“Tenhamos a coragem de abraçar a loucura divina”
09/06/2018
Frei Augusto Luiz Gabriel
São Paulo (SP) – Nem mesmo o frio de São Paulo (SP) espantou os devotos e fiéis de Santo Antônio neste sábado, 9 de junho. O 9º dia da Trezena aconteceu às 15 horas e teve como celebrante e pregador o Definidor Provincial Frei Gustavo Medella. Frei Marx Rodrigues dos Reis serviu ao altar como diácono. A Igreja novamente ficou repleta dos devotos franciscanos, que fielmente participam da Trezena. Frei Gustavo foi enfático ao afirmar que Santo Antônio, em sua vida, teve uma certa dose de loucura.
A liturgia do Evangelho do 10º Domingo do Tempo Comum serviu de base para o início da reflexão do frade. Segundo ele, quando souberam que Jesus foi para casa, os seus parentes saíram para agarrá-lo porque diziam que estava fora de si. “Jesus está louco! Jesus perdeu a cabeça! Jesus não responde mais por seus atos. Não sabe o que faz. Precisa ser internado. Vamos atrás dele para impedir que Ele siga nessa loucura que tem apresentado”, disse
O pregador ressaltou que, num olhar frio e racional, de fato aquilo que Jesus propõe tem um certo nível de loucura. “Espanta e assusta à primeira vista mandar amar os inimigos; rezar por quem nos persegue; fazer o bem a quem nos maltrata. Quanta loucura! Quanta atitude que não tem explicação a partir de uma lógica. A lógica da vingança, do devolver com a mesma moeda, do ‘deu e levou’”, observou.
Por outro lado, é tão diferente que até contraria a natureza e o instinto dos seres humanos. Segundo Frei Gustavo, contrariava muito a vida e a visão de Deus que aquele povo tinha. “Àquele povo ainda estava preso. É o mesmo Deus que diante da falha e da incoerência de Adão e Eva, tinha oferecido a eles um castigo e os tinha expulsado do paraíso”, explicou.
Jesus, no entanto, em profunda sintonia com Deus, que é Pai, vem e apresenta a sua face amorosa, amiga, próxima e por isso choca e espanta até mesmo os seus próprios parentes que O julgam louco.
“Olhando para a vida dos santos, também percebemos episódios assim. Vemos que quase todos eles buscaram viver em sua radicalidade o amor a Deus e ao próximo. Logo quando se converteu, os amigos de Francisco também diziam que ele estava ficando louco. Porque aquele que diante da lógica humana, daquilo que seus próprios amigos ambicionavam, já era filho de rico, tinha uma vida pela frente para ascender, para se tornar um nobre, de repente considera tudo isso secundário e desprezível e se entrega ao seguimento de Cristo”, contou o celebrante.
IMPORTANTE É SER FIEL ATÉ O FIM
Apontando para a imagem de Santo Antônio, Frei Gustavo disse que este santo também teve uma certa dose de loucura. Na história dele, o episódio em que ele decidiu se tornar franciscano também traz em si uma certa ousadia.
“Quando ele era cônego agostiniano, na cidade de Coimbra, em Portugal, e ainda se chamava Dom Fernando, viu os missionários franciscanos passando pela sua terra em direção ao Marrocos, na África. Soube depois aqueles missionários, por causa da sua fé e de sua pregação, foram martirizados. Ele se encantou com a história e decidiu ser franciscano. Vontade de morrer? Não! É a vontade de se engajar de tal modo no amor a que Deus o chamou que dar a vida quase se torna secundário. Importante é ser fiel até o fim”, disse, afirmando que os cristãos precisam desta dose de loucura e de ousadia para também aumentar a qualidade do seguimento a Jesus Cristo.
Focando no tema do dia, “Santo Antônio e o Pão do Perdão”, o pregador afirmou que perdoar não deixa de ser um ato de loucura, um ato de ousadia. O pão do perdão, ao contrário do que se pode pensar, muitas vezes é um pão indigesto, amargo e difícil de ser mastigado e engolido. O perdão é uma conquista e uma decisão que se alcançam com muita entrega, renúncia e sofrimento.
