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Papa Francisco é tema de Curso de Teologia e Espiritualidade

10/02/2019

Entrevistas

Às vésperas de completar seis anos do Pontificado do Papa Francisco, tem início no Colégio Santa Teresa de Jesus, na Tijuca, mais um Curso de Teologia e Espiritualidade, administrado pelo frade franciscano Frei Neylor Tonin. E justamente o Papa Francisco será o tema deste curso, que terá quatro etapas: “A Igreja do Papa Francisco”, ministrado pelo Prof. Pe. Medoro de Souza Neto; o “Cristo do Papa Francisco”, ministrado pelo Prof. Frei João Fernandes Reinert; “Documentos do Papa Francisco”, ministrado pelo Prof. Carlos Frederico Schäfter; e “o Papa Francisco”, pelo Prof. César Kuzma.

Foi no dia 13 de março de 2013 que o mundo conheceu Francisco, quando apareceu no púlpito da Basílica São Pedro vestido de branco. Ele era, entre os cardeais, o que se vestia de maneira mais simples. Daquele dia em diante, muita coisa mudou. O “mais franciscano dos papas” escreveu a “Laudato Si’”, Sobre o cuidado da casa comum, indicando um caminho para a humanidade, mas também enfrenta um dos principais desafios do seu pontificado no que diz respeito aos casos de pedofilia com centenas de acusações sobre a Igreja. O mais progressista dos Papas, desde o fim do Concílio Vaticano II, não agrada as correntes conservadoras, que já mostraram as garras ao bispo de Roma.

“Se pudéssemos classificá-lo com uma só palavra, diríamos que é humano, muito humano. Com alegria, e sem solenidade, o deixaríamos entrar em nossa casa e lhe serviríamos a mesma comida que comemos. Que Deus o abençoe e o conserve por muitos anos!”, expressa Frei Neylor, dando uma mostra do que o curso pode render.

Frei Neylor J. Tonin é frade franciscano desta Província da Imaculada, nascido em Luzerna, SC, e explica nesta entrevista que há vinte anos fundou e mantém o curso de Teologia e Espiritualidade. Mestre e doutor em Espiritualidade, bacharel em Psicologia, estudou também Jornalismo e Sociologia. É professor e conferencista, presidiu a CRB-RJ de 1980 a 1986, foi redator da revista “Grande Sinal” por 17 anos e editor da Editora Vozes por 8 anos, além de colaborar em outras editoras, atuar como conselheiro espiritual de casais, terapeuta, escritor e manter um programa de rádio diário no Rio de Janeiro.

Acompanhe a entrevista a Moacir Beggo e veja os telefones e contatos abaixo para se inscrever !

Site Franciscanos – Qual é o objetivo do Curso Teologia e Espiritualidade?

Frei Neylor – É alimentar e fortalecer a fé dos participantes. Não queremos formar teólogos, agentes de Pastoral ou gente mais sabida. Pretendemos apenas aumentar os conhecimentos teológicos dos ouvintes para que vivam encantados pela fé que professam. Visamos também intensificar a alma dos cursistas, incendiando-a com o fogo da Sarça Ardente, tornando-os mais piedosos e mais orantes. Por isso, o Curso não é só de Teologia, é também de Espiritualidade. Queremos fazê-los compreender melhor a história da Igreja para que possam amá-la mais, apesar de suas fraquezas. Nossa sublime pretensão é ajudá-los no desafio de uma maior densidade humana, compartilhada nos grupos das paróquias em que vivem.

O Curso não prevê provas ou trabalhos “acadêmicos” de casa. Como o Curso não visa nem pode conferir diploma acadêmico reconhecido e válido, não oferecemos apostilas (grossas) para serem estudadas. De aula em aula, apenas oferecemos uma folha com apontamentos e favorecemos a compra de livros sobre o assunto em tela. Desejamos, como dizia São Paulo, “confirmar os irmãos na fé”. Começamos sempre com a oração dos teólogos franciscanos, do século XIII:

“Ó SENHOR JESUS, indigno servo teu, não merecedor de teus bens, ouso aproximar-me para contemplar teus tesouros. Digna-te introduzir-me neles e concede-me a graça de conhecer e amar tua palavra. Concede-me, no entanto, amá-la na medida de meus conhecimentos e não me seja dado conhecer mais do que amar, pois só quero conhecer-te para amar-te. Amém”.

