Notícias - Província Franciscana da Imaculada Conceição do Brasil - OFM

Semana de Catequese: “Quem é esse Jesus que apresentamos aos catequizandos?”

25/08/2021

Notícias

 

Neste segundo dia (24/8) da 2ª Super Semana de Catequese, um evento da Editora Vozes on-line e gratuito, Pe. Douglas Rodrigues Xavier e Pe. Almerindo da Silveira Barbosa foram os convidados para falar do tema “Quem é esse Jesus que apresentamos aos catequizandos?”, eles que são autores do livro “Quem é esse Jesus” – Um itinerário de iniciação cristã para formar discípulos missionários”, editado pela Vozes.

Natália França fez as apresentações e conduziu esta segunda palestra transmitida pelo Canal do YouTube da Editora, às 19 horas, indo direto ao tema: “Quem é esse Jesus?. “Como eu disse na minha pequena apresentação, Jesus é o centro da catequese. Tudo que nós fazemos no processo catequético é para chegar ao fim que é Jesus Cristo. Deus é tão maravilhoso, que ele se rebaixou e tornou-se um de nós, participando conosco da nossa vida. Vivendo, experimentando a realidade humana, sendo um conosco, esse Deus tão próximo, tão íntimo, que nós confessamos em Jesus o Filho de Deus. Esse Jesus que não é um Deus abstrato, distante, mas é um Deus muito próximo”, disse Pe. Almerindo, que é também autor da obra “Missa: conhecer para viver”.

“Eu acho que é um desafio apresentar Jesus na catequese, porque como eu disse, mesmo ele sendo o centro da catequese, às vezes nós nos apegamos a outros temas periféricos que não nos conduzem a esta centralidade. Mas eu diria que para a gente ter a experiência do encontro verdadeiro com Jesus Cristo, a primeira coisa que a gente precisa é estar aberto às ações de seu Espírito, deixar que o Espírito aja em nós para a gente viver, falar desse Jesus. E depois a gente precisa ter intimidade com a Palavra de Deus. Eu não acredito que dá para viver Jesus Cristo ou nenhuma realidade na nossa vida sem que antes a gente não conheça a pessoa, a realidade. Para que eu possa viver Jesus na minha vida, na minha comunidade de fé, primeiro eu preciso conhecê-lo. E é por isso que estamos aqui. Esse é o processo de uma vida cristã. É exatamente ter primeiro o encantamento por ele, depois aprender com ele, com a sua vida para depois viver com ele na nossa vida. Acho que sem esse processo de encantamento com Jesus, de deixar ele nos seduzir, depois ser um aluno, um aprendiz dele, nós não teremos condições de vivê-lo na nossa vida e na nossa comunidade de fé”, acrescenta Pe. Almerindo.

Para Pe. Douglas, falamos de um Jesus de fato, mas apresentado de tantos modos, de tantos jeitos, mas o mesmo Jesus. Segundo ele, vivenciar e fazer uma experiência com Jesus não é um conceito, uma ideia, não é simplesmente uma elucubração, um sentimentalismo, uma ideia acadêmica. “É uma experiência real e concreta, vivencial. Nós estamos falando de uma pessoa. E a gente não conhece uma pessoa por um álbum de fotos ou simplesmente por uma história. Eu até costumo brincar com o Pe. Almerindo nas nossas formações, eu costumo dizer assim: ‘Quando a gente conhece alguém da boca do outro, isso às vezes é fofoca e faz mal, prejudica e atrapalha’. E há muita gente fazendo fofoca sobre Jesus. Ou seja, fala muito de um Jesus que não experimenta, que não vive, que não traz para o dia a dia. Então, o modo de viver essa experiência com Jesus é de fato com essa abertura a ele num processo de conhecimento. Eu quero conhecê-lo, experimentá-lo, eu quero tê-lo como companheiro de caminhada”, indicou.

Para Pe. Almerindo, entrar na vida de Jesus é uma aventura: “E quando nós, de fato, conhecemos a vida de Jesus nós vivemos a melhor de todas as aventuras de nossa vida. Então,  diria que a essa aventura todos são convidados a descobrir esse Deus revelado em Jesus Cristo e que se faz tão próximo, tão íntimo e nos acompanha em todas as situações. Não é um Deus das alturas, mas veio habitar no meio de nós”.

“Afinal de contas vivemos num mundo cada vez mais secularizado, num mundo onde muitos têm se autodenominado que são ateus, que não creem em Deus, e não querem nenhuma experiência religiosa. Algumas pessoas não estão só apáticas à religião, mas às vezes até se posicionam contra e de modo ríspido quase que criando não só uma cultura anticristã, mas antirreligiosa. Por isso, conhecer Jesus e querer andar com ele é uma aventura. Uma aventura porque se trata de uma opção. É um convite, um chamado. Não é uma obrigação, não é um peso. É se você quiser. É um processo de namoro, como bem disse o Pe. Almerindo. Namoro, conhecimento, desejo. Então, é uma aventura porque nós queremos propor: olha, diante de tantas coisas esquisitas neste mundo, vem conhecer Jesus Cristo com a gente”, emendou Pe. Douglas.

