Uma vida na formação franciscana
19/03/2020
Moacir Beggo
Gaúcho, aos 89 anos, Frei Alcides Cella passou a maior parte dos seus 75 anos de vida religiosa franciscana trabalhando com a formação. “Eu me sinto realizado na Ordem Franciscana, que tem espaço e abertura para todos!”, diz Frei Alcides, que reside na Paróquia São José de Coronel Freitas desde 2002, onde já foi guardião e vigário paroquial, sempre se dedicando ao “Boletim da Paróquia”. Nesta entrevista, ele traça um histórico de sua vida familiar e religiosa franciscana e já está na expectativa de celebrar 60 anos de vida sacerdotal no próximo mês de dezembro. Acompanhe!
Site Franciscanos – Frei, por favor, fale um pouco de sua família.
Frei Alcides – Sou filho de Ângelo e Assumpta Zordan Cella, nascido no dia 13 de julho de 1931, em Guaporé, hoje Serafina Correa, no Rio Grande do Sul, Comunidade da Linha 14. Somos 10 irmãos (05 homens e 05 mulheres), todos, menos eu, casados e com filhos! Quando tinha meus 4 anos, a família veio de mudança para Aratiba, nas proximidades de Erechim (RS), Paróquia São Pedro de Sede Dourado, localidade de Rio Anta, onde frequentei a escola primária até 4ª série. A professora foi Zita Flach Hendges, por mim, muito estimada e que, anos depois, transferiu-se para Chapecó com a família, sendo professora e diretora numa escola do Bairro Passo dos Fortes. Vejam sua importância: Neste Bairro Passo dos Fortes, o município de Chapecó construiu uma Escola Modelo de Formação, com o nome de Zita Hendges, inaugurada em 2019. Em 1945, minha família mudou-se para a comunidade próxima, Linha Basso, que em seguida recebeu o nome da Padroeira, Santa Lúcia da União. Dois dias depois desta mudança, com a idade de 13 para 14 anos, com a orientação e exemplo do jovem padre Frei Artur Kleba, que muito me impulsionou, e que atendia em Três Arroios e Sede Dourado, ingressei no Seminário Franciscano de Luzerna (SC). Na época, esta região do Noroeste do RS, era atendida pela Província da Imaculada. Menciono as paróquias: Gaurama, Três Arroios, Aratiba, Mariano Moro, Severiano de Almeida e “Não-me-Toque”!
Site Franciscanos – A família sempre lhe apoiou?
Frei Alcides – Quanto à família, sempre me senti apoiado pelos pais e ajudado também pelos irmãos(as), recordando com gratidão do ‘mano’ Claudino, que estudou até quase ao final da Teologia em Petrópolis e foi aconselhado a desistir pelo mestre Frei Marcelo Gomes. Ele cursou a USP, recebeu bolsa de estudo para um curso de linguística na França, onde se formou e defendeu a tese que a Universidade publicou em um livro. Eu possuo este volume de 600 páginas, ainda em folhas datilografadas: Académie de Nancy – Metz – Université de Metz- com o conteúdo da Tese: Étude Comparative- Système Verbal Français et Système Verbal Portugais- Doctorat 3e Cycle de linguistique- presenté par Claudino Cella- Anée 1978. Obs. A Universidade publicou esta tese em livro depois da morte do meu irmão e enviou para diversas universidades; eu não consegui mais um exemplar desta impressão oficial! Ele faleceu depois de cirurgia de coração que não deu certo.
Sou grato também pela ajuda de minha irmã Ortencila, que reside em São Leopoldo (RS); de Letícia, que mora em São Paulo; trabalhou até se aposentar em companhias aéreas (ela me proporcionou viagens para a Europa, Terra Santa e Monte Sinai, que então pertencia a Israel, passando depois para o controle político do Egito).
Site Franciscanos – Como se deu a sua formação religiosa e franciscana?
Frei Alcides – De 1947 a 1950 estudei no Seminário São Luís de Tolosa, em Rio Negro, no Paraná. De 1951 a 54, fiz o Segundo Grau em Agudos (SP). O Noviciado em Rodeio, em 1955, cujo Mestre era Frei Hugolino Becker. Recebi o nome de Frei Benjamin! A Filosofia (dois anos) foi em Curitiba e a Teologia, em Petrópolis, de 1958 a 1960.
Fui ordenado sacerdote no dia 14 de dezembro de 1960. Minha primeira missa solene se realizou em Sede Dourado, hoje Paróquia São Pedro, no dia 1° de janeiro de 1961; nos dias seguintes, na comunidade de Santa Lúcia da União; dia 6 de janeiro de 1961, na Colônia Cella, em Chapecó, que era atendida por Frei Helvico Meyer.
Após a ordenação sacerdotal, nossa turma teve um ano de estágio no Convento Santo Antônio, no Rio de Janeiro, sob a orientação de Frei Pascásio Retler, atendendo comunidades da região, sobretudo da Baixada Fluminense.
