Notícias - Província Franciscana da Imaculada Conceição do Brasil - OFM

Simplicidade e alegria marcam dia dos formadores

05/09/2017

Notícias

Moacir Beggo

São Paulo (SP) – Os frades formadores que participam do Congresso Continental da Ordem dos Frades Menores, que está em andamento no Centro Sagrada Família, no bairro Ipiranga, em São Paulo, nesta terça-feira (5/9), ouviram duas palavras inspiradoras durante o dia: simplicidade e alegria. Primeiro,  Frei Bernardo Brandão, Ministro Provincial da Província Nossa Senhora da Assunção (Brasil), disse, durante a Eucaristia, que a vocação e missão do frade menor só existe com alegria. Depois, Frei Sinisa Balajic, vice-secretário Geral para Formação e Estudos, lembrou aos frades que a formação não necessita de momentos especiais, mas da vida comum da fraternidade, com as coisas “normais” da vida de oração, dos capítulos, dos retiros, da refeição em comum, da recreação, do trabalho doméstico, do trabalho evangelizador etc.

Neste segundo dia do Congresso, que vai até o sábado (9/9), Frei Sinisa falou sobre o principal tema: “A formação permanente e o acompanhamento na vida comum”. Tomando por base o documento da Formação Franciscana (Ratio Formationis Franciscanae), disse que o objetivo da “Formação Permanente é animar, nutrir e sustentar o caminho da fé /fidelidade, ajudando a amadurecer um olhar que seja capaz de reconhecer a presença de Deus em nossa própria história de vida e na vida de nossos irmãos /fraternidades para a missão da Ordem”.

segundodia_050917_3Segundo o frade, deveríamos colocar um pouco mais de atenção para o fato que cada dia da vida pode e deve ser formativo, porque nossa formação tem a ver diretamente com as coisas da vida cotidiana. “Encontrar a força formativa no meio do cotidiano, nos momentos normais da vida, significa levar a sério a lógica da Encarnação, na qual Deus escolheu participar da vida da humanidade, da sua vida e da minha vida”, acrescentou.

Para o frade, é preciso trabalhar dois níveis para que a vida fraterna, todos os dias, se converta em lugar formativo: o nível pessoal e o nível fraterno.

“O propósito da formação para toda a vida é uma forma de ‘voltar /restituir’ através do serviço que abraça todos os aspectos de nossa vida: não apenas uma oração, mas também palavras, obras, emoções, relações, saúde e doença, vitórias e fracassos … Este ‘retorno’ não se expressa apenas externamente e com realizações, mas toca a parte mais profunda do ser e as motivações centrais de cada frade”, explicou, citando a Ratio Formationis, que diz que o “frade deve se sentir responsável, em primeiro lugar, pelo seu próprio caminho de crescimento”. Mas deixou uma interrogação ao abordar este ponto: Como se pode “despertar”  tal responsabilidade pessoal na formação?

Frei Sinisa terminou sua apresentação dando ênfase para a fraternidade como um lugar formativo. E citou o artigo 127 da Ratio Formationis com a descrição das condições que são necessárias para que a fraternidade seja realmente formativa: Alegria da vida fraterna e da oração; Disponibilidade para caminhar juntos e entrar em relação direta com os irmãos candidatos em formação; Um projeto de vida fraterna como resultado do discernimento em comunidade; Disposição para lidar com conflitos e encontrar soluções, valendo-se – se a situação assim exigir – de ajuda por parte de especialistas.

“Em nível fraterno, isso significa que a vida fraterna depende da existência de hábitos que se estabelecem juntos ou de ‘regras’ formais que nos permitam forjar o encontro, rezar juntos, discutir, comer, etc”, indicou.

“Temos que acolher em nossa vida como frades, uma concepção diferente do outro, isto é, não como qualquer presença, mas como uma mediação da presença de Deus. E o que recebi como presente de outros irmãos deve se tornar o tema da minha oração, traduzida na minha própria experiência pessoal, reconhecida como parte da minha identidade”, acrescentou, completando: “A história de vida de cada fraternidade com seu tempo, espaço, dramas, seus santos – importante notar – é o sinal da presença do mistério de Cristo e uma verdadeira fonte de formação”.

