Carisma - Província Franciscana da Imaculada Conceição do Brasil - OFM

OFS

Um certo jeito de viver

Fui eliminando muitas coisas inúteis de minha vida e Deus se aproximou para ver o que estava acontecendo
Christian Bobin

1. Neste mundo que é o nosso, as pessoas de boa vontade experimentam um desejo de simplificação em todos os sentidos. Há, apesar da complexificação do mundo, o desejo de buscar a simplicidade no vestir, no comer, no morar, no falar, no rezar. Nem sempre, é claro. Podemos dizer que o caminho do seguimento de Jesus e à maneira de viver de Francisco de Assis e de seus seguidores de ontem e de hoje é o de trilhar o caminho da simplicidade, da simplificação da vida e do jeito de viver. Cristãos e franciscanos somos daqueles que tentamos nos desbaratar de nós mesmos e de tudo aquilo que atravanca nosso caminho de liberdade.

2. Os franciscanos seculares, cristãos antes de tudo, tentam viver a fraternidade dentro do grupo a que pertencem e no grande mundo Desvencilhar-se de si mesmos, meta que nunca é totalmente realizada. Simplificação é um movimento que vai para além das palavras, dos conceitos e dos raciocínios. As pessoas simples são mais fraternas, são mais elas mesmas.

3. Junto com o sentimento de fraternidade, os cristãos e franciscanos seculares cultivam a humildade. Não buscam a claridade dos holofotes. Estão fielmente presentes lá onde devem estar sem chamar atenção o tempo todo. Não cultivam uma falsa humildade dizendo sempre que são humildes, incapazes, que não merecem elogios. Procuram se imunizar contra uma falsa humildade ou uma humildade orgulhosa.

4. Podem e devem dizer que são amigos do Senhor, como se dizia a respeito de Moisés. Abrem em suas vidas espaços gratuitos para o encontro com o Senhor. No meio dos labores, das alegrias e contradições da estrada da vida estão sempre envoltos pela Presença. Não andam preocupados com fórmulas feitas, mas com o abraçar o Mistério. Servem-se da lição dos grandes orantes. Não se limitam apenas às rezas prescritas. Sabem perfeitamente que se não se deixaram envolver pelo Mistério sua vida não tem sentido. Cultivam, sobretudo um desejo de Deus. Não desejam e não podem perder o espírito da santa oração ao qual tudo deve servir. Ficam atentos ao santo modo de operar do Senhor. Os franciscanos estão sempre a questionar o tema. Oração não é pausa, não é parêntese. É a vida. É mergulho.

5. Francisco e a oração são duas realidades que caminham juntas. O Santo se tornou em oração viva.“Transformado todo ele em oração viva, não apenas num homem orante, unia a lucidez da inteligência ao ímpeto do coração neste único anseio: viver para sempre na casa do Senhor” (2Celano 95).

6. Os cristãos (e os franciscanos seculares) estão sempre prestando atenção em examinar sua vida e vivem uma vida de penitência, de mudança de vida, de contínua conversão. Costumam fazer todos os dias um exame de consciência e em sua fraternidade gostam de receber comunitariamente o sacramento da reconciliação. Vivem pensando no beijo do leproso: o doce que se torna amargo e o amargo que se torna doce.

7. As reuniões dos irmãos franciscanos seculares serão sempre suculentas, sinceras, momentos de delicada oração comunitária, estudo sério, manifestações de atenções e carinho fraterno. As reuniões precisam ser salas de espera para acolher o Senhor que vem na Palavra e no rosto dos irmãos. Em muitas reuniões poderá haver um abrir do coração mais demorado. Mas atenção, nada de grupos fechados. Os que se reúnem fraternalmente são irmãos de todos os homens e mulheres nas encruzilhadas da existência.

8. Os franciscanos seculares procuram ter uma presença expressiva na comunidade diocesana e paroquial. Não constituem um “tropa de choque” para fazer coisas. Atuam com discernimento. Não adotam uma pastoral de mera conservação ou que possa levar a um cristianismo alienado. Procuram ter sendo crítico. Nota importante: por suas palavras e suas vidas os franciscanos seculares pedem que seus ouvintes acolham a novidade de Deus em suas vidas. Sua missão é a de preparar as pessoas para acolherem a visita de Deus que anda batendo às suas portas.

9. Cristãos (e franciscanos seculares) precisam do trabalho e do salário para viver dignamente e na abundância das coisas necessárias. Trabalham com denodo, sem displicência, com competência. Seu trabalho é um serviço prestado aos irmãos. Trabalhando continuam a criação de Deus e afugentam toda ociosidade.

10. Para que a vida seja viçosa, os cristãos estão sempre em estado de aprofundamento da fé. Precisam saber dar a razão de suas posturas e comportamentos. Necessitam estudar, ler, conversar, participar de cursos, mesas redondas. Aprofundamento da fé que leve à oração e a um engajamento.

11. Não é no dia da profissão ou do compromisso definitivo com a Fraternidade que as coisas estão feitas e prontas. A estrada da vida é longa. As pessoas se tornam cristãs e franciscanas na medida em que foram aprendendo a dar a vida pelos outros.

12. Estão sempre dispostos a recomeçar. Ouvem sempre as palavras de Francisco dirigidas aos que queriam canonizálo antes da hora: “Até agora nada fizemos, somos servos inúteis, vamos começar tudo de novo”.

Para refletir

Para onde corres? O céu está em ti…
Senhor, por vezes, a nossa oração é apenas a necessidade da tua mão, absoluta necessidade de sentir a tua mão funda, capaz de nos acolher tal qual somos dentro do teu silêncio; é apenas sentir o roçar, mesmo que leve da tua imensidão no precipitado, no precário, no incerto de nossas cotidianas rotas; é apenas essa necessidade de reconhecer que tu, estando, recebes esta espécie de fome e de desejo que somos nós.

“Pai nosso que estais na terra”, de José Tolentino Mendonça, Paulinas, p. 54

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