvez até mesmo a tese de que a vida da alma segue as regras do raciocínio correto. Se fosse esse de fato o significado, a psicologia dificilmente seria possível. Como tal abordagem poderia fazer justiça à qualidade irracional dos rituais assim como da neurose e de outros sintomas psíquicos, à esfera inteira dos afetos humanos, dos desejos, dos sonhos, à profundidade poética e numinosa das imagens míticas e em geral ao caráter misterioso da vida da alma? Grandes áreas da realidade anímica seriam marginalizadas.”
A publicação do livro A vida lógica da alma de Wolfgang Giegerich permite ao leitor brasileiro ter acesso à obra que redefiniu os rumos dos estudos junguianos contemporâneos. Com a proposta de uma perspectiva de leitura solidamente crítica sobre os fundamentos teóricos dos textos de C.G. Jung e James Hillman, Giegerich conduz o exercício do pensamento junguiano para um outro patamar teórico e clínico e inaugura o que foi denominado por David Miller como “a terceira onda do movimento junguiano”.
Com esta obra, rigorosa nos argumentos e sólida na sua construção, Giegerich nos convida a considerar que a alma possui sua lógica própria e esta deve ser, por excelência, o fator que deve orientar toda e qualquer investigação de qualquer fenômeno psíquico por aquele que se orienta pelas proposições junguianas.
Giegerich nos ensina que a tarefa ética dentro do campo dos estudos junguianos é coagular amáxima que sustenta sua obra: “com Jung e para além de Jung”.
Marcus Quintaes
Os Vikings – “Idade Média, idade da violência”
De antiga, a imagem se tornou corriqueira. Ela surge como a mais espontânea das opiniões. Empresta forma a julgamentos tão diversos quanto recorrentes: sobre um passado remoto, mas igualmente sobre o presente que respiramos. Funciona como código comum para rotular atitudes, comportamentos e ideias de ontem e de hoje. Na busca por figuras que permitam definir as tragédias e misérias cotidianas, reduzimos o medieval à etiqueta de “violento”. O fazemos de diversas maneiras, lançando mão de numerosos temas. Poucos tão eloquentes quanto Os vikings. Grande parte da força embutida no nome advém da certeza de que ele designa um relacionamento singular com a capacidade de provocar e administrar dor, sofrimento, morte. Durante o século IX, em razão dos vikings, uma violência visceral, assimétrica e imprevisível supostamente desembarcou nos litorais e rios da Cristandade latina – o tipo de violência que mais de um milênio depois ainda assombraria a modernidade capitalista. Contudo, será que, com vistas à essa distância temporal, as coisas são tão claras?
Será simples enxergar as características e os significados da violência atribuída às “gentes do norte”? Uma vez que a compreensão sobre “os vikings” situa e configura os modos de pensar a Idade Média, a dúvida vai além: conhecemos a violência medieval? Sabemos percebê-la? Este livro apresenta uma visão inquieta, uma leitura agitada pela constatação de que nas respostas dedicadas a um tempo longínquo enfrentam os dilemas radicalmente atuais.
OS VIKINGS: NARRATIVAS DA VIOLÊNCIA NA IDADE MÉDIA é um livro sobre história da violência. Percorrendo as narrativas latinas a respeito do contato com os vikings ao longo do século IX, estas páginas miram questões historicamente abrangentes: por que a violência, sobre a qual paira a suspeita de ser errática e ocorrer como força cega, surge e ressurge como resultado de uma lógica específica? Concretamente, o que era essa lógica? Resultava de que relações, decorria de que causas, acarretava que consequências? Como derramamento de sangue, torturas, conflitos e guerras envolvendo vikings eram inscritos no conjunto das experiências cotidianas? Em termos ainda mais concisos: o que foi a violência viking no Ocidente medieval?
O Caminho do Silêncio
Nosso coração é um receptor altamente sensível, apto a escutar através de todos os nossos sentidos. Não só aquilo que ouvimos, e sim tudo o que vemos, saboreamos, tocamos ou cheiramos, vibra, no âmago do nosso ser, com o cântico de Deus. Estar em sintonia com esta canção, impregnado de gratidão, é o que chamo de cantar de volta. Tal atitude de oração tem proporcionado uma alegria imensa a todos os meus sentidos e ao meu coração.
