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Termina a Festa da Penha: “Não deixemos passar a graça divina nesse tempo tão desafiador”, pede D. Dario

20/04/2020

Notícias

Moacir Beggo (*)

 São Paulo (SP) – O Arcebispo de Vitória, Dom Dario Campos, presidiu a Santa Missa que encerrou a 450ª edição da Festa da Penha nesta segunda-feira (20/4), às 17 horas, Dia da Padroeira do Espírito Santo. Como aconteceu durante todo Oitavário, a celebração na pequena capela do Convento da Penha chegou aos milhares de lares capixabas pelos meios de comunicação e pelas redes sociais. Presentes na capela, os frades que concelebraram com o Arcebispo, autoridades, os músicos e cantores que alegraram a celebração e os voluntários.

Dom Dario saudou a todos e, de maneira carinhosa, os seus irmãos franciscanos na pessoa do Vigário Provincial, Frei Gustavo Medella, e do guardião do Convento da Penha, Frei Paulo Pereira. “Na pessoa desses dois irmãos frades, quero abraçar todos os frades que colaboram conosco”, disse.

Mas para o povo foi ainda mais carinhoso. “Partilho com todos vocês algo que trago no coração como peregrino que sou. Sinto muita falta dos meus irmãos e irmãs, do seu canto, caminhando em direção à Virgem da Penha”, confessou, pedindo para cantar o hino “Virgem da Penha”.

“Porém, ao mesmo tempo, o meu coração se enche de alegria, pois apesar das dificuldades deste tempo de isolamento social, hoje sei que este canto se espalhou e é cantado em toda casa, na Igreja doméstica do nosso Estado do Espírito Santo. Desejo me dirigir a cada um de vocês, irmãos e irmãs, que estavam esperando ansiosos a Festa de Nossa Senhora da Penha, para fazer o seu peregrinar até o alto do Convento, de maneira especial neste ano, no qual celebramos 450 anos de celebrações, de romarias ao Convento da Penha. Por isso, quero saudar com grande ternura e afeto a todos vocês que celebram conosco em suas casas, através dos meios de comunicação social e das muitas redes sociais. A vocês, meu muito obrigado!”

Segundo Dom Dario, as restrições necessariamente impostas impossibilitaram a participação mais ativa de cada um, de cada uma, no Oitavário e na celebração de hoje: “Sendo assim, a vocês que estão em casa, reunidos em família para esta celebração, eu digo com grande convicção: a Virgem da Penha, hoje, entra em sua casa e cobre a todos com seu manto de amor e também com sua preciosa intercessão junto a seu Filho Jesus de Nazaré. O nosso Estado do Espírito Santo se une para depositar aos pés da Virgem das Alegrias a nossa súplica, a nossa oração nesse tempo tão desafiador que estamos vivendo”, pediu.

Na sua homilia, ressaltou dois pontos do Evangelho: O primeiro diz respeito à total disponibilidade de Maria ao dizer: ‘Eis aqui a serva do Senhor’, assumindo seu papel na história da salvação, colocando-se inteiramente disponível nas mãos do Senhor. O segundo está unido ao primeiro, pois ao afirmar: “Faça-se em mim segundo a tua palavra”, Maria não somente aceita mas deseja e se empenha a fim de que a vontade de Deus se cumpra em sua vida.

“O anjo Gabriel foi enviado a uma pequena cidade da Galileia, sendo portador de uma notícia que mudaria o rumo da história. Maria recebe o anúncio do anjo em Nazaré, uma vila, um povoado, esquecido da Galileia, um lugar que nunca é mencionado no Antigo Testamento. O chamado divino não é dirigido a um sacerdote ou a um ancião, nem mesmo a um homem, mas a Palavra do Senhor é dirigida a uma virgem pobre, de uma família desconhecida”, explicou o Arcebispo.

