Notícias - Província Franciscana da Imaculada Conceição do Brasil - OFM

Qual é a vida que damos aos jovens que vêm a nós?

04/09/2017

Notícias

Moacir Beggo

São Paulo (SP) – O questionamento de Frei Cesare Vaiani,  o Secretário Geral para a Formação e Estudos, foi só um dos que foram feitos aos formadores do Congresso Continental Latino-americano da Ordem dos Frades Menores nesta segunda-feira, 4 de setembro, no Centro da Sagrada Família, no bairro do Ipiranga (SP).

Ao falar do tema “Acompanhamento recíproco na vida fraterna”, Frei Cesare animou e provocou os 67 participantes que vieram das Conferências Brasileira, Bolivariana, Guadalupana e Cone Sul. Explicou que o termo “acompanhamento” está no documento da Formação Franciscana (Ratio Formationis Franciscanae), que diz que “o ministério do cuidado espiritual e a guarda fraterna da comunidade e de cada um dos irmãos e candidatos, devem ser exercidos continuamente e não apenas pelos Ministros”.

congresso_040917_6

Frei Cesare Vaiani

Segundo o frade, “acompanhamento” define  bem a formação franciscana.  “Um nome que enfatiza a modalidade fraterna que nos caracteriza, nesta ou em outras dimensões. Nosso nome, Frades Menores, de fato lembra que nossas características específicas são a fraternidade e a minoridade”.

Para ele, a forma mais envolvente e cotidiana de acompanhamento é a nossa vida fraterna. “Se pensarmos nos irmãos que compõem nossas fraternidades … nem todos os companheiros de nosso caminho são belos ou simpáticos”, ressalvou, mas lembrou que é preciso um olhar olhar de fé: cada irmão é um acompanhante que o Senhor coloca ao nosso lado.

Frei Cesare ainda lembrou que algumas formas de acompanhamento mais significativas, e inclusive mais seguras, são os ministros, guardiães e animadores vocacionais. “No entanto, me parece realista e significativo pensar em cada um dos irmãos como um acompanhante de minha vocação”.

Para ele,  quando se fala em fraternidade, a palavra testemunho é a primeira e mais fundamental forma cristã de propaganda. “O irmão me acompanha, mais do que com palavras, com o testemunho de sua vida; e, claro, também posso acompanhar o meu irmão não tanto por pregar para ele, mas sobretudo pelo testemunho da minha vida”. O frade lembrou ainda que, durante toda a sua vida, Francisco viveu uma relação com Deus que passava através da mediação dos irmãos e uma relação com os irmãos que continuamente falavam de Deus.

O frade, contudo, destacou que existe uma diferença entre testemunho e ensino: “Enquanto o ensino é a transmissão objetiva de algum conteúdo, o testemunho é sempre subjetivo porque me envolve no que digo. Eu torno credíveis os conteúdos que eu também transmito com a minha vida se minha vida for credível”, disse, explicando que em todas as comunicações existem pelo menos três elementos: o falante, o ouvinte e os conteúdos transmitidos.

congresso_040917_1

“No testemunho, o orador tem uma relação especial e imediata com os conteúdos que ele propõe, porque ele tem experiência direta e pode se apresentar como uma testemunha ocular”. Assim é o testemunho cristão, dado através de um relacionamento íntimo com o Senhor Jesus e seu Evangelho.

“Nosso acompanhamento recíproco é dado sob a forma de testemunho”, enfatizou, lembrando que a reciprocidade é a comunicação não em uma direção, mas sempre em duas direções: de mim para o outro e do outro para mim. “Esta reciprocidade é, muitas vezes, expressa como um diálogo: a palavra diálogo evoca uma troca, onde eu falo e escuto, presumo que sou aceito pelo que sou e aceito o outro pelo que é”, enfatizou.

Para ele, a vida fraterna, precisamente por ser fraterna,  precisa dessa reciprocidade.

congresso_040917_5

JOVENS IRMÃOS

Para o Secretário Geral da Ordem, um problema sério em nossa formação é o fosso entre a formação inicial e o tempo após a profissão solene e eventualmente após a ordenação sacerdotal. “Todos sabemos que, em todas as Províncias e Custódias, quando um jovem frade sai da casa de formação e chega a uma fraternidade ‘normal’, ele deve ser acompanhado de uma maneira particular, porque esse passo pode ser traumático”, enfatizou.

Muitas vezes, segundo o frade, nas chamadas casas “normais” se vive de forma bastante individualista, talvez se dedicando com muito zelo ao seu próprio trabalho, mas cada um ao seu modo. “Os momentos comuns de oração e refeições comuns muitas vezes faltam, as reuniões comunitárias são muitas vezes escassas ou não frequentadas. Neste contexto, o jovem irmão encontra uma vida diferente daquele a que ele estava acostumado e, acima de tudo, encontra pouco apoio e acompanhamento fraterno, porque na realidade há pouca vida fraterna”, lamentou.

congresso_040917_7E foi mais crítico ainda: “Hoje tenho medo de que a mensagem que damos aos jovens irmãos seja a seguinte: ‘Aguente agora fazendo um longo serviço militar de sete ou oito anos e logo você fará o que quiser, como estamos fazendo’. Nossos jovens captam muito bem esta mensagem, que não é manifestada em palavras, mas nasce da vida que levamos se esta é demasiada diferente da que exigimos deles. E todos sabemos que a formação não se dá tanto com as palavras ou com belos discursos, mas especialmente com testemunho de vida”, reforçou.

