Notícias - Província Franciscana da Imaculada Conceição do Brasil - OFM

Mensagem do Ministro Provincial para esta Páscoa

10/04/2017

Notícias

“Por que procurais entre os mortos quem está vivo? Ele não está aqui! Ressuscitou!” Lembrai-vos do que vos falou, estando ainda na Galileia, dizendo que o Filho do homem havia de ser entregue ao poder de pecadores e ser crucificado, mas ressuscitaria ao terceiro dia” (Lc 24, 5-7)

Caríssimos irmãos e irmãs,

A Paz do Cristo Ressuscitado esteja com vocês!

A mensagem da ressurreição do Senhor, segundo o Evangelho de São Lucas, inicia-se com um questionamento feito por “dois homens vestidos de branco” (Lc 24,3) a um grupo de mulheres que, bem de madrugada, foi ao encontro da sepultura de Jesus para aí chorar a morte e deixar aromas e bálsamos: “Por que procurais entre os mortos quem está vivo?” (Lc 24,5).

Aquele que no Mistério da Encarnação “nasceu por nós à beira do caminho e deitado numa manjedoura” de uma gruta (cf. OfP 15,7), envolto em panos pobres, adorado e agraciado pelos Reis Magos com ouro, incenso e mirra, agora, no Mistério da Paixão e Morte, foi envolto em linho fino, comprado por José de Arimatéia no apressado sepultamento antes do repouso sabático, embalsamado por Nicodemos com uma mistura cara de mirra e aloés, e sepultado na silenciosa gruta da mansão dos mortos. Para esta gruta da morte, ainda na madrugada do “primeiro dia da semana” (Lc 24,1), acorreram algumas mulheres como naturalmente fazemos nós, os mortais, quando vamos chorar a morte diante das sepulturas das pessoas queridas que nos precederam nesta vida. Sem flores ou coroas, elas levaram consigo aromas e bálsamos e se dirigiram à sepultura para chorar e recordar a morte do grande Amigo “que passou pela vida fazendo o bem” (At 10,38).

E se outrora a estrela-guia conduziu os Reis Magos para dentro do mistério da gruta de Belém para que ali ofertarem ouro, incenso e mirra, e fazer com que a Luz do recém-nascido fosse uma verdadeira epifania para todos os que jaziam nas “sombras da morte” (cf. Lc 1,79), agora, naquela madrugada, estes “homens vestidos de branco”, quais novas estrelas-guia da Páscoa interpelam as mulheres a buscarem o mistério da vida fora daquela gruta da morte: “Ele não está aqui! Ressuscitou”. Não adianta procurar entre os mortos Aquele que está vivo e ressuscitado.

Inicia-se assim o processo da busca do Ressuscitado. Se Ele não se encontra na mansão dos mortos, como e onde encontra-lo entre os vivos? Qual seria a ‘chave’ de acesso a esse Mistério novo e tão profundo da Ressurreição? A indicação para encontrar o Ressuscitado procede dos mesmos “homens vestidos de branco”, estrelas-guia da Ressurreição: “Lembrai-vos do que vos falou, estando ainda na Galileia, dizendo que o Filho do homem havia de ser entregue ao poder de pecadores e ser crucificado, mas ressuscitaria ao terceiro dia” (Lc 24, 6-7).

Mas quem seria capaz de desvendar a mensagem dos “homens vestidos de branco” na afirmação “Ele não está aqui! Ressuscitou”? Quem ajudaria a cada um dos discípulos e discípulas a remover a pedra-obstáculo para o reencontro com Mestre ressuscitado e compreende-lo a partir do ocular da Fé? Os temores e as incertezas geraram nesses homens “lentos em crer” tantas outras dúvidas:

Seria a Ressureição uma “lorota” das mulheres que de madrugada foram à sepultura (Lc 24,11), mas a Ele não viram? Poderia o Ressuscitado ser confundido com jardineiro do cemitério (Jo 20, 11-16)? Poderia o Ressuscitado, que por nós se fez peregrino neste mundo, se misturar entre tantos outros peregrinos que naqueles dias estavam em Jerusalém e retornavam às suas cidades e aldeias, como os discípulos de Emaús (Lc 24,13-24)? Seria o Ressuscitado um ‘fantasma’ ou um “espírito” amedrontador que surpreendeu os Onze Apóstolos perturbados e trancados numa sala, com muitas “dúvidas no coração” (Lc 24,37-38)?