“Meus irmãos e minhas irmãs, ao responder ao Senhor, colocando-se como serva em suas mãos, Maria é colocada diante da vontade de Deus, algo que mudaria radicalmente toda a sua vida e a história da humanidade inteira. Ela se coloca na total disponibilidade a Deus e, seguindo o seu exemplo, devemos desejar dizer ao nosso irmão, da mesma forma, e com a mesma radicalidade da Virgem, confirmando assim o nosso compromisso com o Senhor e vamos fazer unidos e acompanhados pelo testemunho de Maria. Que possamos dizer hoje e sempre: ‘Eis aqui o teu servo e serva do Senhor!'”, acrescentou

Dom Dario usou o exemplo de Maria para convocar a todos nesse momento desafiador, colocando a serviço como voluntários diante dos irmãos e irmãs que necessitam de nós nesses dias com tamanha pandemia no mundo, como fez Maria, colocando-se a serviço de sua prima Isabel.

Segundo Dom Dario, Maria não somente se coloca como serva disponível nas mãos do Senhor, mas se compromete profundamente em deixar que a graça de Deus nela possa atuar. “Algo que é reconhecido por Isabel ao receber a visita de Maria, quando exclama com alegria: ‘Feliz aquela que acreditou, pois o que lhe foi dito da parte do Senhor será cumprido’. Maria foi a discípula da primeira hora, acolheu e gerou o Salvador. Seguiu seu Filho até a morte na cruz. Ao receber o corpo de seu Filho morto nos seus braços, em seu coração ferido pela lança já estava também presente a esperança na ressurreição. Ou seja, as alegrias de Maria são frutos de sua adesão à vontade de Deus, que fez dela uma discípula fiel, testemunha viva pela graça alcançada pela ressurreição de seu Filho Jesus de Nazaré”, exortou Dom Dario.

“Meus irmãos e minhas irmãs, nós somos convidados a aderir profundamente à vontade divina, acolhendo a Palavra de Deus, empenhando-nos, contando com a ação do Espírito Santo em cumprir o que o Senhor quer de nós, hoje, aqui e agora, neste ano de 2020. E o que o Senhor quer de nós, como discípulos e discípulas e tendo Nossa Senhora da Penha como nossa Padroeira?”, perguntou o Arcebispo.

“A vida. E  a vida em abundância”, respondeu. “O respeito por essa vida, desde a sua concepção até a morte. Em outras palavras: Não ao aborto! Jesus de Nazaré quer a alegria, quer a partilha. Jesus não quer ver ninguém triste”, enfatizou.

Como havia pedido na abertura da Festa, não podemos sair deste momento em que estamos vivendo do mesmo modo que entramos. “Este momento nos mostra a fragilidade da vida. É uma guerra declarada. É uma guerra que não tem canhão, não tem bomba, tantas outras armas, mas é um minúsculo vírus que ataca, que mata”, situou.

Segundo o Arcebispo, Nossa Senhora nos pede: Chega de ganância, de busca de poder, de busca do lucro! “No dizer do nosso povo pobre do Norte de Minas – com grande saudade falo isso -, eles dizem a expressão: ‘Chega de enricar às custas dos outros!'”.

Dom Dario ressaltou, contudo, o lado solidário do povo, que pôde ser visto nas últimas tempestades de verão e agora com a pandemia. “Quanta partilha!”, disse, mas pediu um cuidado todo especial com o sem teto, com o sem casa. “Como dizer neste momento ‘fique em casa’ quando não se tem casa. No dizer do nosso Papa Francisco – tenho repetido isso esses dias – a rua não é lugar para se morar e nem lugar para se morrer”, disse.

Dom Dario pediu união entre o poder público e sociedade. “Isso nós queremos no nosso Estado. Chega de ficar puxando um pra cá outro pra lá. Vamos juntar nossas forças e, com isso, nosso povo vai ter vida e vida em abundância. Assim sendo, somos convidados a sermos portadores das alegrias de Maria, sinais claro da ressurreição de Cristo. Homens e mulheres marcados pelos valores do evangelho, de modo que nossas vidas resplandeça à luz do Ressuscitado que estamos celebrando, principalmente pela caridade, pelo serviço para aqueles que mais precisam”, encorajou.

“Nesse tempo difícil de pandemia, o Senhor nos oferece uma oportunidade de superarmos o sofrimento e a dor com a caridade e o compromisso com a vida. Repito: não deixemos passar a graça divina nesse tempo tão desafiador, mas abracemos a chance de darmos um salto de humanidade, um salto de qualidade, de profissão de fé, tornando-nos solidários e comprometidos com os mais vulneráveis, superando o egoísmo de uma sociedade que só visa o lucro e o descaso, ou seja, a lógica excludente do lucro”, completou.

