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Papa fala ao Corpo Diplomático e retoma Missa em Santa Marta

07/01/2019

Papa Francisco

Cidade do Vaticano – Nesta segunda-feira, 7/01, o Papa Francisco retomou as celebrações na Capela Santa Marta. O Pontífice teve também uma Audiência com os membros do Corpo Diplomático acreditado junto à Santa Sé. Participaram da Audiência os representantes dos 183 Estados com os quais o Vaticano mantém relações, além da União Européia e da Soberana Militar Ordem de Malta. Em seu discurso, o Papa abordou diversos temas relevantes para os países, frisando a importância da acolhida aos refugiados, o cuidado com os mais pobres e marginalizados, as crianças e os jovens e condenou o nacionalismo, soluções unilaterais, o uso de armas e a xenofobia.

“A obediência à missão espiritual, que nasce do imperativo dado pelo Senhor Jesus ao apóstolo Pedro “apascenta as minhas ovelhas” (Jo 21, 15), impele o Papa – e consequentemente a Santa Sé – a preocupar-se com toda a família humana e suas necessidades, inclusive no aspecto material e social. Entretanto, a Santa Sé não busca interferir na vida dos Estados, mas busca ser um observador atento e sensível aos problemas humanidade, com o propósito sincero e humilde de colocar-se a serviço do bem de todo o ser humano”, assegurou o Pontífice, afirmando que a Igreja é impulsionada a trabalhar na edificação de sociedades pacíficas e reconciliadas. O Santo Padre recordou os países visitados em 2018 e lembrou, de modo especial, a Nicarágua, país centro-americano que vive um período de conflito. “Com o desejo de que as distintas instâncias políticas e sociais encontrem no diálogo o caminho principal para empenharem-se pelo bem de toda nação”, acrescentou o Papa.

Ele recordou ainda o acordo firmado no ano passado entre a China e a Santa Sé. “Agradeço ao Senhor porque, pela primeira vez depois de tantos anos, todos os bispos da China estão em plena comunhão com o sucessor de Pedro e com a Igreja Universal”, recordou, afirmando que um sinal visível do acordo foi a participação dos bispos da China no Sínodo dos Bispos, realizado no mês de outubro.

Buscar decisões multilaterais, evitar as novas formas de colonização ideológica

Em sua fala, o Papa salientou que a diplomacia multilateral depende de diversos fatores, como boa vontade dos interlocutores. “A premissa indispensável para o bom êxito da diplomacia multilateral é a boa vontade e a boa fé dos interlocutores, a disponibilidade a uma discussão leal e sincera, a vontade de aceitar as inevitáveis concessões que nascem do diálogo entre as partes. Onde faltam estes elementos, prevalece a busca de soluções unilaterais e, em definitivo, o domínio do mais forte sobre o mais fraco”, acrescentou. Francisco afirmou que a comunidade internacional enfrenta momentos de dificuldade, com o “ressurgimento de tendências nacionalistas, que minam a vocação das organizações internacionais, de serem um espaço de diálogo e encontro para todos os países”, ponderou. “Em parte, é o resultado da evolução das políticas nacionais, condicionadas cada vez com maior frequência pela busca de um consenso imediato e sectário, em vez de buscar pacientemente o bem comum com r respostas a longo prazo”, afirmou o Papa. Ele alertou para o crescimento de poderes e grupos que impõem sua própria visão e ideias, desencadeando novas formas de colonização ideológica, que não respeitam a identidade, dignidade e sensibilidade dos povos. “É necessário ter atenção à dimensão global sem perder de vista o que é local”, afirmou o Papa.

Em seguida, o Papa recordou o discurso de São Paulo VI à Assembleia da Organização das Nações Unidas (ONU), em 4 de outubro de 1965, salientando os seguintes aspectos:

  • Primado da justiça e do direito

“É oportuno que os políticos escutem a voz de seus povos e busquem soluções concretas para favorecer o bem maior. Isso exige, em dúvida, o respeito aos direito e à justiça, tanto dentro da comunidade nacional como internacional, porque soluções relativas, emotivas e apressadas podem conseguir um consenso efêmero, mas nunca contribuirão para a solução de problemas mais profundos, ao contrário, só aumentarão”, ponderou o Pontífice.

Para o Papa, um aspecto essencial da boa política é buscar o bem comum de todos e promover uma condição social que permita a cada pessoa e a cada comunidade alcançar seu bem-estar material e espiritual. O respeito à dignidade de cada ser humano é a premissa indispensável para uma convivência realmente pacífica e o direito constitui o instrumento essencial para a realização da justiça social e para alimentar os vínculos fraternos entre os povos, acrescentou.

