Vida Cristã - Província Franciscana da Imaculada Conceição do Brasil - OFM

O Evangelho de Lucas

06/12/2018

 

                                                                                                     Imagem ilustrativa (fonte: El Greco, domínio público)

Frei Luiz Iakovacz

A cada primeiro Domingo do Advento, inicia-se um novo Ano Litúrgico. Nas leituras dominicais, é proclamado um dos três evangelistas sinóticos (Mt, Mc e Lc), enquanto que o de João ocupa um espaço maior nos ciclos do Natal e da Páscoa.

No Ano C, é o Evangelho de Lucas. Quem é ele?

Não é judeu, não conheceu Jesus e nem sequer ouviu suas pregações. Como pôde escrever duas obras, Evangelho e Atos dos Apóstolos? Merecem crédito?!

Segundo os críticos bíblicos do século II, Lucas é um antioqueno que se converteu ao cristianismo através dos vários missionários que passaram por aquela cidade siríaca: Barnabé, Paulo, Pedro, Marcos, Silas e outros. Nesta comunidade havia “profetas e doutores” (At 13,1), instruídos por Barnabé e Paulo (11,27), Tiago e Silas (15,32). É provável que Lucas fizesse parte desse grupo.

A Bíblia fala pouca coisa dele. Diz que era médico (Cl 4,14) e companheiro das viagens missionárias de Paulo. Isso se depreende porque o autor se inclui ao descrever algumas atividades, como “íamos à oração”, “embarcamos para Filipos” “encontramo-nos em Trôade”, “encontramos um navio e fizemo-nos ao mar” (cf. At 16,10-12; 20,5-8; 21,1-18; 27,1-27).

Foi colaborador de Paulo (Fm 24) e esteve em Jerusalém com ele (At 21,15-35). Numa de suas prisões, queixa-se que todos o abandonaram, “somente Lucas está comigo” (2Tm 4,11).

Por estes textos, podemos concluir que Lucas cultivou sua fé e participava de uma comunidade onde havia “profetas e doutores”. Mesmo assim, não é o suficiente para dar-lhe crédito total.

A crítica bíblica atesta que, ao escrever o Evangelho, Lucas tinha em mãos o de Marcos e a Fonte Quelle. Comparando um ao outro, percebemos que o Evangelho de Lucas tem 1.149 versículos, dos quais somente 424 são comuns. Os outros 548 são próprios de Lucas. Onde foi buscá-los?!

O prólogo (Lc 1,1-4) traz várias e substanciosas informações. Diz, textualmente, que muitos escreveram sobre a doutrina de Jesus. Não bastaria isso? Por que escrever mais? Isto não excita a curiosidade?

Diz, também, que quer apresentar uma obra de “maneira ordenada”. Para isso, “investigou tudo, cuidadosamente”, consultando, inclusive, “testemunhas oculares” e que se tornaram “servidores da Palavra”. Dedicou seu trabalho a Teófilo para que “conheça melhor a solidez da doutrina em que foste instruído”.

Estamos, portanto, diante de um pesquisador sério. Não só! É, também, um teólogo-pastoralista. Escreve para as comunidades recém-fundadas, composta de recém-convertidos gentios.

Seu Evangelho apresenta Jesus fazendo uma grande viagem da sua cidade (Nazaré) até a capital Jerusalém, onde vive os últimos dias. Durante o peregrinar, evangeliza nas sinagogas e praças, nas famílias e nas perguntas que lhe fazem. Os Atos dos Apóstolos mostram discípulos e comunidades evangelizando a partir de Jerusalém, passando pela “Judeia, Samaria, até os confins do mundo” (At 1,8). As duas obras estão bem concatenadas entre si e com um invejável fio-condutor.

Jesus age com a “força do Espírito Santo” (Lc 4, 1.14), faz o bem e cura a todos. Os Atos mostram as comunidades testemunhando Jesus com a mesma força do Espírito Santo (At 4,8), curando doentes (3, 1-10) e sofrendo martírio (7, 54-60). O Espírito Santo é o grande protagonista. É citado 36 vezes, praticamente, o dobro dos outros Evangelhos e, nos Atos, 70 vezes.

O curioso é que nenhum outro texto bíblico mostra, tão claramente, o caminho de Jesus e o das comunidades.

Cristo é o Salvador de todos, judeus e não judeus. O objetivo de Lucas, porém, é “solidificar a fé” das comunidades convertidas. Tem um carinho especial aos grupos marginalizados: mulheres, estrangeiros, pobres, doentes e pecadores.

As perícopes que lhe são próprias encaixam-se, perfeitamente, com os destinatários: missão dos 72 discípulos, o bom samaritano, o filho pródigo, Zaqueu, o rico opulão e o pobre Lázaro, a viúva de Naim, o bom ladrão, os discípulos de Emaús.

É também o protagonista das mulheres. Algumas delas, “cheias do Espírito Santo”, profetizam e bendizem a Deus, como Maria (1,35. 46-56), Isabel (1,41-45) e Ana (2,36-38). Outras (Maria Madalena, Joana, Susana) são suas discípulas e O sustentam com seus bens (8,1-3). São elas que vão ao encontro de Jesus no caminho do Calvário (23,27-28) e estão ao pé da cruz (23,49).

É curioso este fato: os Livros Apócrifos pululavam em todos os recantos e, para serem bem acolhidos, davam-lhes nomes de um dos apóstolos, de profetas ou patriarcas e, até, de mulheres.
Por que será que ao autor de uma obra tão bem estruturada e fundamentada nenhum apócrifo lhe é atribuído?

Por fim, a curiosidade da dedicatória, “caríssimo Teófilo”, que pode ser o mecenas que custeou a obra, bem como um personagem romano para que favorecesse a expansão do cristianismo. Ou – como é o consenso mais provável – seja a própria etimologia da palavra, “amigo de Deus”.

Incluo-me entre aqueles que, durante este Ano C, procurarão ser um “mecenas” gratuito do Evangelho, um “personagem” líder que cria estruturas para que a “solidez da doutrina” prospere e, acima de tudo, um apaixonado “amigo de Deus” que faça “arder os corações quando explicar o sentido das Escrituras” (Lc 24,32).

Download Premium WordPress Themes Free
Download WordPress Themes Free
Download WordPress Themes Free
Download WordPress Themes
free download udemy paid course
download karbonn firmware
Download WordPress Themes Free
download udemy paid course for free

Conteúdo Relacionado