Vida Cristã - Província Franciscana da Imaculada Conceição do Brasil - OFM

A Covid-19 e o tempo de Deus

29/06/2020

 

                                                                                                            Imagem ilustrativa: (Fonte: Acervo Província da Imaculada)

 Frei Luiz Iakovacz

A Covid-19 é uma doença infecciosa causada pelo “coronavírus da síndrome respiratória aguda grave-2”. Seus sintomas são amplamente conhecidos e o tratamento não é feito com remédios, apenas com medidas preventivas, especialmente a do isolamento social. Isolar-se parece simples, mas não é. Exige muito da pessoa, pois quebra o costumeiro convívio social e o ritmo do trabalho. Impõe-se uma “nova adequação” à vivência do dia a dia com o “# fique em casa” e, consequentemente, sem salário.

Esta situação despertou uma imensa solidariedade, tanto em bens materiais como humanitários. Na contramão, houve também quem se aproveitasse da pandemia para enriquecimento ilícito. Em todas as ações solidárias, Deus, direta ou indiretamente, era lembrado, especialmente nas orações.  A mídia e a internet tornaram-se veículos que ainda comunicam as mais variadas preces – como que esperando ou, até, “cobrando” – uma ação mais direta de Deus.

Um vídeo, por exemplo, mostrou uma criança que pedia para mãe levá-la até a casa da coleguinha para brincar. A mãe diz que não pode, mas que reze a Deus para que “afaste esta maldita doença”. Ela o faz com uma linguagem direta e comovente à qual qualquer pai se renderia.  Por sua vez, os adultos endossam a “corrente das mil Ave-Marias para Deus limpar a pandemia”. O áudio pede para “não quebrar a corrente” e enviá-lo a outras dez pessoas que deverão fazer o mesmo. Mas há, também, orações expressivas e profundas, mais centradas em Deus que nos próprios interesses.

Ao sair do Egito, “após 430 anos de escravidão” (Ex 12,40), Deus poderia conduzir o povo à Terra Prometida “pelo caminho dos filisteus, o mais curto” (Ex 13,17). Era questão de alguns meses. Porém, preferiu “dar uma volta pelo deserto do Mar Vermelho” (Ex 13,18), num tempo estimado de “quarenta anos” (Ex 16,35). Nesse período foi alimentado com o maná do céu, com carne de codornizes (cf. Ex 16,1-31) e saciado com a água do rochedo (Ex 17,1-7). No Monte Sinai, fez uma Aliança com Israel, dizendo-lhes: “Se fordes fiéis à minha Aliança, sereis minha propriedade particular entre todos os povos” (Ex 19,5) e “sereis o meu povo e Eu serei vosso Deus” (Lv 25,12).

Mesmo diante de tantos benefícios e promessas, os israelitas murmuravam dizendo que tinham fome e sede, que era preferível ficar no Egito como escravos, pois “sentávamos junto às panelas de carne e comíamos pão com fartura” (Ex 16,3). Propunham, inclusive “escolhamos um chefe e voltemos para o Egito” (Nm 14,4). O auge da revolta foi o rompimento da Aliança, pois fabricaram um bezerro de ouro e rezavam “foste tu que nos tiraste do Egito”, ofereceram-lhe holocaustos e fizeram festa (cf. Ex 32,1-14).

Por sua vez, Deus extravasa o coração, dizendo: “Vejo que este é um povo de cabeça dura” (Dt 9,13) e, como repreensão, permite-lhe um surto de cobras venenosas que causaram muitas mortes. Na sua misericórdia, porém, “quem olhasse para a serpente de bronze pendurada numa haste, ficava curado” (cf. Nm 21,4-9).

Na “quarentena” do povo hebreu, Deus confia nas lideranças, especialmente em Moisés, com quem “falava face a face” (Ex 33,11). Ele é o libertador e legislador, “o maior profeta em Israel” (Dt 34,10) e um intercessor junto a Deus: “Senhor, peço-te, caminha conosco! Embora este seja um povo de cabeça dura, perdoa nossas faltas e pecados” (Ex 34,9). Deus o atendeu, mas não o deixou entrar na Terra Prometida, morrendo às portas dela, no Monte Nebo e ninguém sabe onde está sua sepultura (cf. Dt 34,5-6).  (É estranho que uma liderança tão expressiva, tenha tal desfecho. Talvez seja uma antecipação do que aconteceria com outras lideranças de ontem, de hoje e amanhã).

Qual é a pedagogia de Deus que não optou por um “caminho mais curto” e conduziu o povo ao deserto durante 40 anos e que lhe causou tantos dissabores?!

“Quarenta anos no deserto” não significa a sucessão de dias, meses e anos (cronologia), mas é o tempo kairológico da Deus. Assim como há o tempo próprio para o plantio e colheita de cereais – assim, também, há o tempo propício para a ação de Deus. Os “40 anos bíblicos” consistiam em dizer que esta era a média de vida do ser humano e, também, o “tempo necessário para uma mudança de mentalidade”, que pode durar gerações.

A pedagogia de Deus é tirar-lhes os costumes egípcios, encrustados em suas mentes, durante a escravidão e, em seu lugar, colocar a Aliança: Israel terá um único Deus e todos são irmãos, inclusive, os inimigos. Isto era inconcebível à cultura egípcia e ao Faraó.

A mudança de mentalidade passa por gerações e é difícil. É o tempo de Deus, o tempo propício para a conversão que vai desde o nascimento até a morte.

O apóstolo Paulo escreve na carta aos Romanos: “Não vos conformeis com este mundo, mas transformai-vos, renovando vosso modo de pensar para que possais discernir qual é a vontade de Deus” (Rm 12,2).

A conclusão desta “quarentena” podem ser as palavras da cantora e pastora evangélica Aline Barros: “Quando passares por momentos difíceis e perguntares onde estará Deus – lembra-te que, durante a prova, o professor está em silêncio”.


Frei Luiz Iakovacz, vigário paroquial, reside na Fraternidade Nossa Senhora do Rosário, em Concórdia.

Free Download WordPress Themes
Download Premium WordPress Themes Free
Download Premium WordPress Themes Free
Download Premium WordPress Themes Free
free download udemy paid course
download mobile firmware
Download WordPress Themes Free
free download udemy course

Conteúdo Relacionado