Notícias - Província Franciscana da Imaculada Conceição do Brasil - OFM

Tríduo de Santo Antônio: Frei Almir pergunta “que família queremos?”

12/06/2012

Notícias

“Que família queremos?” foi o tema escolhido pelo pregador Frei Almir Ribeiro Guimarães no Tríduo de Santo Antônio na Igreja Bom Jesus dos Perdões, em Curitiba (PR), nesta segunda-feira (11/06).  Confira esta pregação na íntegra:

QUE FAMÍLIA QUEREMOS?

Neste dias, em preparação para a festa de Santo Antônio, queremos fazer algumas  reflexões a respeito da família. O tema é delicado e complexo. Santo Antônio, padroeiro dos namorados, certamente protege também nossas famílias.

1. Acreditamos na família. Temos a mais profunda convicção de que ela é  berço da humanidade, escola de solidariedade, lugar de encontro de pessoas, espaço de aprendizado das realidades elementares da vida,  lugar onde podemos encontrar o rosto de Deus. João Paulo II dizia, com toda razão, que “o futuro da humanidade passa pela família”.

2. Mas que família queremos? Não defendemos qualquer contrato ou consórcio.  A família não é uma fatalidade, nem camisa de força. Os que se casam respondem a um chamamento da vida e de Deus para serem esposos e pais. Há uma vocação para ser marido e mulher, pai e mãe.  A família é comunidade de vida e de amor, espaço de comunhão de pessoas, âmbito de profundo e efetivo bem-querer.  A família nasce e se funda no encontro de um homem e de uma mulher relativamente  maduros, na indizível experiência de um amor não interesseiro, homem e mulher conscientes da grandeza e do mistério de sua união e da família que fundam. A família é toda humana e tem cores divinas.

3. “Não é bom que o homem viva só”. Essa afirmação das primeiras páginas da Bíblia é fundamental.  O ser humano masculino busca o ser humano feminino. Os dois se encontram e começam a viver a aventura do  casamento e da família.  Ninguém se casa para ser feliz, mas para viver a aventura do amor. Pai e mãe, esposo e esposa, avô e avó, tios e primos, doentes e sadios, novos e idosos  constituem esta célula básica da sociedade e primeira Igreja, a Igreja do lar.

4. Os que se casam traçam em grandes linhas um projeto de vida. Não se unem de qualquer modo, sem lenço, sem documento, sem compromisso. Os que unem se escolhem e dizem um sim decidido,  generoso, pensado e sincero. Não se trata de uma empreitada fugaz, mas uma escolha de vida que envolve outras vidas e outras histórias, por isso marcada com  tintas de perpetuidade. Tudo é inaugurado com um quero que colorirá toda a vida conjugal e familiar. Os que se casam são pessoas fortemente empenhadas na fidelidade.

5. Há um projeto conjugal. São pensadas e traçadas as linhas de atenção e de profunda estima pelo cônjuge. Tal projeto pede amor, por vezes renúncia, desdobramentos de mútuas atenções. Não se coloca no projeto a separação. Ninguém se casa na eventualidade da separação. Não se descarta uma pessoa como alguém se livra de um par de chinelos.  O projeto conjugal comporta revisões e requer reorientações de rota, sempre tendo como pano de fundo um profundo bem-querer.  Este pode se resumir na auscultação dos desejos mais profundos de um ser que resolveu partilhar a vida com um e outro. Esse outro é cidadão da terra e peregrino para a glória.

6. Há o projeto dos filhos.  Os que se casam são administradores da vida, colaboradores da criação de Deus.  Resolvem colocar filhos no mundo e cuidar deles com pertinácia, diligência e um grande bem-querer. Os filhos não são coisas, mas dom de Deus aos pais e ao mundo.  Nossas crianças não podem ficar entregues a si mesmas, formadas apenas pela televisão e pelas salas de bate-papo. Não podem ser restos e trapos humanos. Os pais são os primeiros e fundamentais educadores dos filhos. A escola não substitui os pais. No momento atual de fragilização das  famílias,  nossas escolas precisariam ser espaços de formação de homens de caráter.

7. Há um projeto conjugal e familiar pautado na fé cristã. A vida conjugal começa com o sacramento do matrimônio. Cristo, esposo suspenso entre o céu e a terra, se imiscui no amor de um homem e de uma mulher. A aliança de Cristo se concretiza na aliança dos esposos. Os que se casam e colocam os filhos no mundo iluminam suas vidas, seus dias com a claridade que vêm do mistério de Cristo Jesus. Há uma espiritualidade conjugal e familiar que precisa ser cuidadosamente desenvolvida. A família não é pensão, nem hotel,  mas Igreja doméstica.

8. Queremos famílias que não se deixem entorpecer pelo consumismo, pelo desejo de posse, sempre de novas posses, carro novo, roupa nova, tudo descartável. Queremos uma família que tenha senso crítico, que questione o mundo presente à sua volta, mundo de indiferença, mundo alienado, mundo sem metas e ideais, mundo que defende o desfrutar egoísta de tudo e que se desinteressa por todos os gritos e anseios dos corações dos outros, mundo louco que não tem escrúpulos de aliciar adolescentes e jovens para o tétrico mundo da dependência química. Queremos uma família que permita que seus filhos sejam gente, pessoas de pé e não meros robôs de uma sociedade doente.

9. Desejamos famílias abertas ao mundo e a outras famílias. Não basta que casais se encontrem com casais para falar de coisas quase banais. Há uma interpendência entre as famílias que precisa ser cultivada em encontros sérios, sólidos, cheios de discernimento e iluminados pelo Espírito Santo, que mostra caminhos novos para o mundo.

10. Queremos uma família que tenha a delicadeza de buscar a Deus, que se reúna em torno da mesa das refeições e da Palavra do Senhor, pessoas que, aos poucos, vão aprendendo a se vestir das virtudes da ajuda mútua, do serviço, da atenção e do carinho de uns pelos outros.  Queremos famílias que ofereçam a hospitalidade do coração.]

11. Pensamos numa família que tenha respeito pela vida muito especial pelas crianças que ainda não nasceram, respeito pela pureza das crianças que não podem ser abusadas sexualmente, respeito pelos idosos.

12. Há muitos que sofrem no seio de nossas famílias. Há casamentos que começaram mal e mal continuaram. Há paixões secretas eternamente ocultadas. Há arranhões que ardem e feridas que se recusam a cicatrizar. Há crianças sozinhas esperando um olhar de ternura, um meio e suave afago que não lhes podem ser negado. Há casais profundamente unidos no sol e na chuva, na alegria e na tristeza, no seio de uma família que é também hospedaria  de Deus que sonhou com o casal e a família.

Por Frei Almir Ribeiro Guimarães