Para o Pe. Almerindo, nesse mundo secularizado, vamos conhecer Deus através do homem de Nazaré. “Eu imagino que na catequese o melhor jeito de a gente apresentar Deus, de modo especial para aquelas pessoas que têm dúvidas, seria apresentando aquele homem de Nazaré. Aquele homem com um jeito de viver tão simples, tão próximo das pessoas, tão amigo, tão companheiro. Se a gente conhecer primeiramente esse homem de Nazaré e ter uma relação de verdadeira amizade com ele, acredito que fica mais fácil a gente manter uma relação de intimidade com Cristo, o Verbo eterno. Então, quando alguém chega com uma dúvida, eu acredito que se a gente colocasse Jesus de Nazaré na vida da pessoa, despindo de tantas coisas, que às vezes complicamos tanto Jesus Cristo e deixando ele na essência que de fato ele é, a gente conseguiria convencer qualquer pessoa a ter uma verdadeira amizade com ele. E na medida que eu cresço na amizade com o Homem de Nazaré, eu consigo dar um passo para viver a intimidade com ele”, ensina.

Para Pe. Douglas, uma apresentação de Jesus também passa por um processo de reconstrução para depois construi-lo. “É porque às vezes os catequizandos, no início chegam com aquela ideia que ouviram em casa da família, que ouviram na escola do professor ou em outros ambientes, sobre uma religião como algo que é um amontoado de regras, de preceitos éticos, morais, ‘pode não pode, isso e aquilo’, uma religião como um conjunto legislativo. Ou seja, a religião é uma lei e você tem que seguir desse modo. Infelizmente, nós, às vezes, reforçamos essa ideia na nossa prática catequética quando colocamos regras demais. ‘Olha, para fazer a primeira comunhão só depois disso ou daquilo outro’ e não somos capazes de analisar o indivíduo, a criança, o jovem, o adulto na experiência de Deus que ele fez, no caminho que fez. Então, penso que a primeira ideia é descontruir isso. Vamos pegar uma página em branco, mesmo que seja difícil, e não vou apresentar só uma religião, mas uma pessoa, alguém, para que ele seja seu amigo na caminhada. O resto vem depois no processo. Primeiro experimentar Jesus”, observou.

“Infelizmente, as pessoas conhecem as normas, ‘o pode e não pode’, e depois elas têm dificuldades para fazer o processo de se readaptar ao essencial. Não tem outro caminho se, diante dos desafios, não estivermos alicerçados em Jesus”, reforça Pe. Almerindo.

EVANGELIZAR A FAMÍLIA

“Esse é o grande desafio nosso: Evangelizar a família. Infelizmente, o catequizando quando chega na catequese já deveria saber as coisas básicas da fé. Lembrando que a catequese é para aprofundar a fé da pessoa. Quem dá a fé são os pais, é a família. Ela que deveria oferecer a fé aos seus filhos e a catequese, por sua vez, aprofundar. Eu fico sempre me questionando que se a família não desenvolve o seu papel, como é que vamos dar conta, uma vez que o catequizando vai para a catequese quando ele já tem sua personalidade formada. Ele já está com 7, 8 ou 9 anos. Ele já recebeu tudo que precisava para se formar, para ser gente, ser pessoa e pessoa realizada, e agora lá na catequese precisa ensinar o sinal da cruz, precisa ensinar orações corriqueiras, que são próprias para a família. Então, a resposta não é tão doce, mas não queiramos assumir o papel que é próprio da família. Não dá, não tem como. A criança deve ser catequizada ainda no ventre da mãe. Não é esperar quando ela fizer uma inscrição para entrar na catequese e ser evangelizada. Mas a gente, enquanto Igreja, enquanto catequista, pode dar alguma ajuda. Eu acredito que a gente precisa ter logo no início da catequese a família como parceira. Continuo a dizer. É um longo desafio. Nem todos vão aceitar ser parceiros dos catequistas e da comunidade de fé. Então, imagino que nos primeiros encontros, em vez de se reunir com os catequizandos, reunir-se com a família, pai e mãe, ou com o responsável pelo catequizando. Eu acredito que em vez de desenvolver quatro encontros para o catequizando, quem sabe um deles poderia ser com os pais”, sugere Pe. Almerindo.