No final, Dom Dario fez os seus agradecimentos e disse: “Hoje, apesar de distante, estamos unidos num só coração, numa mesma oração, no mesmo desejo da graça pelos meios de comunicação social”.

O Vigário Provincial, Frei Gustavo Medella, em nome do Convento da Penha e da Província Franciscana da Imaculada Conceição, agradeceu ao “estimado confrade, amigo e pastor Dom Dario Campos”. Também lembrou as autoridades presentes e os queridos espectadores, internautas e ouvintes.

A pedido de Dom Dario, destacou uma preocupação da Igreja do Brasil, expressa pela Conferência Nacional dos Bispos do Brasil, a CNBB. “Todos nós sabemos que o lema da Festa da Penha deste ano é ‘Todas as gerações me chamarão bem-aventurada’. Esse termo – ‘Todas as gerações’ – engloba todos aqueles que já nasceram e partiram, aqueles que vivem o presente e aqueles que ainda vão nascer. E é por conta daqueles que ainda vão nascer que esta profecia de Maria deve ser assumida por todos nós, cristãos, segundo essa preocupação da CNBB expressa em nota divulgada no dia 19, ontem, diante de uma questão que está agendada para ser votada no Supremo Tribunal Federal no próximo dia 24. É uma ação direta de inconstitucionalidade, ajuizada pela Associação Nacional dos Defensores Públicos em relação à lei que protege e versa sobre o cuidado das mulheres gestantes que adquiriram o zikavírus. Lembrando que cuidar da vida é um compromisso cristão e cidadão, a CNBB manifesta uma série de argumentos que colocam em dúvida e mostram que nós devemos rejeitar esta proposta”, explicou Frei Medella, destacando os pontos principais da nota:

– “A Conferência Nacional dos Bispos do Brasil-CNBB, reitera sua imutável e comprometida posição em defesa da vida humana com toda a sua integralidade, inviolabilidade e dignidade, desde a sua fecundação até a morte natural comprometida com a verdade moral intocável de que o direito à vida é incondicional, deve ser respeitado e defendido, em qualquer etapa ou condição em que se encontre a pessoa humana. Não compete a nenhuma autoridade pública reconhecer seletivamente o direito à vida, assegurando-o a alguns e negando-o a outros. Essa discriminação é iníqua e excludente; “causa horror só o pensar que haja crianças que não poderão jamais ver a luz, vítimas do aborto”. São imorais leis que imponham aos profissionais da saúde a obrigação de agir contra a sua consciência, cooperando, direta ou indiretamente, na prática do aborto.

– “A CNBB requer, portanto, que, acaso seja superada a preliminar de ilegitimidade ativa suscitada por todas as autoridades públicas que se manifestaram, e não seja extinta a ADI pela perda do objeto, no mérito não sejam acolhidos quaisquer dos pedidos formulados para autorizar, de qualquer forma, o aborto de crianças cujas mães sejam diagnosticadas com o zikavírus durante a gestação.

– “Reafirmamos, fiéis ao Evangelho de Jesus Cristo, nosso repúdio ao aborto e quaisquer iniciativas que atentam contra a vida, particularmente, as que se aproveitam das situações de fragilidade que atingem as famílias. São atitudes que utilizam os mais vulneráveis para colocar em prática interesses de grupos que mostram desprezo pela integridade da vida humana. (S. João Paulo II, Carta Encíclica Evangelium Vitae, 58)”. A nota é assinada por Dom Walmor Oliveira de Azevedo, presidente da CNBB.

A festa da Penha é fruto de uma semente lançada por Frei Pedro Palácios em 1558, quando chegou ao Brasil com os colonizadores portugueses e desembarcou nas terras capixabas. O frade espanhol trouxe na sua bagagem um painel de Nossa Senhora das 7 Alegrias, que foi colocado numa gruta e deu origem à devoção franciscana que vem até hoje. Ao longo do tempo, essa devoção cresceu e foi construído o Santuário para a Mãe de Deus no ponto mais alto do penhasco. Desde então, romeiros visitam o Convento durante todo o ano.


(*) Com a transmissão ao vivo pelo Convento da Penha