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Paróquia de Xaxim celebra 50 anos da morte de Frei Plácido

29/10/2016

Notícias

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Moacir Beggo

Xaxim (SC) – A Paróquia São Luís de Gonzaga, em Xaxim (SC), celebrou nesta sexta-feira, 28 de outubro, 50 anos da morte de Plácido Rohlf, o conhecido Missionário do Oeste Catarinense e também lembrado por muitos paroquianos como o “Frei das Mulas”. Para marcar esta data, a Paróquia fez uma caminhada penitencial que saiu da Matriz até o Cemitério Municipal que leva o nome de Frei Plácido. Ali, em frente a Capela também dedicada ao frade, o pároco Frei Alex Cianorscki presidiu a Santa Missa.

A caminhada saiu da Matriz às 18h30 com um bom número de peregrinos, que percorreu um trajeto pela cidade de cerca de 3 quilômetros. Várias casas, por onde passou a procissão, montaram altares na rua, todas ilustrando o espaço com um cartaz sobre um trecho da biografia de Frei Plácido. Frei Alex comentava esses aspectos da vida de Frei Plácido, considerado por muitos um “santo”. Junto com Frei Bruno Linden, que está em processo de beatificação, ele é um dos missionários mais queridos desta região catarinense.

Ao comentar o Evangelho, Frei Alex lembrou os Apóstolos, pois hoje a Igreja celebra São Judas Tadeu. “Os nomes dos apóstolos ficaram marcados para sempre na Palavra de Deus e para sempre em nossos corações. Deus, durante a história, continuou chamando tantas e tantas pessoas para que pudessem, através de suas vidas, serem um sinal para anunciar a bondade do Senhor”.

Segundo o pároco, entre essas pessoas, que já passaram pela cidade de Xaxim, hoje se recorda de Frei Plácido. “Deus tocou o seu coração. E como nós recordamos durante a caminhada, saindo lá da Alemanha ele veio para junto de nosso povo, da nossa comunidade, para ser um sinal de Deus”, explicou.

“Por isso, a nossa oração hoje quer dizer um muito obrigado a Deus que nos concedeu Frei Plácido, que deu ele como evangelizador, missionário, sinal da presença de Deus e da bênção do Senhor para todos nós”, disse.

Para Frei Alex, embora existam muitos artigos sobre a vida de Plácido, “a verdadeira história de Frei Plácido está escrita, registrada em nossos corações. E é por isso que nós estamos aqui hoje. Os seus ensinamentos, o seu modelo de vida, a sua pregação, o seu carinho, a sua fé, marcaram nossos corações. A história de Frei Plácido está viva na fé do povo de Xaxim”, frisou o pároco de Xaxim.

“Que Deus acolha nosso agradecimento por uma história tão bonita, feita de doação e feita de entrega”, pediu, lembrando os 50 anos da vida e passagem no meio do povo de Xaxim. “Portanto, Frei Plácido continua hoje nos desafiando. Aquele que saiu da Alemanha e veio para cá anunciar a Boa Nova, nos diz que Deus, hoje, continua nos chamando para que possamos, na doação de vida, na vivência da fé, anunciarmos também o Reino de Deus”, provocou.

“Frei Plácido, missionário do Oeste Catarinense, nos desafia também nós a sermos missionários e missionárias, na nossa sociedade, na nossa cidade, na nossa família, na nossa casa, na nossa Igreja”, completou Frei Alex, pedindo a intercessão deste frade piedoso junto a Deus por cada um dos presentes e pedindo que seu exemplo desperte “em nossos corações o desejo de anunciarmos o amor e a bondade do Senhor”.

 

MISSIONÁRIO DO OESTE CATARINENSE

Frei Plácido nasceu no dia 12 de junho de 1887, em Lavesum. Chegou a Blumenau em outubro de 1913 e recebeu o hábito franciscano no Noviciado de Rodeio, no dia 20 de janeiro de 1916. Sua presença evangelizadora é muito marcante nos estados do Paraná e Santa Catarina.

