Santo Antônio leva o claustro franciscano ao mundo
07/06/2018
Moacir Beggo
Rio de Janeiro (RJ) – Santo Antônio saiu de Portugal ainda jovem para ser mártir no Marrocos, mas acabou sendo o santo com mais devotos no mundo inteiro. O tema do sétimo dia (7/6) da Trezena de Santo Antônio no Convento Santo Antônio do Largo da Carioca (RJ), durante as Missas das 12 e das 18 horas, abordou a presença de Santo Antônio no mundo.
Frei Alan Maia de França Victor, que foi ordenado no dia 30 de setembro do ano passado, presidiu as duas Celebrações, tendo como concelebrante o guardião Frei José Pereira e Frei Robson Guimarães (18 hs). A pregação ao meio-dia, no entanto, coube ao jovem Frei Erick de Araújo Lazaro, ficando a reflexão para Frei Alan no final do dia.
Para ir tão longe no mundo, os dois pregadores ressaltaram que Santo Antônio não usou de poderes mágicos, mas fez a experiência do Evangelho. “Um homem que acreditou e colocou sua vida nas mãos do Pai, tendo como centro Jesus Cristo, vivendo de forma concreta em sua vida a Palavra de Deus e sendo testemunha do Cristo ressuscitado a todos os irmãos e irmãs”, disse Frei Alan.
O frade lembrou que os franciscanos, evangelizam em fraternidade. “Assim é que São Francisco de Assis nos enviou em missão. Como nos diz, Jacques de Vitry, uma testemunha sobre os frades no século XIII: ‘O mundo inteiro é o seu espaçoso claustro’. Assim vivemos até nossos dias, nosso claustro é o mundo, para levar o Evangelho”, explicou.
“Santo Antônio, padroeiro deste convento, como bom franciscano, viveu a itinerância. Sua presença evangelizadora nos países onde foi como frade menor é hoje reconhecida no mundo inteiro. Ele é Santo Antônio de Pádua, na Itália; Santo Antônio de Lisboa, Portugal; podemos dizer, Santo Antônio do Rio de Janeiro, este convento que comemorou 410 anos no último dia 4 de junho. Santo Antônio da devoção de homens e mulheres do mundo inteiro, que pede sua intercessão junto a Deus, por milagres, namorados (as), casamentos etc”, acrescentou Frei Alan, fazendo um resumo da vida do santo, desde a partida para o Norte da África, sendo presença na Itália e na França, até morrer em Pádua em 1231.
Santo Antônio, segundo o presidente da Celebração, falava com liberdade, era profundo ao se referir às Sagradas Escrituras. Não procurava nem honras nem aplausos. Chamava atenção das pessoas importantes do povo, mas a todos atraía com seus sermões e pregações, falando com bondade e amor. “Convidado a pregar em um sínodo diocesano na França, dirigiu seu sermão a um bispo que com seu mau exemplo dava escândalos. Iluminado pela Sagrada Escritura, reprovou os seus desvios e mostrou a gravidade de seus pecados. Fez com tanto jeito, que o bispo não se ofendeu. Caiu em si e depois pediu a Santo Antônio que ouvisse sua confissão. Deixou a França como grande taumaturgo (que faz milagres), martelo dos hereges (combateu muitos hereges que tinham no seu tempo), trombeta do Evangelho”, ilustrou Frei Alan.
TESTEMUNHO
“Se a gente quer ser testemunhas do Evangelho, precisamos tê-lo presente em nossa vida. Esse grande homem que nós veneramos hoje fez essa experiência”, destacou Frei Erick, que está fazendo o Ano Missionário no Convento Santo Antônio antes de cursar Teologia.
Para o jovem frade, as Escrituras não podem ficar amareladas e empoeiradas no altar. Elas precisam fazer parte da vida. “Santo Antônio tem uma famosa frase de suas homilias: ‘As palavras são vivas quando as obras falam’. Ou seja, de que adianta muitas vezes pregar, sair pelo mundo, converter o mundo inteiro, se não consigo nem me converter e muito menos a própria família. A pregação com atos, primeiramente, começa em casa. O testemunho de vida começa em casa, no nosso lar”, disse.
Frei Erick contou que, certa vez um jovem jornalista foi entrevistar Santa Madre Teresa de Calcutá. No meio da conversa, entusiasmado com as respostas dela, ele perguntou: “Madre Teresa, o que é preciso para melhorar o mundo?” “Ela, com seu jeitinho simples, respondeu: ‘Primeiramente eu e depois você’. Virou as costas e foi embora, deixando o jovem meio ‘perdido’ com a inesperada resposta”, observou Frei Erick.
“Ou seja, a mudança do mundo não está nas coisas, mas em nós. Se cada um de nós fizer a sua parte, o nosso exemplo vai atrair outros e assim por diante. Assim como Santo Antônio, São Francisco, que atraíram multidões pelo Evangelho, pela vivência dele. E nós, aqui, estamos atraídos por esse Evangelho?”, perguntou.
“Por isso, a exemplo desse grande homem, Santo Antônio, que ele possa nos ensinar a levar para esse mundo um testemunho verdadeiro e essa vivência do Evangelho para transformar o mundo”, pediu o jovem frade.
Já Frei Alan pediu a intercessão de Santo Antônio junto de Deus pela concórdia, pela paz e pela justiça na cidade do Rio de Janeiro, que vive uma grave crise econômica e de segurança.
Todas as celebrações terminam com a oração da Trezena e a bênção dos lírios e dos pães. No Convento Santo Antônio, o povo só deixa a igreja depois de receber a água benta aspergida. Aspergir, contudo, é um termo sofisticado no Convento. Os fiéis gostam de receber muita água, de serem molhados. Para isso, os frades do Convento usam uma brocha, e os fiéis se deslocam para o centro do templo, em torno do frade e do balde.
Nesta Celebração estavam presentes a mãe Anita Maria de França Victor, a irmã Aline e pequeno sobrinho de Frei Alan.
Nesta sexta-feira, Solenidade do Sagrado Coração de Jesus, o tema não poderia ser outro numa casa franciscana: a devoção ao Sagrado Coração.