Notícias - Província Franciscana da Imaculada Conceição do Brasil - OFM

Projeto Nossos Miúdos: 10 anos construindo a paz

16/02/2012

Notícias


 Luanda (Angola)
– A paz é fruto do Amor, amor este que é compassadamente edificado no coração das pessoas que o recebem. A paz durante 30 anos foi almejada, sonhada e desejada por todo o povo Angolano. 30 anos de guerra civil é demais para destruir estruturas físicas e dispersar os valores, entre eles a Paz. Uma nação que não possui a paz não vive, vegeta. A Paz é essencial e é esta paz que ,construída, ensinada e vivada ao longo de 10 anos, que o Projeto Nossos Miúdos celebra no dia 31 de janeiro de 2012.

No próximo dia 31 de janeiro (2012) o projeto “Nossos Miúdos” com muita alegria celebra os seus 10 anos de existência. Este projeto que ainda é um miúdo, uma criança, já proporcionou a paz a muitos meninos desamparados, seja por motivo da guerra ou abandono por suas famílias. Nesta matéria gostaria de convidá-lo a conhecer este belo projeto que os franciscanos mantêm em Luanda (Angola). O mineiro franciscano, Frei Márcio de Araújo Terra, o missionário mais antigo da Missão dos Franciscanos em terras Angolanas, é o pai deste projeto. Em suas malas, ao chegar a Angola no ano de 1999, Frei Márcio trouxe o seu desejo de colaborar com este povo que tanto sofria. Transcrevo aqui a sua fala acerca de sua primeira experiência pastoral, que muito tem a ver com este projeto, pois foi desta experiência que surgiu a inspiração de se criar este tão importante trabalho.

“Depois deste tempo inicial de muito marasmo, foi-me oferecida a primeira oportunidade pastoral. Aconteceu graças às Irmãs Franciscanas de São José, que estavam iniciando as suas atividades no Roque Santeiro – o maior mercado a céu aberto da África. Crianças e jovens que fugiam das mais diversas regiões de Angola, com medo da guerra acabaram fazendo do Roque a sua casa. É curioso saber que muitas destas crianças chegaram a Luanda em voos militares. Os militares, com pena das crianças, as deixavam subir nos seus aviões e depois as soltavam em Luanda. A Paróquia ali é dos Salesianos.  Como é próprio do carisma salesiano o cuidado das crianças e da juventude, eles estavam empenhados em desenvolver muitas atividades com estas crianças e jovens. Como, porém, os operários eram poucos, fui acolhido numa equipe que, com leigos da paróquia e com as irmãs de São José, iria fazer um acompanhamento a estes grupos. Foi muito interessante. As atividades de campo aconteciam aos domingos e nas segundas-feiras. Outros dias eram reuniões avulsas para a avaliação, planejamento e formação. Quando as reuniões eram à noite, eu não conseguia participar, porque havia um toque de recolher. Aos domingos, íamos para o Roque por volta das 13h. Era o horário que se encerravam as atividades comerciais. Umas mamás, que lá vendiam e que eram católicas, cediam suas barracas, onde realizávamos uma celebração da palavra. Mas era difícil, porque todo mundo queria mesmo era voltar para suas casas, embora a proposta fosse muito interessante, pois pretendia oferecer aos cristãos católicos a oportunidade de cumprir ali mesmo seu preceito dominical. Nas segundas-feiras, reuníamo-nos com as crianças e jovens. Era o dia do oratório salesiano. Foi aí que tive a primeira oportunidade de entrar em contato direto com muitas crianças e adolescentes, que viviam as duras consequências da guerra: o abandono total”. O abandono total é algo que tira a paz do coração de qualquer um, ainda mais de crianças que estão se formando para a vida. Este sentimento tocou profundamente o coração de Frei Márcio, e para trazer um pouco de paz ao coração destes miúdos  e que  o missionário franciscano começou a pensar na possibilidade de uma casa lar. Casa que fosse de acolhimento e de reintegração com a família. Certamente, o mineiro teria um desafio grande para superar.

Com a ajuda da Missionszentrale der Franziskaner comprou-se uma casa de antigos colonos portugueses, uma ‘vivenda’, assim como está escrito na frente da casa. Uma casa lar para os meninos de rua, esta casa com poucos cômodos abrigaria cerca de 20 miúdos. A mobília e equipamentos para a casa foram doados por um padre da Alemanha, e durante o primeiro ano a Cáritas Francesa deu o dinheiro para a alimentação.

Após uma prévia seleção, no dia 31 de janeiro de 2002, foi inaugurado o Projeto Nossos Miúdos, que segundo o seu fundador, “isso foi feito com a cara e a coragem”. Há um provérbio popular que afirma que se isso for da vontade divina irá prosseguir. Tanto prosseguiu que neste mês completa 10 anos de existência, de longos trabalhos, desafios e barreiras superadas. Um dos desafios era tornar-se autossustentável. “Se o diretor de uma instituição infantil vive pedindo aqui e acolá recursos, para sustentar a sua obra, indiretamente ensina as crianças a pedirem”, afirma Frei Márcio. Foi então que conseguiram o apoio para comprar maquinários e montar uma pequena escola de padaria e confeitaria. Isso, seria um meio profissionalizante para os adolescentes que lá viviam, e com a venda dos pães, haveria o sustento para a casa.

O Projeto Nossos Miúdos hoje tem uma padaria montada com um ótimo maquinário, isso graças ao investimento que recebeu da empresa brasileira Petrobrás. Com isso hoje os meninos do projeto, só os mais velhos, podem aprender a arte da confeitaria e se sentem importantes em poder retribuir o carinho recebido. Em média são produzidos todos os dias 1800 pães que são vendidos para as creches e escolas de Luanda, além dos vizinhos.

O objetivo deste projeto é de acolher e recolher os meninos desamparados e proporcionar-lhes a reintegração seja na própria sociedade como na família. A casa acolhe apenas os meninos de 9 a 19 anos. No início, a maior parte dos miúdos eram aqueles que fugiam da guerra. Com o fim da guerra este número mesclou com outro fenômeno muito comum em Angola, o de crianças acusadas de feitiçaria e que foram abandonadas pelos pais. Segundo Frei Márcio, neste último caso é sempre mais difícil de se fazer a reintegração na família, uma vez que a cultura local cultiva muito a  crença de que crianças sejam feiticeiras e poderia trazer o mal para a família.

Hoje, o projeto assiste a 20 miúdos, sendo crianças e adolescentes, além daqueles que já saíram da casa e sempre voltam, pois sentem que ali é sua casa também. O carinho, a educação, a formação e os valores que eles recebem no projeto, os capacitam para que se tornem cidadãos conscientes e sejam transformadores ativos na sociedade.

Um dos pontos fortes deste projeto é o cultivo dos estudos. Todos os miúdos frequentam a escola. “Eles gostam e fazem muita questão de ira a escola. Isso não é problema”, assegura Frei Márcio. A educação tem o poder de transformar a sociedade, pois ela planta a semente que amanhã produzirá frutos. Se plantarmos a paz colheremos a paz. Assim é o cultivo deste lar dos miúdos. Todo o dia se semeia a Paz.

O Projeto Nossos Miúdos que está localizado no bairro Palanca da capital nacional ainda é um miúdo 10 anos é pouco, porém muitos meninos foram beneficiados, muitos, muitos mesmo, tiveram suas vidas poupadas e em seus corações foi plantada a paz através do amor. Certamente, aqui podemos afirmar, são 10 anos construindo a paz. Nossos Miúdos. Nossa Riqueza.