Franciscanos lançam chamado nacional contra a fome
28/10/2020
São Paulo (SP) – Depois de alimentar quase 5 mil pessoas por dia nas ruas do Rio de Janeiro e São Paulo por sete meses, os frades do Serviço Franciscano de Solidariedade (Sefras) realizaram um ato para doar a refeição de número 1 milhão. O evento também foi palco do lançamento do relatório “A Fome Como Prato Principal”, que faz um retrato da fome durante a pandemia e aponta para uma agenda pública de seu combate.
Este momento histórico em São Paulo teve a participação do Ministro Provincial da Província da Imaculada Conceição, Frei César Külkamp, do Vigário Provincial e Secretário para a Evangelização, Frei Gustavo Medella, e do Padre Júlio Lancellotti, da Pastoral do Povo da Rua. Participaram autoridades, como a secretária Berenice Giannella, da Secretaria Municipal de Assistência Social – SMADS, a secretária Claudia Carletto, da Secretaria de Direitos Humanos e Cidadania, e Silvia Salgado, representando todos parceiros, voluntários e doadores.
“No início do isolamento, decidimos não fechar nossas portas para acolher, cuidar e defender aqueles que mais precisavam, como a população em situação de rua e desempregada nas ruas de São Paulo e Rio de Janeiro. E nos deparamos com o cenário dramático da fome, que veio antes da febre da Covid-19”, lembra o Frei José Francisco de Cássia, diretor-presidente Sefras.
Segundo ele, a procura por alimento era tão grande que os frades montaram emergencialmente uma tenda de doação de marmitas no Largo São Francisco, no centro de São Paulo. Foi o início de uma ação de enfrentamento à fome, que chegou a alimentar 6 mil pessoas diariamente e, no dia 27/10, completou 1 milhão de refeições distribuídas.
Com 2 tendas franciscanas – uma segunda foi erguida no Largo da Carioca (centro do Rio de Janeiro) –, cinco cozinhas sociais e outros seis polos de distribuição de alimentos, que incluíram 22 mil cestas básicas e kits de higiene e proteção, a Ação Franciscana de Enfrentamento à Pandemia foi uma resposta à emergência social, que está na base do Serviço Franciscano de Solidariedade como organização humanitária.
Embora fosse uma ação de emergência, os impactos duradouros da pandemia, em relação à desigualdade de renda e aumento da pobreza nos grupos já vulneráveis, demonstraram que a fome é um fator a ser combatido com ações de médio e longo prazo. “A alimentação passa, então, a ser o eixo principal de atuação dos franciscanos, em especial aos nosso públicos de atendimento: população em situação de rua, imigrantes e refugiados, idosos sozinhos e crianças de comunidades pobres e ocupações”, garante Frei José Francisco.
Já no Largo da Carioca, centro da capital fluminense, o ato contou com a participação das chefs Flavia Quaresma, uma das mais importantes do Brasil, e Anna Ribeiro, líder da cozinha do Gastromotiva (organização social parceira do Sefras), e dos chefs Frederic Monnier, representando a gastronomia e a comunidade francesa, e João Diamante, que também administra o projeto social “Diamantes na Cozinha”.
“A solidariedade que presenciamos durante todos esses meses provam que um grande número de pessoas está disposto a acolher, a cuidar e defender dos mais desvalidos, dos mais invisíveis. É essa solidariedade que também nos move e que vale vidas”, considera o Frei José Francisco.
Relatório
Os sete meses de intenso trabalho e aprendizados deram origem ao relatório “A Fome Como Prato Principal – Um retrato do enfrentamento à fome durante a pandemia no Brasil”. “Mais do que um recorte sobre o trabalho franciscano no período, o documento é um chamado à ação, um compromisso que pode ser assumido por todos no combate à fome”, afirma Fabio Paes, coordenador de Desenvolvimento Institucional do Sefras.
O relatório traz um Mapeamento de Boas Práticas na produção de alimentos e no acesso a estes ao longo da pandemia, pesquisas recentes sobre o cenário da insegurança alimentar no Brasil e no mundo. Some-se a isso, depoimentos de representantes de comunidades quilombolas e de pequenos agricultores no interior do Brasil, que mostram como a fome tem atingido esses grupos, e as análises da socióloga Regina Novaes, de Frei Betto, da historiadora Adriana Salay Leme e do coordenador do Movimento Fé e Política, Selvino Heck.
Um dos grandes destaques da publicação, no entanto, é o lançamento da Frente Nacional de Erradicação da Fome, que será formada por diversos setores da sociedade, como movimentos sociais, chefs renomados, intelectuais, gestores públicos e organizações não governamentais. Todos são bem-vindos na Frente e quem tiver interesse em fazer parte, basta acessar www.fomebr.org.br.
Espera-se que esse grupo, liderado pelos franciscanos, contribuam para o Relatório Popular Alternativo sobre o Enfrentamento à Fome no Brasil, que fará um balanço anual sobre o tema no país a partir de 2021.
Imagens e texto do Setor de Comunicação do Serviço Franciscano de Solidariedade