Frei Luiz Iakovacz
Bendita cruz que fez o apóstolo Paulo “cair do cavalo” e mudar seu jeito de pregar e viver. Será isso verdade? Como e onde aconteceu?
De fato, essa reviravolta não se deu no caminho de Damasco (cf. At 9,1-30), mas no surpreendente fato ocorrido entre as cidades de Atenas e Corinto. O “apóstolo das gentes”, ao chegar em Atenas viu uma “cidade cheia de ídolos”. Ficou revoltado e discutia na sinagoga e praças anunciando um único Deus. Os filósofos se acercaram dele e o convidaram para que fosse ao Areópago, que era o centro de debates e exposição de doutrinas. Paulo aceitou e, “de pé, no meio do Areópago” – fazendo uso da retórica e, até de poetas gregos -, expôs a doutrina de um único Deus, Criador de tudo e Senhor da história. No final dos tempos, Ele julgará o mundo com justiça, através de seu Filho Ressuscitado. Quando concluiu, alguns caçoavam e outros diziam “… sobre isso, te ouviremos numa outra ocasião”… numa linguagem de hoje seria o mesmo que dizer: “…tchau e bênção”! Só alguns aderiram a ele (cf. At 17, 16-34).
“A seguir, Paulo deixou Atenas e foi para Corinto” (At 18,1). Aí encontrou o casal Áquila e Priscila e, por terem a mesma profissão (fabricantes de tendas), Paulo passou a morar com eles. (cf. At 18,3). Participava da sinagoga, aos sábados e, numa noite, o Senhor lhe falou: “Não tenha medo, continue a falar. Eu estou contigo. Nessa cidade há um povo numeroso que me pertence” (At 18,9-10).
Como será que o apóstolo se apresenta, após o “fracasso” de Atenas?
Ele mesmo descreve: “Quando fui ao encontro de vocês, não me apresentei com o prestígio da oratória ou da sabedoria para anunciar-lhes o mistério de Deus. Entre vocês, eu não quis saber outra coisa a não ser Jesus Cristo, e Jesus Cristo crucificado” (1 Cor 2, 1-2). E continua: “Os judeus pedem milagres, os gregos procuram a sabedoria, nós, porém, anunciamos Cristo crucificado, escândalo para os judeus e loucura para os pagãos; mas, para os que creem, é poder de Deus e sabedoria de Deus” (1 Cor 1,22-24).
Essa cruz que Paulo vivenciou o colocou numa encruzilhada. Venceu-a porque não se “amoldou às estruturas deste mundo, mas transformou-se pela renovação da mente a fim de discernir qual é a vontade de Deus” (Rm 12,2). O Documento de Aparecida chama este processo de “conversão pastoral”, tão premente e necessária em nossos dias.
Mas… é preciso, também, proclamar: bendita a cruz física de Cristo porque, por e através dela, a Ressurreição renovou e renova a humanidade:
● da cruz nasce a vida nova de Saulo,
● da cruz nasce a conversão de Agostinho,
● da cruz nasce a pobreza feliz de Francisco de Assis,
● da cruz nasce a bondade irradiante de Vicente de Paulo,
● da cruz nasce o heroísmo de Maximiliano Kolbe,
● da cruz nasce a caridade de Madre Teresa de Calcutá,
● da cruz nasce a coragem de João Paulo II,
● da cruz nasce a revolução do amor!
Por isso a cruz não é a morte de Deus, mas é o nascimento do seu Amor no mundo. Bendita seja a cruz de Cristo!