Santo Antônio é do Largo da Carioca
01/06/2018
Moacir Beggo
Rio de Janeiro (RJ) – Nos próximos treze dias, no Rio de Janeiro, as festividades mais tradicionais da cidade para Santo Antônio, o santo mais popular em todo o mundo, serão no Convento Santo Antônio, com a 336ª Trezena e Festa em honra ao santo franciscano. O Papa Leao XIII disse: “É importante amar Santo Antônio. Cuidai que os outros também o amem. Santo Antônio não é apenas de Pádua, é do mundo inteiro…”. E Frei Neylor Tonin, o pregador do primeiro dia nesta sexta-feira (1º de junho), acrescentou: “E do largo da Carioca”.
A cada dia, a Trezena terá um pregador diferente. Por isso, numa cerimônia singela e significativa, o guardião do Convento, Frei José Pereira, investiu Frei Neylor com o ‘poder da pregação’, um gesto que servirá para todos os pregadores. “É uma alegria estar aqui. Na verdade, estou tremendo um pouco. O latim tem uma expressão ‘com timore et tremore’ (com temor e tremor). Tremor porque estamos diante de Deus. Não só tiramos as sandálias, não só nos prostramos por terra, mas nós também sentimos temor e tremor. E é o que estou sentindo agora. Quando recebi as palavras da investidura de Frei José, quando ele me colocou esta estola, na verdade eu estava sendo missionado por Deus”, revelou Frei Neylor.
Frei Roger Brunório fez a acolhida dos fiéis no início da Celebração que começou ao meio-dia: “Estamos todos animados e felizes, não é? Porque quem vem para a casa de Deus, vem para ficar melhor. Sejam bem-vindos. Nós, franciscanos, queremos dar o melhor que temos, o melhor que Convento tem, para que a festa e a Trezena aconteçam”, animou o frade.
Na procissão de entrada, Frei Erick de Araújo Lazaro carregou a cruz à frente, vindo atrás os estandartes de Santo Antônio, o andor e as colaboradoras do Convento, ministras, membros do povo e o presidente da Celebração, Frei José, e os concelebrantes, Frei Neylor e Frei Odécio Lima, frade da Custódia do Sagrado Coração de Jesus e capelão chefe da Marinha. No meio de um feriado prolongado, o povo lotou a igreja do Convento para render graças ao Santo franciscano.
Mas o pregador lembrou que todos na igreja não podiam esquecer que estavam ali por causa do “centro espiritual e definitivo de nossa vida”, que é Jesus. “Ele é o caminho, a verdade e a vida. Apenas que nós, nessa 336ª Trezena, estamos invocando e pedindo a companhia de Santo Antônio. Nós queremos nos encontrar com Jesus e com Deus na companhia de Santo Antônio. Essa é a razão da Trezena. Não queremos parar em Santo Antônio. Nós queremos, com ele, chegar a Deus e a Jesus”, frisou.
Neste primeiro dia, Frei Neylor achou importante falar da vida do santo. Mostrou um volume com 2.054 páginas, onde se relatam seis biografias de Santo Antônio escritas no século 13, nos primeiros 100 anos da vida e morte do santo. “Aqui estão todos os milagres e sermões do santo”, disse, lembrando que a primeira biografia de Santo Antônio se chama “Assídua” (ou Primeira vida), escrita em 1232 ou 1233, e, com base, nela contou que o Santo nasceu em 1195, provavelmente no dia 15 de agosto, recebendo o nome de batismo de Fernando. “Filho de nobres, aos 15 anos entrou para a Ordem de Santo Agostinho. Mas quis Deus que o testemunho dos mártires franciscanos no Marrocos levasse Santo Antônio a escolher o martírio vestindo o hábito de São Francisco de Assis. Teve excelente formação intelectual, pregando o Evangelho na Itália e na França. Morreu com apenas 36 anos, no dia 13 de junho de 1231, e foi sepultado em Pádua. Ao morrer, os moradores de Pádua já o consideravam santo. Um ano depois foi canonizado pelo Papa Gregório IX, na Catedral de Spoleto”, recordou.
“Isso são apenas alguns dados biográficos. Claro que não se fala da intensidade da santidade de Santo Antônio, mas se delineia como foi essa vida tão curta. Uma coisa quero ressaltar: Santo Antônio é português. A gente diz Santo Antônio de Pádua, pensa na Itália e se esquece de Portugal”, ponderou. “Portugal deu três coisas importantes para o mundo: embora tivesse levado a espada, levou a Cruz onde conquistou, os ideais do Evangelho; em segundo lugar, deu ao mundo Nossa Senhora de Fátima; e, em terceiro lugar, Santo Antônio foi o grande presente que Portugal deu ao mundo”, anotou.
Frei Neylor recordou que Santo Antônio é o santo mais popular no Ocidente. “Nenhum santo ‘bate’ Santo Antônio”, cravou, citando que só para falar em termos de Dioceses, mais 30 são dedicadas a Santo Antônio. É assim com Paróquias, conventos, padarias, etc.
Frei Neylor se voltou para a imagem do Santo no altar central e rezou:
“Querido Santo Antônio, nosso Padroeiro, tu foste um eloquente orador, tu foste um incansável homem do Evangelho, desde 1608 aí estás olhando para nós. Já se passaram, diante de seus olhos, milhões de pessoas; hoje, quem está olhando para ti somos nós . Olha por nós, fica conosco, toma-nos pela mão. Assim como tiveste essa intimidade com Jesus Menino, nós queremos ter a intimidade de estar perto de ti e seguir-te e receber a tua bênção. Expulsa de nós, querido Santo Antônio, todos os males, e nós te agradecemos e seremos fiéis e admiradores de tua pessoa e de tua santidade. E se nós, Santo Antônio, não podemos traduzir em melhores palavras a admiração que temos por ti, nós ao menos podemos fazer soar dentro de nossa igreja, para coroar estas palavras e exaltar tua biografia, um caloroso aplauso” .
No final da Celebração, após a bênção dos pães e lírios, Frei José chamou o casal Regina e Heber Resende, para receber a bênção pelos 32 anos de matrimônio.
Como ocorre em todos os anos, a Pia União de Santo Antônio e da Ordem Franciscana Secular montaram barracas de distribuição de pães, flores, salgados e doces na entrada do Convento para receber com muita alegria os fiéis devotos.
Uma fiel devota é Nilza Ferreira, que não quis mostrar o rosto, mas deixou fotografar o livrinho da Trezena que usa não sabe há quantos anos. “Venho aqui sempre, especialmente durante a Trezena. Sou muito devota de Santo Antônio”, disse, não largando o velho e surrado livrinho (veja foto abaixo).
Neste sábado, às 10 horas, o segundo dia da Trezena terá como tema “Santo Antônio, chamado à identidade”.