Notícias - Província Franciscana da Imaculada Conceição do Brasil - OFM

25 anos de sacerdócio – Frei César Külkamp – São Paulo, 29/11/2020

29/11/2020

Notícias

Estimados confrades, familiares, amigos e irmãos e irmãs aqui presentes ou acompanhando pela transmissão,

a todos vocês, paz e bem!

A tônica principal desta celebração é o júbilo, ou seja, a alegria. A Sagrada Escritura tem muitas passagens que falam do júbilo. Isaías nos recorda: “Os humildes aumentarão sua alegria no Senhor, e os mais pobres dos homens se rejubilarão no Santo de Israel” (Is 29,19).

O Profeta nos ensina que em Deus está a fonte da verdadeira alegria. E essa alegria é dada aos humildes e aos mais pobres de entre os homens. Não é a alegria dos prepotentes, dos ricos e dos poderosos. É a alegria de quem confia em Deus, de quem põe nele toda a sua esperança. Estes não serão esquecidos. Esta é a promessa que Deus mesmo nos faz. Isto significa que para viver da fé é preciso ter um coração humilde e de pobre.

Hoje é dia em que celebramos os santos e santas da Família Franciscana. E são quase 500 canonizados ou beatificados pela Igreja. Mas, há certamente uma multidão muitíssima maior de verdadeiros santos e santas que nem chegaram a ser reconhecidos oficialmente pela Igreja, mas foram discípulos e discípulas muito fiéis ao seguimento de Jesus Cristo e verdadeiras referências para tanta gente. Em nosso meio mesmo, quantas pessoas santas nós conhecemos.

E estamos em júbilo porque hoje começamos o tempo forte do Advento, tempo de preparação para o Natal do Senhor. Natal é a festa da encarnação do nosso Deus. Um Deus que já não está mais distante de nós, lá nas nuvens, acima céus, mas se faz próximo, pequeno na fragilidade de uma criança. Ele nasceu pobre e veio ao encontro dos pobres.

Mas, o Advento ainda não é o Natal. Ele é preparação para o Natal. Infelizmente, o mercado antecipa as coisas. As propagandas já querem trazer o ambiente do Natal, com músicas, sinos e muitas cores. Mas, o interesse é vender e Jesus não está no centro da atenção das pessoas.

A liturgia da Igreja se organiza em tempos – tempo do Advento, do Natal, da Quaresma, tempo Pascal, Comum e assim vai. Todos estes tempos estão ligados à vida de Jesus, aos grandes mistérios da sua vida. E nós somos convidados a contemplar estes mistérios. E neles, a nossa vida é inspirada pela vida de Jesus.

É preciso sentir o tempo. Hoje vivemos tempos muito acelerados. Pessoas correndo cada vez mais e menos atentas umas às outras. O Papa Francisco, na carta Fratelli Tutti, Todos Irmãos, nos diz: «o mundo de hoje, na sua maioria, é um mundo surdo (…). Às vezes a velocidade do mundo moderno, o frenesi impede-nos de escutar bem o que outro diz. Quando está no meio do seu diálogo, já o interrompemos e queremos replicar quando ele ainda não acabou de falar. Não devemos perder a capacidade de escuta» (No. 48). E é preciso batalhar muito para vencer na vida. Mas, corremos o risco de, em tudo isto, perder a vida.

Hoje vivemos tempos de medo e de tensões. Estamos no meio de uma pandemia, com graves riscos à saúde pública. Números assustadores de pessoas infectadas e de mortos em todo o mundo e também bem perto de nós. Tempos de inquietação social, de polarização entre as pessoas por questões políticas. Hoje é o segundo turno das eleições municipais. Muitas pessoas estão se dividindo por ideologias contrárias. Corremos o risco de perder o precioso tempo da boa convivência com as pessoas que mais amamos. Vivemos um tempo de aridez espiritual em que dinheiro, status social valem mais do que Deus. Ou então com experiências de fundamentalismo religioso, instrumentalização da religião, seja para interesses políticos que não defendem a vida e a família, mas defendem interesses particulares e egoístas. Corremos o risco de perder o tempo da iluminação, da fé, da conversão, o tempo de Deus.

E hoje iniciamos este tempo de advento, o tempo de revivermos a espera pelo messias. O povo de Israel não foi sempre fiel. O profeta Isaías, na primeira leitura, chega a cobrar de Deus: “por que deixaste nossos corações endurecerem a ponto de não mais vos temer?” Mas, o povo de Israel sempre voltou a esta esperança: o Senhor virá! Porque Tu “és nosso Pai e nós somos obra de tuas mãos”.

O Evangelho, na passagem de Marcos, nos convida a uma esperança responsável e vigilante. E isto não é porque o cristão precise ter medo do Senhor, mas para que ele se comprometa a construir um mundo mais de acordo com os valores do Senhor: com mais justiça, mais fraternidade, com mais amor entre as pessoas. São os valores do Reino de Deus.

