Robson Ribeiro de Oliveira Castro
A pandemia da Covid-19, vivenciada pelo mundo inteiro, já fez milhões de vítimas. Trata-se de uma realidade nunca antes concebida. Nem os melhores roteiristas de Hollywood poderiam imaginar que, na vida real, passaríamos por uma ameaça invisível de um vírus com tamanho poder de propagação, que mata todos os dias.
Não podemos menosprezar o número de mortos. São indivíduos, são vidas humanas abreviadas pela Covid-19. São pessoas que sofreram as consequências diretas dessa difícil realidade. Não são somente números, são vidas, são famílias que se desfizeram com a morte de um ou mais membros. Essa realidade é, acima de tudo, um caminho de cuidado, de zelo ético pelos afligidos pela contaminação e atenção aos que mais sofrem. O Papa Francisco, na nova encíclica lançada dia 3 de outubro passado, que tem por título Fratelli Tutti (FT) sobre a fraternidade e a amizade social, nos alerta que: “É verdade que uma tragédia global como a pandemia da Covid-19 despertou, por algum tempo, a consciência de sermos uma comunidade mundial que viaja no mesmo barco, onde o mal de um prejudica a todos.” (FT, n. 32)
É preciso nos apoiar na realidade, encarar o que estamos vivendo. Não podemos deixar de lado a gravidade dos acontecimentos e muito menos nos aprisionar no reflexo das sombras dentro da caverna. Precisamos seguir em frente, mas não é ético ocultar ou virar à realidade. É preciso revelar, tirar o véu, ou seja, tirar das sombras o que está oculto e encarar a realidade. É preciso um agir ético. Pensar em ética é pensar em condutas e valores que, honestamente, possam nortear nossas ações e decisões.
Um “mundo novo” só será possível se formos construtores de uma mudança em nós para olharmos a realidade que vivemos. Devemos observar e fazer valer a nossa oração, o nosso pedido de auxílio a Deus que é Pai todo misericordioso. Ele nos escuta e vem em socorro da nossa vida. A realidade atual vivenciada por nós é um convite a olhar para esta pandemia como desafio a ser superado. Como caminho para criar esperança e gestar uma realidade nova, novos projetos e outro jeito de viver, mais humano, mais ético e solidário. Jesus, que foi o verdadeiro propagador da mudança de sua época, inspire-nos a continuar nesta caminhada.
O Papa Francisco nos convoca a refletir nossa ação no mundo e nossa pertença a uma sociedade que não sabe agir e viver em conjunto: “Ficou evidente a incapacidade de agir em conjunto. Apesar de estarmos superconectados, verificou-se uma fragmentação que tornou mais difícil resolver os problemas que nos afetam a todos.” (FT, n. 7)
Destarte é necessário observar o que temos feito e como temos vivido nossa vida diante da relação que temos com o outro e cuidado para com ele. Francisco é categórico e afirma: “Desejo ardentemente que, neste tempo que nos cabe viver, reconhecendo a dignidade de cada pessoa humana, possamos fazer renascer, entre todos, um anseio mundial de fraternidade.” (FT, n. 8)
Atentos a este clamor e impelidos pela realidade que se apresenta a nova Carta Encíclica do Papa Francisco, somos chamados à conversão e à vivência de uma amizade social. Que possamos observar nossa caminhada e pertencimento a uma condição de filhos e filhas de Deus!
Robson Ribeiro de Oliveira Castro é leigo, casado. Mestre em Teologia pela Faculdade Jesuíta de Filosofia e Teologia (FAJE). Atualmente leciona no Instituto Teológico Franciscano (ITF). E-mail: robsonrcastro@yahoo.com.br.