A missão do Franciscano Secular
Rosalvo Gonçalves Mota, OFS
A Igreja no Brasil está celebrando, desde 26 de novembro de 2017, Solenidade de Cristo Rei, a 25 de novembro de 2018, o “Ano do Laicato”. O tema escolhido para animar a mística do Ano do Laicato foi: “Cristãos leigos e leigas, sujeitos na ‘Igreja em saída’, a serviço do Reino” e o lema: “Sal da Terra e Luz do Mundo”, Mt 5,13-14.
O Ano do Laicato tem como objetivo geral: “Como Igreja, Povo de Deus, celebrar a presença e a organização dos cristãos leigos e leigas no Brasil; aprofundar a sua identidade, vocação, espiritualidade e missão; e testemunhar Jesus Cristo e seu Reino na sociedade”.
São Francisco, há 750 anos antes do Vaticano II, de um modo muito peculiar, volta-se para os leigos e nos dá um “modo de vida” (Regra da Ordem Franciscana Secular, OFS), na qual, “somos impulsionados pelo Espírito Santo a atingir a perfeição da caridade no próprio estado secular” (ROFS 2).
A missão do Crucificado de São Damião, dada a S. Francisco, é para cada um de nós, franciscanos seculares, atual e verdadeira: …”Vai e restaura minha casa”. Imediatamente, Francisco dispôs-se a executar a tarefa recebida. Mas não a reconstruiu de novo, consertou o que era velho, e reparou o que era antigo. Não desfez os alicerces, mas edificou sobre eles, reservando esta prerrogativa, mesmo sem pensar, ao Cristo. Ninguém pode por outro fundamento senão o que foi posto: Cristo Jesus. Depois, para não ficar de braços cruzados, executou a restauração de mais duas igrejas: uma dedicada a São Pedro, ao qual tinha grande devoção, e outra, no lugar chamado Porciúncula, onde existia uma velha igreja dedicada à Virgem Mãe de Deus, chamada Santa Maria dos Anjos, onde fundou a Ordem dos Frades Menores.
Deste episódio verificamos que S. Francisco, inicialmente, cumpriu a palavra ao “pé da letra”, restaurando materialmente três igrejas, antes de fundar a Ordem e começar a pregar o Evangelho. Isto significa que ele progrediu desde as coisas materiais em direção às realizações espirituais, compreendendo com mais profundidade a sua missão.
A grande diferença entre Francisco restaurador e os “outros”: não critica, não divide, não destrói. Francisco converte-se à própria Igreja, torna-se servo e menor. Fez tudo isto, a partir da conversão pessoal: “Nós vos adoramos, Senhor Jesus Cristo, aqui em todas as vossas igrejas que estão no mundo inteiro e vos bendizemos, porque pela vossa santa cruz, remistes o mundo”. Atitude de reverência e respeito para com a Igreja material e espiritual.
Franciscano(a) secular, …Vai e restaura minha casa, hoje! Esta é a nossa missão. Nós, como seguidores do Evangelho à exemplo de S. Francisco, podemos, também, restaurar três igrejas, que estão em ruínas (pelos menos as duas primeiras): o homem, a família e a Igreja institucional.
Restaurar o homem-igreja, templo de Deus, morada do Espírito Santo. Iniciando com a própria pessoa, a si próprio, pela conversão que, “devido à fragilidade humana, deve ser realizada todos os dias” (R.7). Depois, com o homem irmão, procurando, dentro do “nosso” mundo, do limite de cada um, lutar pelos direitos fundamentais do homem, libertá-lo do pecado, dar-lhe condições de vida, educação, trabalho, moradia, saúde e lazer. Isto não é uma tarefa impossível, basta que você comece por um, por aquele que está mais próximo de você. Antes de toda e qualquer atitude para mudar alguma coisa, é preciso mudar o homem, convertê-lo. Somente assim, poderemos iniciar a construção do Reino de Deus, de uma sociedade mais justa, democrática e fraterna.
Segundo, a família, a igreja doméstica. A família, célula “mater” da sociedade. A nossa família, a nossa casa, deve ser o endereço de Deus. Fazer com que nossas famílias revalorizem o amor, fazer de cada casa, a começar com a nossa, o lugar privilegiado de Deus, de oração, de amor. Hoje, faz-se necessário restaurar a família. Lugar para viver o espírito franciscano de paz, através da harmonia conjugal e familiar, pela prática do diálogo, da paciência, compreensão, perdão e integração das diferenças. Ainda, da fidelidade conjugal, do respeito à vida, da prática do amor pró-criativo (ter filhos) e criativo (adoção), do controle da natalidade, da paternidade responsável, de uma consciência e educação cristã dos filhos. Como veem, são muitos temas que devemos estudar, aprofundar e praticar em nossas fraternidades.
Terceiro, a Igreja institucional. Fazer com que a nossa Igreja seja a nossa comunidade, a reunião das famílias, não um aglomerado de pessoas desconhecidas. A Igreja não é o clero. A Igreja somos nós: clérigos e leigos (seculares). Que a nossa voz se faça verdadeiramente ouvida, para que a Igreja seja realmente comunitária, democrática, a exemplo das primeiras comunidades cristãs. Acredito que neste terceiro milênio, o laicato tem um papel preponderante na restauração da verdadeira Igreja de Cristo. Principalmente nós, franciscanos seculares, devemos procurar o nosso verdadeiro espaço e posição na Igreja. Não como “meio-frades” ou na sacristia, mas como seculares, agindo como cristãos no mundo, para transformá-lo.
Finalmente, irmãos e irmãs, urge restaurarmos estas três igrejas, estes três templos para a implantação de uma sociedade fraterna e justa, que seja o início do Reino de Deus aqui na terra.
Que cada um de nós, que nossas casas e famílias sejam pequenas igrejas e que as igrejas sejam nossas famílias.
Irmão e irmã, “vai e restaura minha casa”.