Petrópolis se despede de Frei Clemente, o marchador silencioso e discreto de Deus
11/03/2025
No sábado, 8 de março, a Paróquia Sagrado Coração de Jesus, em Petrópolis, tornou-se o cenário de uma despedida carregada de emoção e reverência. Frei Clemente Schafaschek, um frade conhecido pela sua simplicidade e discrição, falecido no dia 7 de março, após dias de internação em decorrência de uma isquemia cerebral. A despedida ocorreu em uma celebração que reuniu fiéis, amigos, familiares e confrades. A missa presidida por Dom Joel Portella Amado, bispo diocesano de Petrópolis, concelebrada por Frei Gustavo Wayand Medella, Vigário provincial e Frei Marcos Antonio de Andrade, Guardião da Fraternidade, foi serena como a vida que o frade levou e trouxe um misto de tristeza e gratidão a todos os presentes.
Frei Gustavo destacou na sua homilia a essência do carisma franciscano, no ano em que se celebram os 800 anos do Cântico das Criaturas, em que São Francisco louva a irmã morte corporal: ‘Neste louvor extenso e amplo, ele tem a ousadia de personificar a morte e apresentá-la não como uma inimiga, uma rival ou alguém que trabalha contra as pessoas, mas como uma irmã, alguém do nosso círculo de convivência, que presta o serviço de vir nos buscar, de maneiras variadas em termos de circunstâncias, tempo e ocasião. E, mais importante do que o modo como ela vem, é para onde ela nos leva, a quem ela nos entrega: à presença viva do Ressuscitado, ao tempo novo e eterno da felicidade em Deus, da qual Frei Clemente já é participante.
Na sequência, o frade comentou sobre quem foi Frei Clemente: ‘Ele celebra a sua passagem de modo muito semelhante à forma como viveu: discreto, silencioso, objetivo e simples.’ Frei Gustavo destacou também como sua personalidade refletia sua origem interiorana: ‘Eu acho que é esse coração, essa alma forjada no interior, de quem nunca deixou que a terra, as plantas e a natureza saíssem do seu coração.’ Frei Clemente carregava essa conexão em pequenos hábitos, como o cuidado com ervas para seus chás ou a decisão de não podar o mato próximo à janela — gestos que refletiam sua espiritualidade franciscana e seu respeito pelo meio ambiente.
Ao tratar de sua atividade pastoral em Petrópolis, foi recordada sua dedicação ao sacramento da penitência: ‘Excelente confessor, procurado por muitas pessoas, praticante daquela arte hoje rara de escutar.’ Com paciência e discrição, ele se tornava um porto seguro para quem buscava conforto ou orientação. Essa habilidade de ouvir atentamente, mais do que falar, era um dom que ele exercia com generosidade, conquistando a confiança e o carinho de muitos.
Frei Clemente, o marchador
A imagem de Frei Clemente como um ‘marchador’ trouxe um toque especial às memórias compartilhadas na despedida. “Ele gostava de caminhar muito, calçava um tênis All Star de cano longo, já bem surrado, e às vezes ia até o Vale dos Esquilos, na Mosela, ou ao alto da Mosela. Ele se dizia um marchador”, recordou o frade. Suas longas caminhadas pela cidade não eram apenas um hábito, mas um símbolo de sua jornada espiritual — alguém em constante movimento, sempre conectado com as pessoas e os lugares.
Após a comunhão, Frei Marco, Guardião da fraternidade, fez os agradecimentos ao Bispo, aos confrades e familiares e convidou todos para o rito das exéquias, presidido por Frei Gustavo. Encerrado esse momento, Dom Joel exortou a todos à esperança, recordando o Ano Jubilar da Esperança, e, com a bênção final, convidou os presentes a permanecerem em oração até o translado do corpo. No mausoléu dos frades, onde foi sepultado, como parte do rito, o caixão de Frei Clemente recebeu um punhado de terra, de modo, no do frei, foi depositada um pouco da terra do morro que ele tanto cuidou e cultivou.
Frei Marcelo Tadeu da Silva Cardoso
Fotos: Frei Gabriel Nogueira Alves e Rogério Tosta