O famoso sermão na Matriz de Palmas

Segundo Frei Evaldo, em Palmas, entre 1936 e 1938, Frei Plácido fez um de seus famosos sermões, que ficou gravado na memória da cidade. Foi após a Via-Sacra. “Todos acompanhamos os Passos do Senhor Bom Jesus, nosso amado Padroeiro. Foi de fato homem corajoso em aceitar, em nosso nome, tanto sofrimento. Mostrou ser homem. Foi macho. Aqui, na casa do Homem Bom Jesus, tão macho, se encontram tantos homens que fazem empenho de serem considerados machos e assim serem chamados. São eles machos perante a mulher e os filhos. Mandam e desmandam. São machos na sociedade, principalmente nas brigas, nas lutas e na lida com os animais. Sempre são e querem ser considerados machos por todo o mundo. Só num lugar e numa ocasião deixam de ser machos. Justamente onde ele faria honra a esse título (Frei Plácido, em sua agilidade quase felina, vai à esquerda, volta à direita na Mesa da Comunhão). Aqui, nesta casa de Deus; aqui na Mesa do Senhor falta este macho, falta este homem, falta o chefe de família. Aqui é que ninguém quer ser macho. Aqui ninguém é macho. Aqui tem vergonha de ser homem, de ser chefe. Aqui o macho se esconde atrás da saia da mulher. Aqui manda a mulher fazer o de que ele se envergonha. E muitas vezes nem mesmo dá à mulher a honra cavalheiresca de acompanhá-la até à Igreja. O corajoso macho se esconde. É um fraco, um medroso, um covarde perante toda a família, perante a sociedade, perante Jesus, esse, sim, homem macho e corajoso!
Havia tanto fogo religioso nesse modo de falar que o sucesso foi positivo”.

O biógrafo Frei Clarêncio Neotti cita a crônica de Frei Evaldo Bamberg (+ 1992) sobre Frei Plácido: “Avesso a grandes cidades, mostrava jeito incomum e incrível de adaptação ao ambiente. No bom sentido, era mais simples, humilde a acaboclado do que os moradores do lugar. Mas conservava sempre um profundo respeito para sua vocação de sacerdote franciscano. Gostava de tomar parte em conversas alegres, mas habilmente sabia afastar-se, quando elas “engrossavam” ou quando alguma obrigação o chamava. Contava anedotas e as inventava de mil modos, conforme os ouvintes e as circunstâncias. Sabia educar eficazmente pequenos e grandes para a religião e a vida, sem contudo se tomar inoportuno e antissocial. Muitas de suas anedotas ainda hoje se contam entre os velhos. Sempre interessado pela horta, jardim, frutas e plantas. Muitas vezes nos sermões repreendia os que maltratavam animais e plantas. Tanto quanto possível zelava pela limpeza do hábito e outras roupas. Os arreios e outros apetrechos estavam sempre em perfeito estado. Afinal, também eles estavam a serviço da pastoral”.

Frei Plácido foi o primeiro pároco itinerante da Paróquia de Santo Antônio de Chapecó (1931-1932) e pároco da Paróquia de São Luiz Gonzaga de Xaxim de 1941 a 1945. Neste período lançou a ideia de construir a matriz atual, cuja construção iniciou-se em 1947.

Frei Evaldo lembra a afinidade que se criou entre Frei Plácido e sua mula: “Nunca posso esquecer nem Frei Plácido Rohlf nem sua mula baixa e preta. Era proverbial a quase ‘incorporação’ de ambos. Era tão fogosa, garbosa, flexível e generosa para com ele, que pareciam irmãos. Só ele a tratava, encilhava e montava. Ai do estranho que a quisesse prender ou pegar! Ela avançava com a cabeça abaixada, crina esticada, olhos em brasa e narinas com sopro ventoso; o freguês – na expressão do sertanejo – batia os pés, dando graças a Deus ter conseguido distância antes que fosse tarde”.