Frei Medella pede cuidado integral pela vida
25/06/2019
São Paulo (SP) – A Paróquia São João Batista, em São João de Meriti (RJ), celebrou com muita alegria a festividade de seu Padroeiro nesta segunda-feira (24/06). Durante todo o dia foram celebradas quatro Missas, além da Adoração ao Santíssimo, Terço da Misericórdia e Procissão pelas ruas do bairro.
Para encerrar o dia solene, foi celebrada uma Missa campal, presidida pelo Vigário Provincial, Frei Gustavo Medella, e concelebrada pela Fraternidade local: Frei Vanderley Grassi, guardião e pároco; Frei Cid Tadeu Passos e Frei Adriano Freixo Pinto, vigários paroquiais; Frei Gaudêncio Sens, atendente conventual e Frei Airton da Rosa Oliveira, do Serviço de Animação Vocacional local.
Em sua homilia, Frei Gustavo apresentou quatro olhares sobre a figura de São João Batista e pediu com voz forte por terra, teto e trabalho, fazendo um apelo pelo fim da violência e do discurso armamentista. Falou ainda do desrespeito às religiões de matriz africana e da importância da valorização da vida em todas as suas fases.
Em primeiro lugar, o frade apresentou o Padroeiro como o elo entre o Antigo e o Novo Testamento e o santo da promoção da vida integral. “São João Batista nos chama a atenção para o cuidado com a vida de uma maneira integral, buscando que todos sejam atendidos em suas necessidades mais diversas”, indicou o Vigário.
Recordando as palavras do Papa Francisco, Frei Gustavo chamou a atenção para a importância do cuidado com os extremos da existência: a infância e a velhice. O frade exaltou o serviço realizado por Frei Gaudêncio na Casa de Amparo Pró-Vida, que trabalha na prevenção do aborto. “São João Batista nos ensina o direito à vida como algo sagrado desde o seu primeiro início, quando ainda no ventre de sua mãe exultou de alegria no Senhor. Todos nós fomos criados para exultar de alegria no Senhor”, afirmou Frei Gustavo. Ele recordou também o outro extremo da existência, os idosos, na figura dos pais do Padroeiro, Isabel e Zacarias. O pregador pediu reconhecimento pelos avós e bisavós, que mesmo com suas forças diminuídas, por conta da idade, ainda cuidam dos netos e bisnetos.
Os três “T” apontados pelo Papa Francisco: terra, teto e trabalho
Em sua homilia, o pregador denunciou, assim como João Batista, a desigualdade social, a violência e o desemprego.
Recordando as palavras do Pontífice durante o encontro com movimentos sociais em Santa Cruz de la Sierra, na Bolívia, em 2015, Frei Gustavo falou da tríade “terra, teto e trabalho”. “Todos têm direito a ter uma terra, um nome, uma família, educação”, recordou o frade, acrescentando que a educação deve ser uma prioridade para as famílias e para os governantes. Frei Gustavo pediu escolas melhores, que proporcionem aprendizado e crescimento em todos os aspectos da vida. “É o futuro das crianças que garante a nossa existência”. E lamentou do drama das pessoas que passam fome: “É muito triste pensar que tem gente que almoça sem saber se vai conseguir jantar. Que dorme sem jantar, porque precisa dividir o pouco que tem. Deus não criou ninguém para passar por isso”.
Frei Gustavo ergueu a voz ao falar sobre a cultura da violência e do desemprego. Para o frade, a segurança necessária não nasce das armas, mas da educação, da promoção da justiça e da criação de oportunidades. “A arma serve para proteger quem come de quem não tem o que comer? Quem não tem mais onde colocar dinheiro de tanto que possui e acumulou, daquele que não tem um real por dia?”, questionou. E ressaltou a importância de um emprego digno, que garanta não somente o sustento, mas a recuperação da autoestima. “São João Batista, este povo quer trabalhar, este povo precisa trabalhar. O trabalho é um direito fundamental, mexe com a autoestima da pessoa, com aquilo que tem de mais sagrado”, pediu o frade, olhando para a figura do Padroeiro. A fala foi confirmada pelos presentes através de uma salva de palmas!
Solidariedade às vítimas da intolerância religiosa
O pregador recordou que São João Batista é também o Padroeiro dos que são insultados por causa de sua fé e falou dos inúmeros casos de invasão e ameaças às religiões de matriz africana. O Rio de Janeiro é um dos Estados do Brasil que registrou o maior número de ataques. Neste ano, a Baixada Fluminense, onde está localizada a Paróquia São João Batista, registrou 60 casos. No restante do Estado, mais 40 ataques foram registrados.
“Mesmo que as pessoas tenham práticas diferentes de nós, o nosso Deus é o Deus do respeito, do diálogo, da acolhida, de perceber no outro as suas riquezas. É muito triste quando vemos na televisão esta onda de depredação de terreiros e lugares de culto afro-brasileiro, por conta de intolerância religiosa, por se achar melhor que eles, por apontar o dedo e dizer que eles estão fazendo aquilo em nome do demônio, em nome do mal. Deus não nos dá este direito, precisamos acolhê-los, manifestar a eles a nossa solidariedade e respeitá-los assim como nós queremos e gostamos de ser respeitados, como nós queremos e desejamos ser ouvidos e atendidos e livres para praticar a nossa fé”, pediu Frei Gustavo.
Portadores de mensagens que edificam
No final da celebração, Frei Vanderley Grassi dirigiu uma palavra de agradecimento ao povo de São João de Meriti, para onde foi transferido neste ano, e pediu um olhar atento e cuidadoso com a cidade. “Eu amo esta terra tanto quanto vocês. Juntos, vamos buscar construir uma cidade mais bonita, mais limpa, mais cuidada. A mudança só acontece a partir do nosso íntimo. Não podemos cobrar dos governantes se não cuidarmos da nossa casa, do nosso quintal. Há tanto lixo jogado em nossas ruas!”, lamentou o pároco.
Frei Vanderley recordou que a festa teve início no dia 31 de maio, com a abertura da Trezena em honra a Santo Antônio. No dia 15 de junho, a comunidade deu início à Novena do Padroeiro. Dias de muito trabalho e muito esforço da comunidade local e dos frades, para os quais ele manifestou seu agradecimento e pediu orações. “Sem oração nos tornamos árvore seca, que não dá fruto. Queremos produzir fruto, fruto saudável e em abundância”, salientou.
Ele concluiu pedindo que os presentes sejam portadores de mensagens que edificam. Ele relatou que ouviu e leu comentários muito ruins com relação à festa do Padroeiro na cidade, que era uma festa violenta. Mas ele afirmou que não foi isso que viu durante estes dias e convocou o povo a ser portador de mensagens edificantes.