Um mundo interior de oração inteiramente diferente, no qual também me sinto em casa, é aquele para o qual o silêncio abre a porta – um silêncio não somente notado pelos ouvidos, mas também uma serenidade do coração, uma quietude lúcida e íntima, semelhante à calmaria de um dia sem vento em pleno inverno. Este silêncio resplandece como um raio de sol sobre a neve intocada, como em alguns dias de minha infância de que me recordo, nos Alpes austríacos.
Ou como o breve silêncio entre o clarão do relâmpago e o estrondo do trovão, os segundos em que prendemos a respiração. Nem sempre encontro a chave, o espaço interior límpido do silêncio. Porém, quando isto acontece, simplesmente entro. O entrar ali já é uma oração.
Na espiritualidade cristã, tão forte é a ênfase na Palavra que até alguns fiéis cristãos mal têm consciência de que há, na sua própria tradição, outros mundos de oração a explorar. Um deles é conhecido como “Oração do Silêncio”.
A atualidade do manifesto comunista
A questão de uma relevância contínua da crítica da economia política de Marx em nossa era do capitalismo global deve ser respondida de uma maneira propriamente dialética: ainda é, completamente, não apenas a crítica da economia política de Marx, seu rascunho da dinâmica capitalista; mas é preciso até mesmo dar um passo além e reivindicar que é apenas hoje, com o capitalismo global que, para dizer em hegelês, a realidade alcançou sua noção. Quando a realidade alcança plenamente sua noção, esta noção em si precisa ser transformada. Nesse lugar reside o paradoxo propriamente dialético: Marx não estava simplesmente errado, ele estava frequentemente certo, mas muito mais literalmente do que ele mesmo esperava.
Assim, o que temos como resultado? Devemos colocar por escrito que O Manifesto Comunista é um documento interessante do passado e nada mais? Em um paradoxo propriamente dialético, o próprio impasse e as falhas do comunismo do século XX, impasses que estavam claramente demarcados nas limitações do próprio O Manifesto Comunista, portavam naquela época o testemunho de sua atualidade: a solução clássica marxista falhou, mas o problema permanece.
Discurso sobre a origem e os fundamentos da desigualdade entre os homens
“Eu teria buscado um país onde o direito de legislação fosse comum a todos os cidadãos; pois quem pode saber melhor do que eles sob quais condições lhes convém viverem juntos em uma mesma sociedade? Mas não aprovaria plebiscitos semelhantes aos dos romanos, nos quais os chefes de Estado e os mais interessados na sua conservação eram excluídos das deliberações das quais frequentemente dependia sua salvação, e nos quais, por uma absurda inconsequência, os magistrados eram privados dos direitos usufruídos pelos cidadãos comuns”.
O comunismo hoje não é o nome de uma solução, mas o nome de um problema, o problema dos bens comuns em todas as suas dimensões – os bens comuns da natureza como a substância de nossa vida, o problema de nossos bens comuns biogenéticos, o problema de nossos bens comuns culturais (“propriedade intelectual”) e, por último, mas não menos importante, os bens comuns como o espaço universal da humanidade a partir do qual ninguém deve ser excluído. Seja qual for a solução, ela terá que lidar com esses problemas.
Discurso sobre a origem e os fundamentos da desigualdade entre os homens
“Eu teria buscado um país onde o direito de legislação fosse comum a todos os cidadãos; pois quem pode saber melhor do que eles sob quais condições lhes convém viverem juntos em uma mesma sociedade? Mas não aprovaria plebiscitos semelhantes aos dos romanos, nos quais os chefes de Estado e os mais interessados na sua conservação eram excluídos das deliberações das quais frequentemente dependia sua salvação, e nos quais, por uma absurda inconsequência, os magistrados eram privados dos direitos usufruídos pelos cidadãos comuns”.
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