  • Defesa dos mais frágeis

O Pontífice recordou diversos projetos apoiados pela Santa Sé na defesa dos mais necessitados, como a ajuda humanitária na Ucrânia, país que vive há 5 anos um conflito, sobretudo nas regiões orientais e com episódios recentes preocupantes no Mar Negro. “Com sua ação e sua proximidade com a população, a Igreja busca fomentar, direta e indiretamente, a abertura de caminhos pacíficos para a solução do conflito, caminhos que respeitem a justiça e a legalidade, inclusive a internacional, que é a base da segurança e convivência de toda região”. O Papa recordou também as vítimas da guerra na Síria, agradecendo de modo especial o Líbano e a Jordânia, na acolhida aos refugiados e também aos países europeus abertos a acolher estas pessoas. O Papa pediu pelo fim das violações aos direitos humanos, “que causam sofrimentos inenarráveis a população civil, especialmente mulheres e crianças, e afetam estruturas essenciais como hospitais, escolas e campos de refugiados”, explicou.

O Papa afirmou que não se deve criar inimizades entre muçulmanos e cristãos. E afirmou que em breve viajará para dois países de maioria muçulmana, Marrocos e Emirados Árabes. “Serão duas ocasiões importantes para aumentar ainda mais o diálogo inter-religioso e o entendimento mútuo entre os fiéis de ambas religiões”, assegurou o Papa. Na ocasião, será celebrado os 800 anos do encontro entre São Francisco de Assis e o sultão al-Malik al-Kāmil.

O Papa afirmou ainda que os migrantes e os refugiados estão entre os mais frágeis de nosso tempo e pediu que os governantes ajudem na acolhida destas pessoas. “Todo ser humano deseja uma vida melhor e mais feliz, e não se pode resolver o desafio da migração com a lógica da violência e do descarte, nem com soluções parciais. As emergências recentes demonstram que é necessário uma resposta comum, coordenada por todos os países, sem prevenções, respeitando todas as instâncias legítimas, tanto dos Estados como dos migrantes e refugiados”, salientou.

Os jovens e as crianças também foram lembradas no discurso no Pontífice. Ele recordou o Sínodo dos Bispos, dedicado aos jovens e a Jornada Mundial da Juventude, que acontecerá no mês de janeiro no Panamá. De modo especial, ele recordou o 30º aniversário da Convenção sobre os Direitos da Criança. O Pontífice abordou também a questão do abuso de menores. “Nesta circunstância, não posso me calar ante uma das pagas de nosso tempo, que por desgraça implica também vários membros do clero. O abuso contra os menores de idade é um dos piores crimes e mais vis. A Santa Sé e toda a Igreja estão se esforçando por combater e prevenir tais delitos e o seu encobrimento, para averiguar a a verdade dos fatos em que estão envolvidos clérigos e fazer justiça aos menores que sofreram violências sexuais, agravadas por abusos de poder e de consciência”, reiterou o Pontífice, recordando o encontro em fevereiro próximo com os Episcopados de todo o mundo.

O Pontífice também recordou o abuso contra as mulheres em seu discurso. “Diante do flagelo do abuso físico e psicológico causado às mulheres, é urgente voltar a encontrar formas de relações justas e equilibradas, baseadas no respeito e no reconhecimento mútuos, em que cada um possa expressar sua identidade de maneira autêntica”, pediu.

O desemprego e a escravidão também foram lembradas pelo Papa Francisco em seu discurso:  “O trabalho, se não se protege adequadamente, deixa de ser o meio pelo qual o homem se realiza e se converte em uma forma moderna de escravidão”, reiterou. O Papa falou também do combate ao trabalho infantil, da diminuição progressiva do valor do salário e da discriminação das mulheres no âmbito do trabalho.

  • Ser ponte entre os povos e construtores da paz

Em sua fala, o Papa Francisco ponderou diversas iniciativas realizadas em favor da paz, como a assinatura do acordo entre a Etiópia e a Eritreia, que visa o fim do conflito entre os dois países; o acordo entre os líderes do Sudão do Sul; da República Democrática do Congo e a Coréia do Norte e Coréia do Sul.

O Papa manifestou seu desejo de ver solucionada a crise política na Venezuela, para “oferecer a todo povo venezuelano um horizonte de esperança e paz”, e a retomada do diálogo entre israelenses e palestinos, “para que finalmente se chegue a um acordo que responda às aspirações legítimas de ambos povos, assegurando a convivência entre os dois estados e o alcance de uma paz tão esperada e desejada”, afirmou.

Repensando nosso destino comum

O quarto aspecto da diplomacia multilateral, recordou o Papa, é repensar um destino comum. Neste sentido, o Papa destacou o perigo do uso de armas e a necessidade do cuidado com o meio ambiente.