CONCLUSÃO DAS REFLEXÕES

À tarde, os frades se dividiram em seis grupos para estudos e trabalhos e, às 17 horas, retornaram para apresentar as conclusões tendo como base as perguntas propostas por Frei Sinisa: Como criar uma atmosfera fraterna, boa e saudável, onde se facilite a discussão e a comunhão no interior da fraternidade? Como funciona a formação permanente em sua entidade? É composta por certos momentos (reuniões ou retiros) durante o ano ou se trata realmente da vida cotidiana dos irmãos? Os irmãos compreendem e aceitam verdadeiramente a ideia de formação permanente como uma formação que tem a ver com a vida cotidiana? Como e que formas expressivas-comunicativas podemos encontrar, que podem moldar ou melhorar esse aspecto (natureza fraterna de nossas vidas) para o crescimento de todos? O que se pode pedir aos irmãos em formação permanente para estarem motivados e conscientes de suas responsabilidades na formação?

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VOCAÇÃO E MISSÃO COM ALEGRIA

Na Celebração Eucarística, às 7 horas, Frei Bernardo preparou o espírito dos frades para um novo dia formativo. Refletiu sobre a alegria na vida do frade menor. “Para nós, franciscanos, quem vive com alegria a sua vocação tem autoridade em sua missão. Quem não vive com alegria na sua missão não tem autoridade”, disse.

Frei Bernardo, contudo, perguntou como ter essa alegria e fazê-la transbordar para a Ordem e para a Igreja, que tem o Papa Francisco como timoneiro da esperança.

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“Uma primeira palavra que nos faz entender o significado da verdadeira alegria é ser discípulos de Jesus. E discípulos missionários. Jesus é discípulo por excelência do Pai”, disse, recordando o exemplo de São Francisco, como discípulo itinerante.

“Outra palavra muito importante para nós é o serviço. A verdadeira alegria está naquele que se coloca a serviço dos irmãos. A nossa vocação é um dom para toda a Igreja”, observou, lembrando a missão de servir que Francisco recebeu aos pés do Crucifixo de São Damião. “Muitas vezes, presos em nossas dores e sofrimentos, esquecemos que não estamos neste mundo para nós mesmos, mas para servir nossos irmãos. Somos uma Ordem a serviço de toda a humanidade”, enfatizou.

E como terceira palavra, segundo o frade, que é fonte de alegria e que nos dá autoridade na nossa missão, é o martírio. “Talvez não tenhamos o martírio como foi vivido pelos primeiros mártires franciscanos na Terra Santa, mas o martírio no cotidiano, a fidelidade dos nossos votos no cotidiano de nossa vida”, acentuou.

“Por isso, meus irmãos, neste dia, queremos ser discípulos, nos colocar a serviço e queremos pedir a graça de doar a nossa vida, muitas vezes no martírio de cada dia, mas sem perder a alegria”, completou, citando o evangelho do dia, quando Jesus expulsa os demônios, e lembrando São Francisco: “A maior vitória do inimigo é quando nos tira a alegria”.

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FRANCISCANOS PELA AMAZÔNIA

No Dia da Amazônia, os franciscanos reunidos no Congresso Continental para a Formação Franciscana,  fizeram uma pausa em protesto ao decreto que extinguiu a Reserva Nacional do Cobre e Associados (Renca) e que no momento foi suspenso pelo governo depois dos protestos dos ambientalistas, políticos, religiosos, artistas etc.

A reserva está localizada entre os estados do Amapá e Pará e compreende uma área de aproximadamente 47 mil quilômetros quadrados (Km²), onde há registros da presença de cobre, ouro, manganês, ferro e outros minérios. Os ambientalistas argumentam que a extinção da Renca deixará uma área intocável da floresta amazônica sujeita a diversas ilegalidades.

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O outro protesto dos franciscanos foi contra o Congresso boliviano, controlado pelo partido no poder, que aprovou uma lei para construir uma rodovia que cruzaria uma reserva ecológica, apesar da rejeição dos nativos do Parque Nacional Isiboro Sécure do Território Indígena (TIPNIS). O decreto aprovado cancela outro de 2011 aprovado pelo mesmo presidente Evo Morales para preservar o local de mais de um milhão de hectares, no centro do país, e onde vivem cerca de 50 mil nativos.