Frei Luiz Iakovacz
Quando chega dezembro, todos, quase que automaticamente, nos ligamos ao Natal, a festa mais esperada do ano. Com oferta de empregos temporários e o 13º nas mãos, o comércio explora, exaustivamente, a compra de presentes; doam-se cestas de Natal; empresas e pastorais promovem encerramento das atividades com “amigo secreto”; a Ceia é recheada de comida-bebida e troca de presentes; outros viajam para encontrarem familiares; e muito mais…
Nós, cristãos, precisamos priorizar Jesus Cristo. Ele não é um acréscimo ao que foi dito acima, mas a essência de tudo. Por isso, a Igreja nos oferece vários meios, sendo que a Liturgia é o principal deles. O profeta Isaías anuncia que o Messias nascerá de uma donzela (Is 7,14) e que se chamará “Príncipe da Paz” (Is 9,5); por isso, uma das realidades dos tempos messiânicos é a harmonia entre os seres humanos e, estes, com a natureza (Is 11,6-9).
João Batista é a voz que grita, conclamando a uma verdadeira conversão, aplainando as montanhas da autossuficiência e nivelando os buracos que causam a queda de tantos irmãos. Ele quer endireitar a vida dos que andam transviados, em vista da vinda do Senhor (Lc 3,3-6).
A pessoa de Maria, mãe e agraciada por Deus, nos lembra a ternura feminina no lar e na sociedade. Porém, convém asseverar que o Natal de Jesus foi muito conflitivo.
Maria, com seu “sim”, aceitou a maternidade, sendo virgem. Como explicá-la a José, seu noivo, e à comunidade? Quem iria acreditar que era obra do Espírito Santo (Lc 1,35)? Conforme o costume judaico, todo adultério, seguido ou não de uma gravidez, era passível de denúncia pública e, até, de apedrejamento. Se Deus interveio junto a José para que acolhesse Maria e adotasse o filho, dando-lhe o nome e a linhagem davídica (Mt 1,20-21), não podemos, também, desconsiderar a postura de Maria que, com sua ternura e convicção em assumir as consequências do seu “sim”, ajudou a “acalmar” esta constrangedora situação.
Como não pensar na inviabilidade de alguém, prestes a dar à luz, fazer uma viagem a pé ou no lombo de um burrinho, por aproximadamente 150 km, por causa do recenseamento?
Que dizer de um nascimento numa gruta e do recém-nascido estar envolto em “paninhos” (Lc 2,12), isto é, em extrema pobreza?
Como não pensar na morte sanguinária e sumária das crianças de Belém por que o rei Herodes temia perder o trono (Mt 2,16-18)? Como não pensar na fuga apressada para o Egito (Mt 2,13-15)?!
Como não pensar na “tristeza interior” de José que, ao voltar do Egito, tinha a intenção de morar em Belém, mas sabendo que o filho de Herodes, Arquelau, era tetrarca da região, e foi por isso a Nazaré (Mt 2,1923)?!
Pode ser que essa conflituosa situação do nascimento de Jesus não tenha acontecido “ipsis litteris”, isto é, assim como os Evangelhos nos relatam. Estes foram escritos muitos anos depois e, talvez, sem provas consistentes.
Uma coisa, porém, é certa: precisamos ter uma postura de insatisfação com o “natal comercial” e com o “romântico presépio” de São Francisco. Quiçá, ele também esteja inconformado. Somemo-nos a ele e a todos os que lutam por um Natal mais cristão.