Fazer o exercício do perdão é fazer a mesma experiência de Francisco quando abraçou o leproso. Mais tarde, Francisco escreveu em seu Testamento – na época de Francisco a lepra não tinha tratamento – que era asqueroso para ele olhar um leproso, mas o Senhor Deus teve misericórdia não do leproso, mas dele e o levou para o meio deles. E aquilo que lhe parecia amargo tornou-se doce.
“Está é a experiência. Como vamos nos aproximar de quem nos ofendeu tão profundamente? Como poderemos voltar a ter uma boa relação com que cometeu injustiças conosco? Como poderei novamente confiar em pessoas que traíram a minha confiança?”, refletiu o frade.
Para ele, é neste momento que se faz necessário digerir a atitude de perdoar e de apostar novamente na força do bem, possibilitando e criando novas chances. “Busquemos uma reaproximação com aquela pessoa com que tive dificuldade e também peçamos perdão. É preciso tomar consciência de nossos exageros, injustiças e preconceitos. É com a graça de Deus que alcançamos a humildade para ir ao encontro daqueles que porventura tenhamos magoado, ofendido ou decepcionado”, exortou o pregador.
“Tenhamos a coragem de abraçar esta loucura divina. Não tenhamos medo de sermos generosos e entusiasmados na prática do perdão. O pão do perdão pode parecer, às vezes, indigesto e amargo, mas depois ele nos traz a doçura de um coração aliviado, livre e desprendido de mágoas e tristezas para amar. Que o Senhor nos ajude e que Antônio nos mostre o caminho junto ao seu Pai Francisco. Que nós tenhamos a coragem de abraçar esta loucura que é amor de Deus por nós e que é o perdão que Ele nos oferece e nos chama a oferecermos mutuamente”, finalizou Frei Gustavo.
No final da celebração, como é de costume, Frei Odorico Decker, prestigiou a todos com uma bela música, intitulada “Ave Maria”. Veja no vídeo acima.
ALMANAQUE DE SANTO ANTÔNIO 2019
Frei Edrian Pasini, editor da tradicional Folhinha do Sagrado Coração de Jesus, da Editora Vozes de Petrópolis (RJ), fez o lançamento do Almanaque de Santo Antônio do próximo ano.
Segundo o frade, já é costume, durante o período da Trezena de Santo Antônio, realizar o lançamento do Almanaque, que vem de uma tradição milenar de egípcios, gregos, romanos e hindus.
Frei Edrian destacou que, historicamente, as pessoas já tiveram contato com outros almanaques, tais como de farmácia, conhecimento geral e também almanaques mais específicos (científicos) ou de outras áreas. “O nosso Almanaque apresenta o calendário civil, litúrgico, agrícola e também o de astronomia. Além disso, ele traz muitos temas tais como: contos, culinária, curiosidades, dicas diversas, temas de ecologia e educação, folclore, e outro destaque são também os passatempos e o cuidado com a saúde”, frisou o editor.
Além do lançamento do Almanaque, também foi lançado neste sábado, 9 de junho, o livro “Orações do Cristão Católico”, de autoria de Frei Edrian. É um livro que traz orações do devocionário familiar católico. Trata-se de orações que se aprendem com os pais e os avós e que são transmitidos de gerações para gerações.
O Almanaque custa R$ 17,00 e o Livro R$ 7,90. Com R$ 22,00 você poderá adquirir os dois na lojinha do Convento São Francisco ou também no dia 13/06, dia de Santo Antônio, na Paróquia Santo Antônio do Pari, em São Paulo, onde também será realizado o lançamento.
ARRAIÁ FRANCISCANO
Ainda não era dia e os freis, paroquianos e colaboradores do Convento e Santuário já estavam de pé para a Festa Junina do Santuário, o batizado “Arraiá Franciscano”. Barracas com comidas típicas e com brincadeiras garantiram a diversão de quem passava pela praça em frente à Igreja do Largo São Francisco de SP. A festa começou às 11 horas e seguiu até às 19 horas. Teve até dança da quadrilha. Ninguém ficou de fora e os moradores em situação de rua, que vivem na região, foram convidados para dançar e animar o público que prestigiou o evento.