Em meio às desconfianças, ao medo e à dureza de coração dos assustados discípulos pela crueldade da condenação e morte Daquele que para eles se apresentou como “caminho, verdade e vida”, “pão vivo descido do céu”, “bom pastor que dá a vida”, “ressurreição e vida”, não foi fácil fazer a transposição do choro da sepultura ao cântico do aleluia pascal. Parecia ser mais fácil chorar a morte do que cantar ou proclamar a vida. Existem sempre pedras pesadas a serem removidas das sepulturas e sinais de morte. E no caminhar pessoal de cada discípulo ou discípula, os “homens vestidos de branco” são fundamentais no reencontro com Aquele que disse: “Eu sou a Ressurreição e a Vida”.

E nós? O que nos leva a chorar a morte ou a lamentar os diferentes sinais de morte? Humanamente choramos a morte dos confrades, familiares e amigos que nos precederam e ao mesmo tempo, mesmo imersos no ofertório da dor, cantamos a certeza de que a vida deles ou delas não foi “passageira ilusão”. Preocupo-me com o choro diante de outros sinais de morte que, muitas vezes, são pedras enormes a serem removidas das nossas sepulturas diárias:

A pesada pedra do individualismo moderno, também presente na vida consagrada, que nos leva a caminhar solitários, impedindo-nos dos encontros fraternos onde se realiza a partilha do pão e da alegria do reencontro diário com o Ressuscitado.

A pesada pedra do ‘poder e do mando’ que impede o diálogo com o diferente, evitando que o Forasteiro de Jerusalém compartilhe o pão e se faça companheiro na vocação e missão da fraternidade, enquanto anunciadora da alegria pascal. A pesada pedra da descrença e da frieza dos valores místicos do nosso carisma que nos transforma em “homens de pouca fé”, em outros ‘Tomés’ descrentes, calculistas e racionalistas. A pesada pedra do silêncio tácito que interrompe todos os canais de comunicação para a mensagem da “alegria do Evangelho” trazida pelo novo homem vestidos de branco, o Papa Francisco, que nos interpela a buscar soluções comuns e fraternas diante dos nossos medos e dúvidas no coração. A pesada pedra do poder do dinheiro que chantageia a verdade maior da Ressurreição da qual somos profetas pelo testemunho da pobreza e da minoridade.

Hoje, na mesma certeza daqueles “homens vestido de branco”, renovo a boa-nova do mesmo anúncio: “Por que procurais entre os mortos quem está vivo? Ele não está aqui! Ressuscitou!”. Que esta alegria chegue a cada um de vocês, às nossas fraternidades e todas as nossas Frentes de Evangelização e Formação. O Ressuscitado é mais forte que os nossos medos. Ele mesmo remove as pesadas pedras para soprar sobre nós seu hálito vital dizendo: “Recebei o Espírito Santo”. Ele mesmo, em fraternidade e como fraternidade, a nós se apresenta para dizer: “Não tenhais medo, sou eu mesmo”. Assim, no diálogo e na partilha da Palavra, na comunhão e na partilha do pão, no peregrinar atento e acolhedor, fazemos acontecer em nós aquilo que o amor de Deus realizou naquela manhã da Ressurreição.

E com São Francisco de Assis nos irmanamos com todos os biomas vitais para proclamar: “Alegrem-se os céus, rejubile a terra, ressoe o mar com tudo o que contém, rejubilem-se os campos e que neles existe” (OfP 7,4) para cantar o canto novo daquele que “deitou-se para dormir e levantou-se de novo” (OfP 6,11) na manhã da Ressurreição.

Feliz e abençoada Páscoa!

Frei Fidêncio Vanboemmel, OFM

Ministro Provincial