Frei Luiz Iakovacz
Nós, católicos, veneramos Maria porque o anjo a saudou como “cheia de graça” (Lc 1,28); Isabel a proclamou “bendita entre as mulheres” (Lc 1,42) e as “gerações me chamarão bem-aventurada porque o Poderoso fez em mim maravilhas” (Lc 1,48).
Não só isso: ela é Mãe do Salvador (Lc 1,31).
Uma mãe carinhosa que, ao nascer o Filho, “envolveu-o em panos e o colocou numa manjedoura” (Lc 2,7). Não havia enxoval e nem cama… uma pobreza assumida, voluntariamente, pois ela disse ao anjo: “Eis aqui a serva do Senhor, faça-se em mim segundo a tua Palavra” (Lc 1,38).
Uma mãe que, com José, protege o Filho ameaçado de morte. Fugiram para o Egito, fora do alcance sanguinário de Herodes (cf. Mt 2,13-15).
Uma mãe que, com José, procura seu Filho que não retornara com a caravana, por ocasião da festa da Páscoa. São três dias de aflitas buscas entre parentes, culminando com uma nova ida a Jerusalém, numa distância de 150 Km (cf. Lc 2,41-52).
Uma mãe que educa seu Filho para que participe da comunidade, pois se ele tinha o costume de ir todo o sábado à sinagoga (cf. Lc 4,16-19), é porque ela e José davam o exemplo. E se vemos Jesus em constante oração, de noite, sozinho, numa montanha (cf. Lc 22,39; Mc 1,35), é porque aprendeu em família.
Uma mãe solidária que acompanhou o Filho na evangelização (cf. Jo 2,12), esteve com Ele na cruz (cf. Jo 19,25) e no início da Igreja (cf. At 1,14).
E Jesus… será que educou sua mãe, tornando-a mais discípula? Ela se deixou evangelizar?
Vários textos bíblicos mostram o discipulado de Maria. Quando os pastores foram visitar o recém-nascido e reconheceram Nele o Salvador do mundo, começaram a divulgar esta Boa Notícia. Os ouvintes ficaram admirados desse fato e “Maria conservava essas palavras e as meditava em seu coração (Lc 2,19).
Também, segundo alguns estudiosos, o reencontro dos pais com o Filho após três dias de muitas buscas, por ocasião da festa da Páscoa, foi muito conflitivo. Maria, porém, “conservava a lembrança de tudo isso no coração” (Lc 2,51).
Para o discipulado é de fundamental importância a “acolhida no coração”, tanto de doutrinas como de fatos – mesmo aqueles que, inicialmente, são estranhos e exigentes. É a pedagogia de Deus… mas o coração que medita, ajuda a assimilá-los.
Aos 30 anos, Jesus iniciou sua vida pública (cf. Lc 2,23). A pregação, juntamente com os milagres, causaram impacto tão grande que estava sempre rodeado pela multidão, e era solicitado por todos. Por duas vezes o evangelista Marcos diz que não tinha nem tempo para as refeições (cf. Mc 3,20; 6,31). Além disso, os fariseus e escribas, movidos de inveja acusavam Jesus de estar possuído de Belzebu, príncipe dos demônios, e em nome dele expulsava os próprios demônios. É neste contexto conturbado que os familiares de Jesus “saíram para agarrá-lo, pois diziam: ele está louco” (Mc 3,21). Não puderam se aproximar por causa da multidão. Avisaram-lhe, então: “Tua mãe e teus irmãos estão aí fora e te procuram”. Ele respondeu: “Quem é minha mãe, meu irmão, minha irmã”? E, apontando para a multidão, disse: “Quem ouve minha Palavra e a pratica, este é minha mãe, meu irmão, minha irmã” (Mc 3,31-35).
Num curso bíblico que participei (CEBI), um renomado e sério exegeta – Frei Carlos Mesters – assim se expressou sobre esta passagem: pela vida e testemunho de Maria, tenho a convicção de que, não podendo chegar até seu Filho, colocou-se na última fileira do povo e, num lugar mais elevado (cadeira), levantou os braços e fez “sinal de positivo” quando falou: “minha mãe é todo aquele que faz a vontade do meu Pai”!
É assim que Maria está no meio do povo, tanto nos momentos difíceis como nos alegres. Ela continua apregoando: “Fazei tudo o que Ele vos disser” (Jo 2,5).
O Documento de Aparecida, com propriedade, afirma: “Maria pertence ao povo e o povo a sente como mãe e irmã” (DAp, 269). Na abertura desta mesma Conferência, Bento XVI disse aos prelados e, consequentemente, a nós: “Permaneçamos na escola de Maria”.