“Reconhecer no olhar do outro nossa humanidade”
05/06/2018
São Paulo (SP) – Santo Antônio foi um frade muito inteligente e estudioso. Foi um teólogo eloquente! Há aproximadamente 800 anos ele escreveu a seguinte frase: “A humildade é a mãe e a raiz de todas as virtudes. Quem reúne virtudes sem humildade se assemelha a quem transporta pó ao vento”. Assim, os fiéis e devotos deste santo franciscano iniciaram o 5º dia da Trezena na Paróquia do Pari em São Paulo que teve como tema: “Santo Antônio o Santo da humildade”. A Celebração Eucarística aconteceu às 19 horas e teve como celebrante o pregador Frei Clauzemir Makximovitz.
Para Frei Clauzemir, faz parte do carisma franciscano buscar as coisas simples, uma vida moderada e também optar sempre pelos pobres e preferidos de Deus. “Não se trata de depreciação das coisas ou de renúncia como fuga, pelo contrário, trata-se do reconhecimento do verdadeiro valor das coisas e da realidade, de reconhecer que tudo só tem valor enquanto nos aproxima de Deus”, ensinou.
No relato do Gênesis, ao criar o ser humano, Deus mostra toda a sua criação e confia o mundo todo e tudo o que existe, não para sua posse, mas para seu cuidado, pois tudo a Deus pertence. “Essa constatação como ponto de partida, de que tudo a Deus pertence, de que todas as coisas existem sob nossa responsabilidade de cuidado e preservação instaura uma nova atitude do ser humano perante a realidade toda, perante mesmo suas conquistas e realizações: tudo é obra de Deus, o ser humano é responsável, co-criador, mas não dono, não dominador sobre o mundo. Reconhecer que mesmo o próprio ser humano não se pertence, mas sua própria vida, força, capacidades, tudo vêm de Deus”, assinalou.
E prosseguiu afirmando que esse reconhecimento é a base do que chamamos humildade! “Ser humilde nada mais é do que reconhecer nosso lugar na dinâmica da realidade, reconhecer que sozinhos, nós não damos conta de nada, que em tudo e para tudo, dependemos de Deus. Dependemos de um Deus bondoso, amigo, que confia no ser humano e lhe dota de dons especiais e capacidades sublimes, mas um Deus que continua invariavelmente sendo fonte e sustentação de tudo isso. Se diante de Deus somos incapazes de nos sustentar por nós mesmos, diante uns dos outros qual não deve ser nossa atitude senão a mesma, de simplicidade e humildade, pois todos temos a mesma dignidade diante daquele que nos criou e nos sustenta”, destacou.
Segundo ele, a espiritualidade franciscana celebra essa constatação, ao irmanar toda a criação. Chamar o fogo, o vento, a água e a criação toda de irmãos, expressa a tentativa de relacionamento sem dominação, com base no cuidado e responsabilidade que é a vocação do ser humano.
“Santo Antônio expressa essa espiritualidade da humildade em seu modo de vida simples, despojado, em seu carinho e apreço pela criação toda, em sua devoção que vislumbra o rosto de Deus na obra da criação. Não tem sentido nos sentirmos superiores uns aos outros, pois diante do que realmente importa, todos somos insignificantes, por nós mesmos não temos méritos, Deus é quem nos dignifica porque nos ama e confia em nós”, sublinhou o pregador.
E finalizou: “Jesus, no Lava-Pés torna concreta essa lição ao mostrar que o serviço não humilha, pelo contrário, nos torna mais conscientes e mais próximos da realidade, da verdadeira relação com o divino que habita em nós. Quantas vezes nos achamos melhores do que os outros só porque estamos numa situação financeira, familiar, até acadêmica mais privilegiada? Como se isso fosse critério significativo da realidade. Mas não, o que realmente importa é nossa condição humana, e nela, todos somos iguais, todos somos instrumentos de Deus, todos somos seus filhos amados e queridos. Humildade é conseguir olhar para o irmão e não ver um concorrente, uma ameaça ou alguém inferior, mas pelo contrário, é conseguir se reconhecer no olhar do outro, saudando nossa humanidade tão amada por Deus”, ensinou o jovem pregador.
O sexto dia da Trezena (6/6) terá como tema: “Santo Antônio o Santo dos animais”. A celebração será as 19 horas.