“O processo de conversão se torna um pouco mais difícil se ele não parte dessa experiência inicial, logo no início da infância”, acrescentou Pe. Douglas, fazendo uma analogia do rito da Páscoa judaica. “Na noite da Páscoa dos judeus, eles fazem aquele rito familiar dentro de casa, organizam a mesa, e naquela liturgia familiar e caseira, geralmente o mais velho senta na cadeira, digamos da ‘presidência’, e o mais novo é ensinado a dizer: ‘Pai, conte-nos o que aconteceu naquela noite santa’. E então, o mais velho começa a contar, com suas palavras, com seu jeito, o que aconteceu na noite da Páscoa: ‘Nós éramos escravos tantos anos no Egito e o Senhor nosso Deus…’ E assim vai narrando. Interessante, eles não narram como uma história: ‘O povo hebreu…’. Eles narram fazendo parte da história: ‘Nós passamos, nós entramos na terra prometida…’. Com isso, a criança vai fazendo a experiência de fé, sendo incluída. Não é um livro que estou lendo uma história à parte. Mas essa família faz parte da história: ‘Meu povo, meu pai, passamos o Mar Vermelho…’.

Um dos participantes quis saber como fazer para que as crianças fiquem na Igreja após a primeira comunhão, continuando o processo formativo, especialmente neste momento de pandemia, que está modificando a vida em comunidade.

Segundo Pe. Almerindo, a pergunta é fundamental. “Estamos de fato percebendo o sumiço das pessoas na pandemia. Uns com medo, outros por comodidade, por sentir que a religião não fez falta, imagino assim. Não existe nenhuma pesquisa, mas percebo esta realidade. Fazer com que o catequizando, depois de receber o sacramento, permaneça na Igreja é o nosso desafio. Eu não sei se temos resposta para isso, mas eu arrisco dizer que está em tudo que nós já falamos. E na forma como apresentamos o conteúdo catequético durante o processo catequético. Infelizmente, não fazemos o caminho como ele deveria ser feito. Como disse, colocando Jesus sempre no centro de tudo.  Eu arrisco dizer que é o nosso processo que não é bem feito, seja pela falta de formação dos catequistas, seja pela habilidade pedagógica, de saber ser um verdadeiro pedagogo na fé, transmitir como deve, ou seja pelos nossos conteúdos, pelos nossos roteiros que, muitos dos quais não nos conduzem a um processo verdadeiro do amadurecimento da fé e da adesão a Jesus Cristo. Quem encontrou Jesus não tem como ficar fora desse processo, aliás no Documento de Aparecida, no nº 29, eu gosto demais daquela fala do Bento XVI: “Conhecer Jesus é o melhor presente que alguém pode receber; tê-lo encontrado foi o melhor que ocorreu em nossas vidas, e fazê-lo conhecido com nossa palavra e obra é a nossa alegria” (DAp, nº 29). Talvez, a pergunta é: o catequizando que recebeu a Eucaristia, a confirmação, ele encontrou Jesus no processo catequético? Talvez seja este o questionamento que temos que fazer”, avalia Pe. Almerindo.

Pe. Douglas acrescentou fazendo outro questionamento: “Ele encontrou Jesus ou cumpriu a escolinha para receber o diploma? Eu vejo aqui um problema sistemático. Nós olhamos desde o positivismo para cá, tudo foi se especializando demais. Então, tudo se torna especialista. Se você vai ao médico, tem aquele médico que é especialista no dedo indicador direito. E ele só cuida desse. ‘Ah, mas eu tenho um problema no esquerdo’. Então é outro médico. Nós vivemos a crise da superespecialização. Ou seja, sei fazer isso e nada mais. Mas faz lembrar Charles Chaplin em ‘Tempos Modernos’. Só sabe apertar um parafuso. Se apertar outro, não dá conta. Nós precisamos trazer para a Igreja um conceito que foi trabalhado e depois esquecido em nossos planos pastorais, que é a famosa pastoral orgânica. Nós precisamos entrelaçar as coisas. Se não nós ficamos assim: a catequese aqui e a pastoral da família acolá; o ECC de um lado e o dízimo de outro. Não conversamos e não formamos rede. A partir de quando a criança é apresentada a Jesus, passar apresentar a vida cristã. Nós vivemos numa comunidade. Aqui é a nossa Igreja, integrando a criança e o jovem nas atividades da comunidade. Não se trata de dar um trabalho, mas é trazê-lo para a experiência de comunidade. É já fazer esse despertar para a vida de comunidade”.

Outra questão colocada para os convidados é como viver a espiritualidade numa sociedade atarefada, ocupada, conectada. “Não tem como eu ser cristão sem fazer adesão a Jesus. Apesar de já ter gente querendo ser cristão sem viver Jesus, sem viver a religião, a comunidade de fé. Isso é impossível. Não dá para dizer que eu sou cristão sem ter Jesus na minha vida. Mas eu acredito que precisamos assumir as exigências do seguimento, onde Jesus deixa muito claro que as pessoas são livres. Se quiser, ele não obriga, mas na liberdade precisa assumir tudo o que é próprio do seguimento. Precisa entender não é só a mensagem da ressurreição mas precisa, acima de tudo, da linguagem da cruz”, destacou Pe. Almerindo.