Site Franciscanos – Há quantos anos o Sr. mantém este Curso?

Frei Neylor – Há 20 anos! O berço do Curso foi o Convento de Santo Antônio, no Largo da Carioca. Tudo começou em agosto de 1998, com 180 inscrições. O Curso nasceu a pedido dos fiéis do Convento e com as bênçãos da Fraternidade local. O Curso queria aprofundar a fé dos participantes e pretendia ser uma extensão da evangelização do Convento. Os Fundadores e primeiros módulos e Professores foram: Moral Fundamental (Frei Gamaliel Divigili); Eclesiologia (Frei Fernando Araújo); Bíblia (Frei Evaristo Spengler) e Espiritualidade (Frei Neylor J. Tonin). O Curso sempre gozou do apoio dos Professores do ITF (Instituto Teológico Franciscano, de Petrópolis).

Em 1999, o Curso migrou para a Matriz Nossa Senhora da Glória (Largo do Machado, Laranjeiras) por razões de espaço. Inscreveram-se no Convento 150 alunos e só tínhamos espaço para 120. Em 2002, foi aberta uma Filial em Copacabana, com 400 inscritos. Em 2005, outra Filial foi aberta em Niterói para 440 participantes. Em 2006, o Curso começou a ser oferecido na Tijuca com 180 inscritos. Já passaram pelo Curso mais de 15 mil alunos.

Site Franciscanos – A qual público se destina o Curso?

Frei Neylor – Ele é aberto a todos, indistintamente. Não se exige grau acadêmico dos participantes, apenas fé e desejo de querer aprender mais. Por isso, eles não são alunos, mas participantes. Como afirmou um deles: “Quem participa deste Curso não abandona a Igreja Católica”. Outro afirmou: “É disso que as igrejas do Rio estão precisando”. E um terceiro confessou: “Enquanto viver, nunca abandonarei o Curso. Ele alimenta minha fé e me espiritualiza”.

Como Diretor atual, afirmo e confirmo: “Não queremos competir com as paróquias. Desejamos apenas ser um complemento ilustrado em sua evangelização. Talvez se possa dizer que, enquanto as paróquias cuidam do caminho, o Curso cuida do espírito de quem caminha. Acreditamos que sermão (de dez minutos) é bom, mas pode ser pouco para alimentar a fé de quem está a caminho.

Site Franciscanos – Qual a principal temática deste semestre?

Frei Neylor – Será o Papa Francisco e sua teologia e pastoral. O Papa está sendo contestado por conservadores radicais, quando não fanáticos. O Papa deseja uma Igreja “de saída”. Seu amor pelos outros é o seu admirável evangelho. São dele os seguintes pensamentos que aparecem em seu primeiro escrito (“A Alegria do Evangelho”) endereçado a todos, Bispos, Padres, Religiosos e Fieis dentro da Igreja

“A Alegria do Evangelho enche o coração e a vida inteira daqueles que se encontram com Jesus. Quantos se deixam salvar por Ele são libertados do pecado, da tristeza, do vazio interior, do isolamento. Com Jesus Cristo, renasce sem cessar a alegria”. (n. 1)

“O grande risco do mundo atual, com sua múltipla e avassaladora oferta de consumo, é uma tristeza individualista que brota do coração comodista e mesquinho, da busca desordenada de prazeres superficiais, da consciência isolada. Quando a vida interior se fecha nos próprios interesses, deixa de haver espaço para os outros, já não entram os pobres, já não se ouve a voz de Deus, já não se goza da doce alegria do seu amor, nem fervilha o entusiasmo de fazer o bem”. (n. 2)

“Prefiro uma Igreja acidentada, ferida e enlameada por ter saído pelas estradas, a uma Igreja enferma pelo fechamento e a comodidade de se agarrar às próprias seguranças. Não quero uma Igreja preocupada com ser o centro, e que acaba presa em um emaranhado de obsessões e procedimentos”. (n. 49)

“Mais do que o temor de falhar, espero que nos mova o medo de nos encerrarmos nas estruturas que nos dão uma falsa proteção, nas normas que nos transformam em juízes implacáveis”. (n. 49)

Site Franciscanos – Como o sr. vê o Pontificado do Papa Francisco?