A primeira transferência, de 1962-1965, foi para Duque de Caxias, atendida pelos franciscanos. Em 1966, fui transferido para São Paulo (Provincialado), liberado como coordenador provincial das vocações. Antes, porém de iniciar o trabalho vocacional, participei durante seis meses do ISPAV – Instituto Pastoral Vocacional, no Rio de Janeiro. Foi um curso também de adaptação às novas diretivas do Concílio Vaticano II.
Depois de seis anos nesta atividade volante vocacional, com sede no Provincialado, trabalhei muitos anos em casas de formação, nesta sequência: 9 anos no Seminário São Francisco de Assis de Ituporanga (SC); 3 anos em Guaratinguetá (SP), no Seminário de Vocações Adultas (Sevoa); 3 anos em Agudos, lecionando Português, História, Latim para o Colegial; 3 anos em Petrópolis, Convento do Sagrado, na função de ecônomo e guardião.
A seguir, mais quatro anos, como diretor, ecônomo e professor no Seminário São Francisco de Assis de Ituporanga. Durante as férias, mormente, participei de Eventos e cursos de aperfeiçoamento: em 1971 – Complementação da Filosofia e Licenciado em Filosofia na Faculdade de Filosofia e Ciências e Letras de Ijuí (RS); em 1974 – Faculdade de orientação Educacional, em Passo Fundo. Participei igualmente do III Congresso Brasileiro de Orientação Educacional, em Porto Alegre, no período de 7 a 13 de julho/74; em 1975 – Conclusão e Licenciado em Orientação Educacional na Universidade de Passo Fundo (RS).
Depois dessas atividades em Casas de Formação, atua em Paróquias: cinco anos em Porto União (SC); Balneário Camboriú (2 anos) e agora, nesta Paróquia de São José do Patrocínio de Coronel Freitas, desde do dia 10 de outubro 2002; primeiros três anos como guardião e a seguir na função de vigário paroquial até esta data.
Site Franciscanos – Já são dois jubileus celebrados?
Frei Alcides – Voltando atrás, lembro o Jubileu de 25 anos de sacerdócio, realizado em Guaratinguetá, no Sevoa, em 1985, com a participação de muitos sacerdotes e do sr. bispo de Aparecida. E na sequência, celebrei a missa jubilar na Comunidade de minha família, comunidade de Santa Lúcia, município de Aratiba. O outro jubileu é o de ouro de vida sacerdotal, celebrado em três locais: Matriz da Paróquia São Pedro de Sede Dourado, Aratiba, em 12/12/2010; Matriz de Cel. Freitas, dia 14/12/2010; e Colônia Cella, em Chapecó, dia 14/12/2010. Se Deus quiser, estarei celebrando 60 anos de sacerdócio, no dia 12 dezembro deste ano.
Site Franciscanos – Que dois momentos marcaram esses 50 anos?
Frei Alcides – Tive encontro com dois Ministros Gerais. Na primeira viagem à Europa, em Assis, me encontrei e pude conversar com Frei Constantino Koser (1965–1979), meu ex-professor de Teologia em Petrópolis; na segunda viagem, com Frei John Vaughn (1979–1991),em Roma, recém-eleito Ministro Geral.
Site Franciscanos – O sr. sempre teve gosto pela comunicação?
Frei Alcides – A iniciativa vem desde o Estudo de Filosofia, em Curitiba, onde iniciei com alguns colegas um Boletim interno, intitulado “A Pena”! Mais tarde, trabalhando na Paróquia de Balneário Camboriú, fui o responsável por um boletim paroquial. E chegando a Coronel Freitas, iniciei o “Boletim da Paróquia São José”, que é bimestral. O número 1 saiu em março/abril de 2003. Até novembro do ano passado foram feitas 102 edições.
Foram encadernados os 50 primeiros num só conjunto; depois, os seguintes 25 e mais 25, que estão na Casa Paroquial; nos colégios e nas sedes dos 4 municípios da Paróquia de Coronel Freitas: Águas Frias, União do Oeste e Jardinópolis. Nestas edições, constam também os históricos de todas as Comunidades da Paróquia (mais de 50!).
Site Franciscanos – Como o sr. vê o Pontificado do Papa Francisco?
Frei Alcides – Eu o considero muito carismático, corajoso, dinâmico, abrindo horizontes novos para a Igreja Católica!
Site Franciscanos – O que sr. diria a um jovem que quer ser frade?
Frei Alcides – Jovem, se você sentir um apelo para ser franciscano, siga o chamado de Deus! Vai se deparar com dificuldades, tentações para voltar atrás, mas Deus e São Francisco lhe darão forças para se purificar, santificar e ser um instrumento de evangelização no Reino deste Criador Supremo e misericordioso! Vá em frente, porque se Deus chama, também habilita! Eu me sinto realizado na Ordem Franciscana, que tem espaço e abertura para todos! Passei por fases difíceis e tentações para desistir! Sempre senti apoio por parte dos pais, de toda família humana e franciscana, com bons mestres, de vida edificante, atraente para prosseguir na caminhada!