Frei Luiz Iakovacz
Do primeiro ao último dia de junho, festas populares pululam em todos os recantos da sociedade: igrejas, escolas, associações, entidades públicas ou comerciais.
Por que toda essa efervescência? Porque há uma longa caminhada histórica, mesclando o popular com o religioso e vice-versa. Vejamos! Dos doze meses, junho é o sexto, isto é, está no meio e é nele que acontece o primeiro solstício do ano. No Hemisfério Norte, inicia-se o verão com o dia mais longo do ano, enquanto o Hemisfério Sul entra no inverno, com seu dia mais curto. No frio, plantam-se trigo e colhem-se frutas, milho, batata, pinhão; no verão, plantam-se e colhem-se feijão, arroz, verduras, milho.
O agricultor festeja o plantio e a colheita no início do inverno e do verão.
Na Grécia antiga, junho era o mês recheado de festas e de Jogos Olímpicos. O povo romano dizia que ele tem sua origem na deusa Juno, esposa de Júpiter, padroeira do casamento; ela é a protetora do lar e da mulher (fertilidade). Portanto, há um misto cultural interligando o religioso com a natureza e esta com aquele. Em ambos, festeja-se o início da vida (plantio, gravidez) e a gratidão pelo fruto colhido.
A Igreja Católica, em junho, celebra três santos que se tornaram os mais populares de todos: Santo Antônio (13), São João Batista (24) e São Pedro (29).
Santo Antônio, um apaixonado pela Bíblia, era dotado de extraordinária inteligência e foi o pregador mais popular da Itália, atraindo multidões que, tocadas pela Palavra de Deus, se convertiam. Morreu jovem, aos 36 anos, e foi canonizado apenas 11 meses após sua morte. Já em vida era tido como “santo milagreiro”. Apesar da popularidade, não se envaideceu. Viveu uma vida simples, trabalhando na cozinha e limpando a casa onde morava; no meio do povo, escutava e atendia a todos, especialmente os mais humildes. Isto criou laços afetivos tão fortes que o próprio povo o invocava quando desaparecia qualquer coisa… Era ele que fazia encontrar o que “estava perdido”. Quando os pobres passavam privações ou injustiças, ele era o “pão dos pobres”. Há uma crença de colocar o “pão de Santo Antônio” junto aos alimentos para que estes nunca faltem. O profeta Elias fez o mesmo com a viúva de Sarepta (cf. 1 Rs 17,7-16).
Diferentemente de Santo Antônio, João Batista viveu uma vida austera no deserto, vestindo roupas rudes e alimentando-se com gafanhotos e mel silvestre (cf. Mt 3,4). Mas, a maneira inusitada do seu nascimento – de um casal idoso e estéril – trouxe uma alegria em toda a região, que se reuniu para celebrar este extraordinário fato e, no oitavo dia, o circuncidou (cf. Lc 1,57-80).
Por que não pensar na possibilidade do povo, ao redor de uma fogueira – como já era costume -, partilhar os primeiros frutos da colheita, soltar foguetes e balões, dançar e festejar?
O povo é muito imaginativo e começa a dizer: “Isabel combinou com Maria que, quando nascesse o menino, acenderia uma fogueira para avisá-la”; “os balões que sobem, levam os pedidos ao céu”; “os fogos afugentam os maus espíritos e acordam São João”; a dança faz parte da alegria e da festa partilhada.
São Pedro, o primeiro dos apóstolos, é representado com as chaves; é ele que “abre ou fecha a porta do céu… é ele que fecha ou abre a torneira para chover ou não”. Como pescador, é padroeiro deles e são eles que realizam a procissão fluvial ou marítima. Como casado, é padroeiro das viúvas e a elas cabe organizar a festa.
Em suma, os 3 santos mexem com o dia a dia do povo, especialmente dos mais humildes. Mas o que “pega mesmo” é o casamento, do qual Santo Antônio é o referencial. Chega-se, até, à “certa violência”, amarrando sua imagem de cabeça para baixo ou separando o Menino Jesus de seus braços.
Será maldade?! Com certeza, não! O casamento é algo tão forte no ser humano que a sociedade “estranha” quem não se casa. Querendo ou não, a religiosidade popular vem ao encontro do imaginário do povo, e é criativa. Pode ser, até, que “acrescenta, mas não inventa”. É preciso acreditar mais na força do povo.