“Causa preocupação, especialmente que o desarme nuclear, tão desejado e perseguido nas décadas passadas, esteja agora dando lugar a armas novas, cada vez mais sofisticadas e destrutivas”, lamentou o Papa. “As relações internacionais não podem ser dominadas pelas forças militares, por intimidações recíprocas, pela ostentação de arsenais bélicos. As armas de destruição massiva, em particular as atômicas, não geram outra coisa que um enganoso sentido de segurança e não poder constituir a base da pacífica convivência entre os membros da família humana, que deve sem dúvida, inspirar-se por uma ética de solidariedade”, afirmou.

Em seguida, o Papa garantiu que repensar o destino comum significa também repensar a relação do homem com o planeta. O Pontífice reafirmou a importância da Conferência Internacional sobre o Clima (COP 24), realizada em Katowice. “Espero um compromisso mais decisivo dos Estados, que fortaleça a colaboração para fazer frente à urgência do fenômeno preocupante do aquecimento global. O Papa recordou ainda o Sínodo da Amazônia, que será celebrado em outubro de 2019. “Ainda que se ocupe principalmente dos caminhos da evangelização para o povo de Deus, não deixará de abordar os problemas ambientais e sua estreita relação com as consequências sociais”, assegurou.

Confira na íntegra

Papa em Santa Marta: a concretude é o critério do cristianismo

Nesta segunda-feira, o Papa Francisco retomou as celebrações na Casa Santa Marta. Francisco inspirou-se na Primeira Carta de São João Apóstolo: tudo o que pedimos, recebemos de Deus, sob condição – explica o Pontífice – que observemos seus mandamentos e façamos o que é de seu agrado. Os mandamentos de Deus são “concretude”: este portanto, é  o “critério” do cristianismo, não as “belas palavras”.

O acesso a Deus é “aberto”, afirma o Papa, e a “chave” é precisamente aquela sugerida pelo apóstolo: acreditar “em nome de seu filho Jesus Cristo” e nos amar “uns aos outros”: somente assim podemos pedir “o que queremos”, com “coragem”, “descaradamente”.

O apóstolo João, um “apaixonado da encarnação de Deus”, enfatiza o Papa, exorta então a “examinar” os espíritos, isto é, explica que quando vem “uma ideia sobre Jesus, sobre as pessoas, sobre fazer alguma coisa, sobre pensar que a redenção segue por esse caminho”, esta inspiração deve ser examinada. A vida do cristão é, em última análise, concretude na fé em Jesus Cristo e na caridade, mas também é “vigilância espiritual”, acrescenta ele: “A vida do cristão é concretude na fé em Jesus Cristo e na caridade, mas também é luta, porque sempre se apresentam ideias ou falsos profetas que oferecem a você um Cristo “soft”, sem tanta carne e o amor ao próximo é um pouco relativo… “Sim, estes sim que estão do meu lado, mas aqueles, não …”.

Os falsos profetas

A exortação do Pontífice é, portanto, acreditar em Cristo que “veio na carne”, e acreditar no “amor concreto” e a discernir, segundo a grande verdade da “encarnação do Verbo” e do “amor concreto”, para compreender se os “espíritos” – “isto é, a inspiração” –  vêm “verdadeiramente de Deus”, porque “muitos falsos profetas vieram ao mundo”: o diabo – reitera o Papa –  sempre tenta “nos afastar de Jesus, do permanecer em Jesus”,  por isso, é necessária “a vigilância espiritual”.

Para além dos pecados cometidos, reflete Francisco, o cristão “no final do dia deve tomar dois, três, cinco minutos” para se perguntar o que aconteceu em seu “coração”, que inspiração ou quem sabe até mesmo que “loucura do Senhor” lhe surgiu: porque “o Espírito às vezes nos impele para a loucura, mas para as grandes loucuras de Deus”

A disciplina da Igreja

Por outro lado, reflete Francisco, mesmo no tempo de Jesus “havia pessoas com boa vontade”, mas que pensavam que o caminho de Deus era “outro”: o Papa cita os fariseus, os saduceus, os essênios, os zelotes, “todos tinham a lei em mãos”, mas nem sempre seguiam pelo melhor caminho.  O chamado, portanto, é  para a “mansidão da obediência”.

Para isto – acrescenta o Papa – “o povo de Deus vai em frente na concretude”, aquela da caridade, da fé, da Igreja: e este “é o sentido da disciplina da Igreja”. Quando a disciplina da Igreja está em tal concretude “ajuda a crescer”, assim evitando “filosofias dos fariseus e dos saduceus”.

É Deus, conclui Francisco, que tornou-se  “concreto, nascido de uma mulher concreta, viveu uma vida concreta, morreu de morte concreta e nos pede para amar os irmãos e as irmãs concretos”, ainda que “alguns não sejam fáceis de amar “.