Vida Cristã - Província Franciscana da Imaculada Conceição do Brasil - OFM

Prosélitos e tementes a Deus: Propulsores do cristianismo primitivo

26/07/2021

 

                                                                  Afresco em um túmulo na Catacumba dos Santos Marcelino e Pedro, em Roma.

Frei Luiz Iakovacz

Ao lermos Atos dos Apóstolos, salta aos olhos o vertiginoso crescimento numérico de cristãos: de 3 mil em Pentecostes (2,41), logo passa para 5 mil (4,4) e, assim, sucessivamente, até chegar a uma “multidão de homens e mulheres” (5,14), inclusive, de sacerdotes israelitas (6,7) e pagãos (14,13-18). Tanto é verdade que, ao findar o século I, estava presente em todo o Império Romano.

A razão fundante deste crescimento é o Espirito Santo. Ele “enche os apóstolos de sabedoria” para testemunharem Jesus diante do Sinédrio (4,8) e dos Procuradores romanos (26,1-3).

Motiva a comunidade de Antioquia para a missão (13,2-3), persiste com Paulo para que evangelize a Europa à qual não estava propenso (16,6-10). É Ele que prepara a família do Centurião Cornélio para acolherem o Evangelho (10,1-8). Enfim, o Espírito Santo é citado 55 vezes, agindo nas mais diversas situações. Por isso, na Igreja Primitiva, era conhecido como “Evangelho do Espírito Santo”.

Ele inspira grupos e pessoas, e os impele à missão: o Colegiado dos Doze, os Sete Diáconos (6-8), as duplas Barnabé/Paulo (11,25; 13,6-7), Priscila/Áquila (18,1-4), Timóteo/Tito e outros.

Inspira missionários itinerantes, como o ‘vaticinista’ Ágabo (11,27-30), o `biblista´ Apolo (18,24-28) e um número de mulheres, como a rica Lídia (16,14-15), as incansáveis Maria e Julia, Trifosa e Trifena, Pérside e Olímpia (Rm 16,6-16).

Todos estavam comprometidos com Jesus, pois “recebereis o Espírito Santo e sereis minhas testemunhas em Jerusalém, na Judeia, na Samaria e nos confins do mundo” (1,8), isto é, proclamareis o Evangelho pelo anúncio da Palavra e vivência da mesma.

Para sua maior propagação, os muitos israelitas que moravam fora do país (Judeus da Diáspora) foram de suma importância. Segundo a História, eram tantos quanto os do próprio país.

O motivo desta emigração era sociológico, pois grande parte dele não possuía terra e o único meio de sobrevivência era ´ser diarista´. A Parábola dos Operários da Vinha comprova-o porque o patrão encontra pessoas desempregadas nas diferentes horas do dia em que passou na praça (Mt 20,1-7). Os endividados estavam sujeitos a serem presos ou escravizados, como relata a Parábola dos Servos Devedores (Mt 18,23-35). Por isso a emigração.

Segundo os historiadores Estrabão e Flávio Josefo, os Judeus da Diáspora estavam presentes em quase todas as cidades do Império Romano. Moravam em bairros à parte com organização administrativa e judiciária próprias. Podiam, inclusive, ter ‘título de cidadão romano’, por aquisição ou privilégio. Tinham suas sinagogas e estavam dispensados de participarem das cerimônias pagãs.

Tudo isso era reconhecido pelo Império que lhes garantia proteção. Porém, os prosélitos e tementes a Deus eram excluídos destes privilégios.

Proselitismo consistia em convencer um pagão a abraçar a religião judaica, cultuando um único Deus e observar a Lei Mosaica e suas tradições.

O AT, seguidamente, alertava Israel que sua eleição de povo escolhido não era para vanglória, mas ser “luz das nações” (Is 42,6; 49,6). E, se Deus “vos espalhou entre os povos é para que os façais saber que não há outro Deus, senão Ele” (Tb 13,3-4). O próprio Cristo fala do zelo que os escribas e fariseus tinham em conquistar novos prosélitos (Mt 23,15).

Os ‘tementes a Deus’ aceitavam Javé como único Deus, enquanto que os ‘prosélitos’ assumiam, também, a Torá, inclusive, a circuncisão. Ambos se ressentiam em não participarem das benesses que os romanos concediam aos Judeus da Diáspora e que, por ocasião da peregrinação ao Templo em Jerusalém, terem acesso somente até o ‘pátio dos gentios’. Não podiam entrar na casa de um judeu (vice-versa) e, muito menos, de participarem das refeições.

Ao serem evangelizados, sentiam-se atraídos pela pessoa de Jesus Cristo e sua doutrina. Sendo Deus, assumiu, livremente, as condições de uma vida humana, viveu como pobre, convivia com os excluídos e fazia refeição com eles. Atraía-lhes a consciente postura frente às questões de comida, do puro/impuro, do sábado e suas tradições. Atraía-lhes as pregações feitas mais nas casas, ao ar livre ou nas perguntas dos interlocutores do que no Templo e sinagogas. Acima de tudo, de um Deus que deu sua vida, livremente, para salvar a todos, indistintamente.

Com Jesus, por assim dizer, ‘sentiam-se em casa, pois Ele era um deles’. Mais ainda, Jesus não só pregou o Evangelho e retornou ao Pai – como que ‘deixando-os órfãos’ – mas porque continua presente na Eucaristia, dando-lhes “coragem, pois Eu venci o mundo” (Jo 16,33) e “eis que estarei convosco todos os dias até o fim dos tempos” (Mt 28,20).

Que todo o bem seja feito para o “louvor de Cristo, amém”, diz São Francisco.


Frei Luiz Iakovacz, OFM, frade desta Província da Imaculada, reside na Paróquia Nossa Senhora do Rosário, em Concórdia, SC.

Download Premium WordPress Themes Free
Download Best WordPress Themes Free Download
Download Best WordPress Themes Free Download
Download WordPress Themes Free
download udemy paid course for free
download lava firmware
Free Download WordPress Themes
ZG93bmxvYWQgbHluZGEgY291cnNlIGZyZWU=

Conteúdo Relacionado