Para Pe. Douglas, a pandemia nos atrapalhou bastante. “E eu tenho dito muito: Deus não é virtual. Deus não é um avatar. Deus é pessoa, e pessoa você tem que experimentar, tem que viver. Faço aqui uma analogia de um clássico da literatura: Saint Exupéry. Todo mundo conhece, até quem nunca leu o ‘Pequeno Príncipe’. Numa passagem lá, o Pequeno Príncipe vê aquele campo de rosas e fica decepcionado, porque no planeta dele tinha apenas uma rosa e achava que era única. No desenrolar da história, ele entende que o que fez com que aquela rosa fosse importante para ele foi o tempo que dedicou a ela. O nosso relacionamento que foi importante. Assim também é com Deus. A pandemia parece que fez algumas pessoas entenderem que a frequência à igreja não é necessária. O que é um erro. Não dá para viver uma fé de pijama, deitado no sofá de casa assistindo a Missa pela TV ou internet, colocando coraçãozinho lá. A fé cristã não é uma fé de internet. Embora sabemos valorizar momentos como esse aqui, que a Vozes está proporcionando, em que para isso a internet cumpre o papel formativo e dialogal. A experiência, como dizem os franceses, deve ser tête-à-tête. Não dá para fazer virtual”, criticou.

Essa experiência com Jesus precisa ser alimentada, como reforça Pe. Almerindo, pela Palavra e Eucaristia. “Para nós que já encontramos Jesus, não tem outro caminho”, enfatiza. “Para quem não encontrou, precisamos apresentá-lo. Como disse alguém, ‘não dá para amar aquilo que a gente não conhece'”.

Pe. Douglas, parafraseando Santo Agostinho, citou: “oh beleza tão antiga e tão nova!” Segundo ele, a experiência de Deus é nova todos os dias: “Nenhum de nós pode dizer que já conhecemos tudo. Inclusive o próprio título do nosso livro já diz isso. Tomamos o cuidado de dizer “um itinerário para conhecer Jesus”. Ou seja, uma proposta entre tantas que existem para viver essa experiência. Jesus é sempre novo. Nunca achar que já estamos prontos, que sabemos tudo, que já o temos.  A cada dia, a cada manhã deve ser buscado, como diz a música de Pe. Zezinho, uma pessoa que admiro muito e que encanta com suas músicas. “Esta manhã, mais uma vez/ Volto a rezar e a pedir tua luz/ Sei que eu não sei continuar/ Sem escutar tua voz, que me diz / Que o pai me ama/ Que ele me chama / Pra me fazer feliz /E eu vou percorrendo o caminho (eu vou) / E eu vou, porque Deus é amor (eu vou) / Porque Deus me chamou (porque Deus me chamou) / Porque Deus é amor”. É isso, foi ontem, é hoje, precisa ser amanhã, porque senão é ponto final e não fé é ponto final”.

CONHEÇA OS CONVIDADOS

Pe. Almerindo é graduado em Filosofia (PUC); tem Pós-graduação, lato sensu, em Ensino Religioso – Faculdade do Noroeste de Minas – FINOM – Paracatu/MG; é pós-graduado em Teologia Pastoral. Sacerdote incardinado na Diocese de Luz/MG, é pároco na Paróquia São Sebastião/MG; assessor Diocesano da Catequese e Professor de História da Filosofia Antiga no Seminário Diocesano Nossa Senhora da Luz, em Luz/MG. Autor da obra “Missa: conhecer para viver”. Membro da Equipe de catequese do Regional Leste 2/CNBB e coautor da coleção “Deus Conosco”.

Pe. Douglas possui graduação em Direito pela PUC de Minas Gerais (2009). Tem experiência na área de Direito, com ênfase em Direito Penal. Pós-graduado, lato sensu, em Ciências Penais pela PUC de Minas Gerais (2010), especialista em Ciências Criminais pelo Instituto Brasileiro de Ciências Criminais e Advogado inscrito nos quadros da Ordem dos Advogados do Brasil – Minas Gerais. Bacharel em Teologia pelo Instituto Dom João Resende Costa da PUC de Minas Gerais (2013). Especialista em Direito Matrimonial Canônico pelo Instituto Santo Tomás de Aquino, Belo Horizonte/ MG, (2015). Sacerdote incardinado na Diocese de Luz/ MG, é pároco na Paróquia Sagrado Coração de Jesus, em Formiga/MG. Juiz Auditor da Câmara Eclesiástica, assessor Diocesano da Pastoral Universitária e colaborador da Comissão Diocesana de Catequese. É autor do livro “Deus, onde estavas quando precisei de ti?”