Frei Neylor – Com grande encantamento. Ele já é e passará para a História como um grande e admirável Papa. Nós, que vivemos e conhecemos outros Papas, não deixamos de nos surpreender, a cada dia, com o atual, Jorge Mario Bergoglio, o Papa Francisco. Ele nos saiu melhor do que a encomenda. O melhor elogio que poderia lhe fazer é que ele é o Papa que São Francisco de Assis teria gostado de ter em sua Igreja na Idade Média.

A cada dia, reza a missa “para os outros”. Não tem uma capela privativa. Come com outras pessoas num refeitório comunitário. Dorme numa casa em que muitos outros dormem. Sua simpatia é irradiante, é, no melhor estilo, italiana. Abraça as pessoas, não foge da dor dos que se aproximam. Pede desculpas quando não pode dar tempo aos outros, porque seus compromissos o requisitam para outros afazeres. É lúcido quando afirma que não adianta ter sido batizado na Igreja, ter feito a Primeira Comunhão e casado catolicamente, se a pessoa não segue apaixonadamente Jesus Cristo. Pede aos casais que não se esqueçam, para serem felizes, de três palavrinhas: Por favor, obrigado e desculpas.

Coloca a Igreja no pelourinho, fazendo distribuir, ao mundo, uma série de perguntas que abordam questões sensíveis e mordentes. Deseja saber o que o Povo de Deus pensa sobre tais questões, e não apenas a opinião de uma elite religiosa e de barrete colorido na cabeça. E insiste em assuntos que tem alma e coração, que criam sofrimento e perplexidades, e não apenas a dependência de secos princípios teológicos e pastorais.

Misericórdia, Serviço, Abertura, eis alguns tópicos e marcas que deseja que sua e nossa Igreja apresentem. Na Cátedra de São Pedro, não está sentado um Príncipe ou um Professor, mas um Bom Pastor, que andava pelas ruas e becos de Buenos Aires, e agora lava os pés de marginais nas prisões de Roma e reúne, sem esforço, mais de 100 mil pessoas a cada quarta feira na Praça de São Pedro.

Este é o nosso Papa, assim é o Papa Francisco, italiano por sobrenome, franciscano por espírito e jesuíta por vocação. É uma bênção para a Igreja e um líder espiritual para o mundo. Combate a fome, como escândalo mundial inaceitável, e apresenta Jesus, como única esperança definitiva. Gosta dos jovens, sem desprezar os vovôs e idosos. Pede diálogo e complementação entre as idades.

Se pudéssemos classificá-lo com uma só palavra, diríamos que é humano, muito humano. Com alegria, e sem solenidade, o deixaríamos entrar em nossa casa e lhe serviríamos a mesma comida que comemos. Que Deus o abençoe e o conserve por muitos anos! E que ele continue a nos surpreender, pois uma das características do verdadeiro amor é ser, quando menos se espera, surpreendente.

Além de ser um Papa pouco papável, confessamos: Nós, brasileiros, não desconfiávamos que um argentino pudesse ser tão simpático. Os nossos estereótipos dos “hermanos” não eram muito lisonjeiros. Mas o Papa Francisco nos surpreendeu a todos. Mesmo enfrentado situações estranhas (como ao receber um Cristo crucificado numa foice e num martelo, na Bolívia), não perde o sorriso. No meio de multidões, deixa-se tocar sem perder a simpatia e a majestade. Sorri com seus olhinhos espertos e compreensivos. A sua simpatia corre o mundo. É campeão no twitter com 10 milhões de acessos, mais do que qualquer pop-star. Recebe por dia 2 mil cartas. Não ataca os inimigos, não se irrita com quem pensa diferentemente, mas recebe a todos com alma e coração. É um grande homem de Paz.

De forma bonita, o jornalista espanhol e correspondente do jornal El Pais no Brasil afirmou que “o Papa está vivendo como nos tempos de Cristo”. “Conheci, disse ele, sete Papas, mas nenhum como este”. Por isso o classificou como um ciclone de simpatia. Este é o nosso Papa, um Papa que tem a alma italiana de um Bergoglio e o espírito jesuítico empinado de um argentino. Que Deus o conserve por muitos anos para o bem da Igreja e para o bem do mundo. Ele não é um imperador, mas se apresenta como um simples padre e um bom pastor. Ele é um vulcão de simpatia. Por isso me encanta e o admiro.