Notícias - Província Franciscana da Imaculada Conceição do Brasil - OFM

Frei Diego: “Fazer opções evangélicas e pacíficas”

03/10/2018

Notícias

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Frei Augusto Luiz Gabriel e Érika Augusto 

São Paulo (SP) – Na noite que antecede o dia de São Francisco, as igrejas franciscanas celebram o Trânsito do santo. Os frades, religiosos, religiosas e paroquianos se reuniram neste 3/10, às 18 horas, no Convento e Santuário São Francisco, no centro da capital paulista, para reviver o momento da morte do Santo de Assis.

É uma tradição franciscana celebrar com alegria e devoção os últimos momentos da vida de São Francisco. A morte, que tornou-se irmã, não assusta mais. Ao contrário, é motivo de festejo, pois nela cumpriu-se a missão terrena.

A homilia do dia ficou sob a responsabilidade de Frei Diego Melo, coordenador do Serviço de Animação Vocacional (SAV). A leitura proposta foi a história do lobo de Gúbio, segundo os Fioretti. Certa vez, um lobo atormentava a cidade de Gúbio, na Itália. E São Francisco foi intermediar o conflito gerado entre os moradores da cidade e a criatura. Os moradores, assustados, queriam ver o fim do animal. Mas, com a ajuda de Francisco, foi feito um acordo entre os aldeões e o lobo. Eles alimentariam o lobo e ele não iria mais causar mal à cidade.

Em sua homilia, o frade fez uma atualização da história, comparando aos dias atuais, “uma metáfora do verdadeiro caminho da paz e da reconciliação humana”, explicou Frei Diego. “Embora Francisco não justifique ou encoberte as maldades e as violências cometidas pelo lobo, ele não cede à tentação dos julgamentos e conclusões rápidas e superficiais, tão comuns em nossos tempos de condenações e linchamentos virtuais”, acrescentou.

No conflito, Francisco percebe que o lobo agia daquela maneira por necessidade e que a aldeia tinha responsabilidade na situação, por interferir no habitat do animal. “Sem se preocupar com aqueles que iriam dizer que ele estava defendendo um lobo ‘bandido’ e que a única solução era a sua morte ou extinção, afinal, há quem diga que bandido bom é bandido morto, Francisco se aproxima daquele lobo, descobre a causa do problema, realiza um encontro entre ambas as partes e conclui um pacto de paz, que incluía o compromisso da aldeia em garantir comida para aquele animal e a certeza de que o lobo passaria a agir sem maldade e agressividade”, contextualizou Frei Diego.

“O pacto alcançado por Francisco é fruto de uma presença pacificadora capaz de desarmar espíritos, superar preconceitos, construir novas relações e novos compromissos de ambas as partes, superando, assim, a verdadeira causa do conflito. Entre o lobo e a cidade de Gúbio, se dá um processo de conversão, de mudança de mentalidade, de atitudes e de visão”, afirmou o pregador.

E contextualizou: “Assim, diferentemente da lógica neofascista daqueles que fazem apologia à violência, à tortura e ao terror, Francisco não acirrou as contradições nem remexeu a dimensão sombria onde se escondem os ódios, mas, ao contrário, confiou na capacidade humanizadora da bondade, do diálogo, da acolhida do diferente, da empatia e da mútua confiança”.

Frei Diego explicou que a paz trazida pelo Santo de Assis não é sentimentalismo ou ingenuidade, mas um gesto audacioso e criativo. “Sua paz não é a simples vitória de um dos lados, mas é a superação dos lados e dos partidos. É fruto de uma construção coletiva entre os cidadãos e o lobo, é fruto de uma sociedade que se concebe como uma grande fraternidade”, acrescentou.

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Ele pediu aos presentes que esta noite não fosse apenas uma recordação melancólica da passagem da vida de um santo, mas uma forma de assumir um compromisso com a paz e a sociedade. “Que nós também possamos viver a nossa vida de acordo com a proposta do Reino de Deus, fazendo opções realmente evangélicas e pacíficas, de modo que ao chegarmos ao termo de nossa existência também possamos acolher a morte não como inimiga, mas como irmã e como porta de acesso à vida”, concluiu.

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Após a homilia, alguns jovens fizeram a encenação do momento do Trânsito de São Francisco. Trajados com hábito, eles trazem o corpo quase inerte do santo até o centro do presbitério. Um coral de vozes masculinas, composto por frades, ex-frades e leigos entoou o cântico próprio da celebração.

Ao final da celebração, o guardião do Convento, Frei Mário Tagliari, fez os agradecimentos e explicou que este momento, de memória da morte de São Francisco, é para ser celebrado com alegria e júbilo. Ele explicou que quando um frade morre, a fraternidade tem permissão para se reunir em “recreio”, uma confraternização, para celebrar a passagem do confrade. Neste clima, os presentes foram convidados para uma pequena recepção no refeitório do Convento.

Amanhã, 4/10, dia de São Francisco, haverá missa às 7h30, 9h, 10h30, 12h, 13h30, 15h, 16h30 e 18h. Durante todo o dia haverá barracas no lado externo com comidas típicas, adoção de animais, bênção das criaturas, venda de pão do convento e muito mais. Neste dia, às 9h, será inaugurada a Exposição Relíquias Franciscanas – Transcendência e Sacralidade na vida e no corpo dos Santos.