Frei Cesare citou o Capítulo II da Regra em que diz: “Se alguns quiserem abraçar essa vida e vieram a nossos irmãos, enviá-los aos ministros provinciais … etc.” Segundo ele, seria mais correto traduzir por “aceitar, receber esta vida”:  “Trata-se de receber uma vida que nos entregam aqueles que já a vivem. Minha pergunta é: qual é a vida que damos aos jovens que ainda vêm até nós?”, questionou, enfatizando que sem formação permanente não pode existir uma formação inicial. “A formação permanente  é o húmus da formação inicial”, citou Ratio Formationis Franciscanae.

O frade apresentou ainda a metodologia de Emaús, onde o formador é companheiro de viagem. “Alguém que está ao seu lado. Não vai à frente como um guia, nem para trás com uma bagagem ou um peso a ser arrastado, mas como companheiro e irmão que compartilha aquele caminho que necessitam descobrir e fazer juntos”, ensinou Frei Cesare.

O Secretário Geral terminou sua palestra frisando que o acompanhamento fraterno não vive sem o testemunho e a reciprocidade. “Essa é a responsabilidade para com as novas gerações que esperam de nós a transmissão de uma vida, não de uma teoria”, completou, desejando que esse Congresso “ajude a exercitar nosso acompanhamento recíproco na vida fraterna”.

congresso_040917_4

FREI FIDÊNCIO ABRE O CONGRESSO

Com a Celebração Eucarística, às 7 horas, presidida pelo Ministro Provincial da Imaculada Conceição, Frei Fidêncio Vanboemmel, e concelebrada por Frei Cesare Vaiani e o Vice-Secretário para Formação e Estudos, Frei Sinisa Balajic, teve início o Congresso Continental.

Frei Fidêncio acolheu a todos com alegria e cantou, puxando a assembleia, a música de Pe. Zezinho para homenageá-los. “Eu venho do Sul e do Norte, do Oeste e do leste, de todo lugar. Estradas da vida eu percorro, levando socorro…”.

congresso_040917_3“Sim, viemos do Norte e do Sul, aqui nos reunimos como um dia Jesus reuniu na sinagoga de Nazaré, consciente da força do Espírito do Senhor. Conscientes da presença do Espírito Santo de Deus sobre cada um de nós e sobre todos nós, invocamos sobre nós este mesmo Espírito e queremos que o Espírito do Senhor possa nos ungir e a todas as nossas entidades, províncias e custódias, mas particularmente na missão específica que nós exercemos nas nossas entidades, como animadores da formação permanente, secretário para formação e estudos e o serviço para a animação vocacional”, pediu.

“Também São Francisco de Assis nos orienta a não extinguirmos o Espírito do Senhor e o seu santo modo de operar. Perder este espírito é perder a unção para a missão. A missão profética para o qual nós somos chamados nos nossos dias”, destacou.

Na sala de reuniões, os frades da Conferência Brasileira lembraram os 300 anos da aparição da imagem de Nossa Senhora Aparecida saudando a nossa Padroeira com a música “Romaria”.

Frei Fidêncio deu as boas vindas aos participantes e se colocou, como anfitrião, à disposição dos congressistas. Em seguida, cada representante das quatro Conferências fez uma apresentação das entidades. Depois da apresentação de Frei Cesare, os frades se dividiram em seis grupos para estudos e trabalhos durante toda a tarde, refletindo sobre dois pontos dados por Frei Cesare:

  1. Confrontar a ideia de formação como acompanhamento da situação da sua Província / Custódia: Os formadores se comportam como companheiros ou seguem outros modelos de formação? Você tem alguma proposta para melhorar a qualidade do acompanhamento?
  2. Na sua Província / Custodia, a vida fraterna realmente consegue acompanhar a vida dos irmãos? Você vê o apoio oferecido pela vida fraterna? Você tem alguma proposta para melhorar a qualidade da vida fraterna? Às 17h30, foram apresentadas as conclusões dos grupos.

Este Congresso, que tem o apoio da Província da Imaculada Conceição, reúne três frades representantes das províncias e custódias que fazem parte das Conferências Brasileira, Bolivariana, Guadalupana e Cone Sul. Por cada província ou custódia participa o Secretário para a Formação e Estudos, o Moderador para a Formação Permanente e o Animador Vocacional, num total de 67 participantes.

Neste dia 5, Frei Bernardo Brandão, Ministro Provincial da Província Nossa Senhora da Assunção, preside a Eucaristia. O tema deste dia será “A formação permanente como acompanhamento na vida ordinária”, que será apresentado por Frei Sinisa Balajic. À tarde, os frades se reúnem em grupos e fazem o plenário no final da tarde.