Frei Luiz Iakovacz
No dia 08/12/2017, o Papa Francisco iniciou uma série de catequeses sobre a Celebração Eucarística. Foram 15 quartas-feiras onde, de modo simples e direto, falou da importância da Missa na vida dos cristãos.
O teólogo e liturgista Luciano Massullo, na revista Vida Pastoral maio-junho/2021, acrescentou e/ou confirmou as catequeses do Papa com documentos da CNBB e do CELAM.
O mesmo podemos fazer com alguns textos de São Francisco. Se este realizou uma “verdadeira cruzada” para que os frades zelassem pelas alfaias com “cálices dourados e corporais de linho puro” (1Ct 2-4) – também o fez com a Palavra.
Na carta dirigida a toda Ordem, suplica e admoesta os irmãos que “onde encontrarem as palavras divinas as venerem. Se as encontrarem sem a honra devida, recolham-nas e guardem-nas em lugar digno, honrando o Senhor que as falou. Pois é em virtude das Palavras de Cristo que se realiza o sacramento do altar” (Ord 35-38).
Numa das primeiras catequeses, o Papa diz que o “fiel tem o direito de receber a Palavra de Deus, bem lida, bem proclamada e, depois, bem explicada, na homilia. É um direito”!
Consciente dos sermões sem muita fundamentação bíblica e das heresias que pululavam em sua época, Francisco de Assis exigiu que os “frades pregadores fossem examinados e aprovados pelo Ministro Geral (Rb 9,2).
Porém, ninguém pode se eximir de “pregar com as obras” (Rnb 17,3).
O essencial da Liturgia da Palavra é “estabelecer um diálogo entre Deus e o povo. A Palavra de Deus é Palavra de Deus e não manchete de um jornal”, diz o Papa. E continua: “Não é suficiente escutar com os ouvidos, sem acolhê-la no coração e, do coração, às mãos, às boas ações. Este é o percurso da Palavra: dos ouvidos ao coração, do coração às mãos”.
São Francisco, na VII Admoestação, após exaltar os sofrimentos de Cristo e daqueles que O seguiram na “tribulação, na vergonha e na fome”, conclui dizendo que é uma “vergonha para nós – que os santos tenham feito tantas obras – e nós querermos receber honra e glória, só por contarmos o que eles realizaram”.
“O que é a homilia”, pergunta o Papa. Ele mesmo responde, “é uma conversa familiar, uma conversa entre amigos para encorajar, exortar, corrigir, educar e alegrar o coração” e “deve fazer o mesmo percurso da Palavra proclamada: do ouvido para o coração e, do coração para as mãos”.
Sobre o pregador diz que “quem faz a homilia deve estar consciente de que não prega algo próprio, mas a Palavra de Jesus. Deve ser preparada, deve ser breve, breve! […] Prepara-se a homilia com a oração e com o estudo da Palavra, fazendo um síntese clara e breve”.
Na sua Regra de Vida, Francisco escreve: “Admoesto e exorto os irmãos que, na pregação, seja sua linguagem ponderada e casta, para a utilidade e edificação do povo, anunciando-lhes, com brevidade, os vícios e as virtudes, o castigo e a glória porque o Senhor Jesus usou da palavra breve” (Rb 9,4; cf. Rm 9,28).
Dizia, também: “O pregador deve haurir nas orações pessoais aquilo que, depois, vai difundir em palavras; deve antes aquecer-se por dentro para não proferir palavras frias” (2Cel 163,3).
Como conclusão, vejamos o esqueleto da pregação de Pedro no dia de Pentecostes (At2 2,14-36). Primeiramente, com a Bíblia, corrige os que caçoavam dos apóstolos dizendo que estavam embriagados (v.13).
Cita o texto do profeta Joel onde Deus derramará seu Espírito e todos profetizarão, realizando prodígios (vv. 16-21). Em seguida, faz uma grande homilia sobre a pessoa de Jesus e sua doutrina (vv. 22-36).
A Palavra tingiu em cheio os ouvintes que, com o “coração compungido”, perguntam: “Que devemos fazer?!” (v.37). A resposta é que se arrependam dos pecados e sejam batizados. “Nesse mesmo dia, uniram-se a eles cerca de três mil pessoas” (v.41). É o início da Igreja!
A homilia de Pedro se encaixa, direitinho, no percurso acima descrito: preparou-se no Cenáculo com um grupo de 120 pessoas (At 1,12-15), fez uso da Bíblia (2,14-36), atingiu o coração dos ouvintes, levando-os à conversão (2,37-41).
O mesmo poderemos realizar, hoje, se perfizermos o mesmo percurso. Mãos à obra!
Frei Luiz Iakovacz, OFM, frade desta Província da Imaculada, reside na Paróquia Nossa Senhora do Rosário, em Concórdia, SC.