Frei Luiz Iakovacz
A Folhinha do Sagrado Coração, em suas efemérides, registra que dia 25 de maio é o Dia da África. Fiquei curioso e fui buscar informações. Consegui reunir algumas delas que, certamente, são incompletas e falhas.
A África é um continente milenar, constituído por inúmeras etnias. Ocupa determinados espaços geográficos, tendo cultura e costumes próprios, inclusive, na vivência religiosa.
Atualmente, é formado por 54 países, dos quais, 6 são insulares. Desde 1460, quando os portugueses aportaram em Cabo Verde, os europeus foram adentrando, paulatinamente, em todas “as vastas e ricas terras africanas”.
França, Inglaterra, Alemanha e Portugal eram as que mais tinham “colônias”. A divisão e consolidação definitivas foram estabelecidas na Conferência de Berlim, num percurso de dois anos, 1884/1885. Nela se estabeleceu que os europeus têm “direito às riquezas humanas e naturais do continente”.
A Independência só aconteceu nas últimas décadas. Dois motivos foram cruciais. De um lado, após a Segunda Guerra Mundial (1939-1945), a Europa, como um todo, estava destruída e o declínio econômico era visível. Urgia a própria reconstrução. Isto enfraqueceu seu controle sobre os territórios africanos.
Por sua vez, a África, também como um todo, ansiava pela libertação. Se, em 1914, apenas, Etiópia e Libéria eram independentes – já em 1963, são 35. Neste mesmo ano, em 25 de maio, a Organização de Unidade Africana (OUA) instituiu o “Dia da África”, na cidade de Addis Abela (Etiópia). Assinaram a Declaração 30 líderes dos 35 países independentes. Seu objetivo é “defender e emancipar o continente africano, libertando-o do colonialismo e apartheid”.
Em 2002, a sigla OUA mudou para UA (União Africana), mantendo, porém, a data e seus objetivos.
O grande e maior desafio consistia em “resolver os constantes conflitos dentro do próprio continente” porque a diversidade de tribos e culturas – às vezes, dentro do próprio país – geravam “guerras civis e golpes de estado”. Ainda hoje, esta situação persiste em vários países.
Será que este continente tem alguma relação com o Povo de Israel e, por extensão, com o cristianismo?!
A Bíblia nos diz que o Patriarca Abraão veio morar no Egito (cf. Gn 12,10-20), bem como seu neto Jacó com os 12 filhos (cf. Gn 46,1-34). O motivo foi a fome (Gn 12,10; 42,1-2). Esta última estadia, incluindo a escravidão, foi de 430 anos (Ex 12,40).
No Século II antes de Cristo, a tradução da Bíblia Hebraica para o grego (Septuaginta), aconteceu em Alexandria (Egito). Neste mesmo país, Maria e José refugiaram-se com Jesus e, para protegê-lo da morte, planejada por Herodes (Mt 2,13-15).
O diácono Filipe evangelizou e batizou um eunuco etíope, alto funcionário da rainha Candace (At 8,26-40). A Tradição Católica relata que o evangelista Marcos teria evangelizado Alexandria, onde sofreu o martírio. O grande Santo Agostinho (354-430), bispo e doutor da Igreja, é um africano de Tagaste (Argélia).
Por sua vez, a Igreja, não deixou de evangelizá-la. No Período Colonial (séculos XV a XX), junto com os exploradores, vinham missionários e missionárias que, dentro do sistema do Padroado – bem ou mal – também evangelizavam.
Congregações, tanto masculinas como femininas, marcaram presença na África. Os Padres Brancos, por exemplo, realizaram profícuo trabalho em Uganda onde aconteceu o martírio de 22 jovens leigos, entre os anos 1885/1887. Sua canonização deu-se em 1964, por Paulo VI, durante o Concílio Vaticano II (1962-1965). Esses mártires são os padroeiros da Paróquia da Katepa, onde atuam os frades. Não podemos esquecer o simultâneo martírio de 14 membros da Igreja Anglicana que conviviam, harmoniosamente, com os católicos, num profético testemunho ecumênico.
Nos últimos anos, a Igreja realizou dois Sínodos dos Bispos Africanos. Um, em 1994, por João Paulo II e o outro em 2005, por Bento XVI. Esse mesmo Papa afirmou que a “África é a esperança da Igreja”.
Essa esperança tem sua razão de ser porque há um crescente e contínuo número de batizados e de vocações, inclusive, com missionários além-fronteiras; há criação de novas Dioceses e reestruturação de outras; a vitalidade das liturgias é palpável; a Igreja atua nas áreas sociais, o que lhe dá credibilidade junto ao povo.
Por causa disso, o tema do segundo Sínodo “A Igreja em África a serviço da reconciliação, da justiça e da paz” insiste que ela continue evangelizando no campo social.
O “instrumentum laboris” tem frases incisivas, como: “Há guerras fraticidas, alimentadas por um tráfico de armas sem escrúpulos, provocando um espetáculo vergonhoso de refugiados”; “é escandaloso ver a quantidade de riquezas acumuladas nas mãos de uns privilegiados”; “a África encontra-se dependente de países ricos que procuram dar uma mão e levar o dobro com a outra”; “a maioria da população africana vive num estado de carência de bens e serviços de primeira necessidade”; “a mortalidade infantil não para de crescer”; “a taxa de alfabetização mantém-se entre as mais baixas do mundo”… e assim por diante.
Esta “leitura da realidade” é feita em todos os países. É aqui que a Igreja – com posturas explícitas – também, precisa atuar. Para isso, é importante o apelo que o anjo faz a Elias. Acorda-o (= vê a realidade) e diz: “Levanta-te e come porque tens um longo caminho a percorrer” (1Rs 19,7).