As palavras mais fortes deste tempo do advento são a vinda e a presença. O nosso Deus já está presente entre nós, Ele já se encarnou em Jesus Cristo e não estamos mais sozinhos. Ao celebrarmos a sua vinda nos comprometemos com o seu Reino, com a edificação do povo de Deus.

Por isso, é também o tempo da conversão, da transformação de nós mesmos e do mundo ao nosso redor. E a conversão só é possível porque Deus nos oferece sua misericórdia. É ele quem abre o nosso coração. Mas, precisamos estar atentos à presença de Deus em nossa vida.

Estar vigilante, atento não significa ficar apenas cuidando para não pecar, fugir do erro e das nossas fraquezas humanas. Elas já foram assumidas por Deus quando assumiu a nossa carne. Estar atento é procurar aproximar-se de Deus, assim como Deus vem ao nosso encontro. É fazer com que tudo em nossa vida concorra para nos abrirmos mais a Ele. E aí nossa vida será também abertura para o nosso irmão. O Reino é comunidade, não é solidão.

É preciso sentir o tempo. Nesta dinâmica do tempo de Deus que é o tempo dos irmãos quero agradecer hoje por este tempo vivido no ministério, no serviço sacerdotal. Foram tantos a colaborar, desde o seio familiar e o período de formação inicial, como também no aprendizado vivido no próprio ministério. Ministério é serviço. E aprendemos na vida que é fazendo que se aprende. Nos tantos encontros e relações, quanto a aprender! Mas, para aprender é preciso estar aberto e atento.

O sacerdócio, para nós franciscanos, tem um modo próprio. Ele é vivido em fraternidade, a partir de uma fraternidade. Quero aqui agradecer a esta fraternidade em que vivo, as fraternidades onde já passei e, principalmente a fraternidade de toda a nossa Província, aqui no Brasil e em Angola. Nós frades somos diferentes, temos dons e também dificuldades próprias, mas uma coisa é fundamental para todos: “seguir a Jesus Cristo, viver o Evangelho segundo o jeito, a forma vivida e proposta por São Francisco de Assis. Aí está a alma que une a nossa fraternidade. É nesta divina inspiração que nós somos todos irmãos em uma mesma fraternidade”.

Mas, falando de Francisco de Assis, ele nos ensina a gratidão mais importante. Aquela atitude que rende graças a Deus todos os dias da vida. Que devolve tudo a Ele, o bem realizado e o bem maior que continua sendo buscado. O nosso Mestre é Jesus, e Ele é também o nosso Caminho, precisa ser descoberto. Ele se revela na humildade de seus mistérios, especialmente de sua Encarnação e de sua Paixão. E tudo isto se faz presença nas celebrações daEucaristia e da Palavra. E nos compromete por inteiro nos serviços da Caridade e da Reconciliação.

Celebrar 25 anos de sacerdócio é como que chegar à metade da caminhada. Não sabemos para onde e até onde Ele nos vai conduzir, mas é tempo de reviver, agradecer, rever e de lançar novas perspectivas na lógica da conversão, do estar mais atento, como nos pede este tempo do advento.

Um certo confrade nos contou uma vez num dos nossos encontros provinciais que a vida poderia ser comparada a um pote de deliciosas jabuticabas. Cada um de nós ganhou um pote cheio de jabuticabas para degustar. No início começamos a comê-las de forma mais distraída, ocupados em outras coisas, compromissos, quem sabe respondendo a nossos contatos virtuais, e, quando nos deparamos, o pote já está pela metade e nem lembramos muito bem do quanto foram saborosas as jabuticabas que já consumimos. As jabuticabas que sobraram no pote certamente serão mais preciosas, serão saboreadas com mais atenção.

Talvez celebrar os 25 anos seja como este convite que o Advento nos faz: vigiai, ficai despertos. Sinta o verdadeiro sabor de servir na vocação franciscana e sacerdotal, sinta o sabor profundo e inigualável da presença de Deus que se fez servidor. É o dia de renovar o compromisso de fazer de Deus a centralidade da vida. E o Deus revelado por Jesus Cristo sempre nos empurra a sair de nós mesmos para uma vida de mais encontros. Encontros que também precisam ser vividos como o sabor das últimas jabuticabas.

Caros irmãos e irmãs aqui presentes ou presentes de tantas formas, obrigado pelo aprendizado que me proporcionaram. Obrigado pelo apoio, amizade, fraternidade e pelas preces que me sustentaram até aqui!

Mais uma vez me encomendo a todos vocês, principalmente na oração!

A Mãe Imaculada interceda também por todos vocês e Deus os abençoe!

Muito obrigado! Paz e Bem!