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Papa aos jovens do Bahrein: semeiem a fraternidade e recolherão futuro

06/11/2022

Papa Francisco

   Imagem: Vatican Media

Na tarde deste sábado (05/11), o Papa Francisco visitou a Escola do Sagrado Coração na cidade de Awali para um encontro com cerca de 800 jovens. No seu discurso Francisco disse que estava contente por ter visto o Reino do Bahrein, como um país de encontro e diálogo entre diferentes culturas e credos”. Em seguida dirigindo-se aos jovens presentes disse: “E agora tendo-vos diante dos olhos – vós, que não sois da mesma religião e não tendes medo de estar juntos –, penso que uma tal convivência das diferenças não seria possível sem vós; nem teria futuro!”. Ainda elogiando os jovens disse: “Como se fôsseis inquietos viajantes abertos ao inédito, vós, jovens, não temeis confrontar-vos, dialogar, ‘fazer barulho’ e misturar-vos com os outros, tornando-vos a base duma sociedade amiga e solidária”

“Isto é fundamental nos contextos complexos e plurais em que vivemos: derrubar determinadas barreiras a fim de se inaugurar um mundo que seja mais à medida do homem, mais fraterno, ainda que isso signifique enfrentar numerosos desafios”. A partir dos testemunhos dos jovens que ocorreram antes de seu discurso Francisco disse que faria três convites: “não tanto para vos ensinar, mas sobretudo para vos encorajar”.

Três convites – a cultura do cuidado
O primeiro convite que o Papa fez aos jovens foi o de abraçar a cultura do cuidado. “Cuidar”, disse, “significa desenvolver uma atitude interior de empatia, um olhar atento que nos leva para fora de nós mesmos, uma presença gentil que vence a indiferença e nos impele a interessar-nos pelos outros”.

“Este é o ponto de virada, o início da novidade, o antídoto contra um mundo fechado que, impregnado de individualismo, devora os seus filhos; contra um mundo enclausurado pela tristeza, que gera indiferença e solidão”.

Disse ainda que como cristão, “penso em Jesus e vejo que a sua ação sempre esteve animada pelo cuidado. Cuidou as relações com quantos encontrava nas casas, nas cidades e pelo caminho: fixou as pessoas nos olhos, prestou atenção aos seus pedidos de ajuda, aproximou-se e tocou com a mão as suas feridas”. Reiterando mais uma vez a todos: “Amigos, como é bom tornar-se cultores do cuidado, artistas das relações!”. Advertindo que isso, como tudo na vida, “requer um treino constante”. “Então”, continuou, “não vos esqueçais de cuidar primariamente de vós mesmos: não tanto do exterior, como sobretudo do interior, da vossa parte mais escondida e preciosa. Qual é?” perguntou: “A vossa alma, o vosso coração! Tentai escutá-lo em silêncio, criar espaços para estar em contacto com a vossa interioridade, para sentir o dom que sois, para acolher a vossa existência e não a deixar fugir de mão”

Ponderando em seguida para que não se tornem “turistas da vida” o Papa aconselha: “Falai com Deus. Falai-Lhe de vós mesmos e também daqueles que encontrais diariamente e que Ele vos dá como companheiros de viagem”. “Amigos, por favor, nunca vos esqueçais duma coisa: sois todos – sem exceção – um tesouro, um tesouro único e precioso. Por isso, não mantenhais a vida num cofre, pensando que é melhor poupar-se e que o momento de a gastar ainda não chegou!”. “Muitos de vós estão aqui de passagem, por motivos de trabalho e, frequentemente, por um prazo limitado. Mas, se vivermos com a mentalidade do turista, não agarramos o momento presente e corremos o risco de deixar de lado partes inteiras de vida”.

“Como é bom deixar um bom rasto no caminho, cuidando da comunidade, dos companheiros de escola, dos colegas de trabalho, da criação…”

Semente da fraternidade
Francisco continuou suas palavras afirmando que se abraçarmos a cultura do cuidado contribuímos para fazer crescer a semente da fraternidade. E aqui está o segundo convite que vos quero dirigir: semear fraternidade.

“Sede campeões de fraternidade. Este é o desafio de hoje para vencer amanhã, o desafio das nossas sociedades cada vez mais globalizadas e multiculturais”.

Depois de advertir que se não trabalha com o coração, pode-se ampliar “as distâncias em relação aos outros e, assim, as diferenças étnicas, culturais, religiosas e outras tornam-se problemas e temores que isolam, em vez de ser oportunidades para crescer juntos. E, quando se mostram mais fortes do que a fraternidade que nos une, corre-se o risco do conflito”. “A vós, jovens, que sois mais diretos e mais capazes de gerar contactos e amizades, superando os preconceitos e as barreiras ideológicas, quero dizer: sede semeadores de fraternidade e recolhereis futuro, porque o mundo só terá futuro na fraternidade! É um convite que encontro no coração da minha fé”.

Desafio de fazer opões na vida
Ao fazer o terceiro convite, relacionado com o desafio de fazer opções na vida, Francisco disse: “Como bem sabeis pela experiência de cada dia, não existe uma vida sem desafios a enfrentar. E perante um desafio, como numa encruzilhada, sempre é preciso escolher, entrar no jogo, arriscar, decidir. Mas isto requer uma boa estratégia: não se pode improvisar, vivendo só por instinto ou circunscrito a cada instante!”. E como fazer? “Trata-se de crescer na arte de se orientar nas escolhas, de tomar as justas direções”, acrescentou. Concluindo este ponto disse: “O meu conselho é este: avançar sem medo, e nunca sozinhos! Deus não vos deixa sozinhos, mas, para vos dar uma mão, espera que Lha peçais. Acompanha-nos e guia-nos, não com prodígios e milagres, mas falando delicadamente através dos nossos pensamentos e sentimentos”

Mas para que isso aconteça “é preciso aprender a distinguir a Sua voz. Como? Através da oração silenciosa, do diálogo íntimo com Ele, guardando no coração aquilo que nos faz bem e dá paz. Por fim o Papa concluiu seu encontro com os jovens afirmando: “Amigos, esta aventura das opções, não a devemos realizar sozinhos. Por isso deixai que vos diga uma última coisa: procurai sempre – antes das sugestões da Internet – bons conselheiros na vida, pessoas sábias e fiáveis que vos possam orientar, ajudar. Penso nos pais e professores, mas também nos idosos, nos avós e num bom acompanhante espiritual. Cada um de nós precisa de ser acompanhado no caminho da vida!”.

E exortando: “Queridos jovens, precisamos de vós, da vossa criatividade, dos vossos sonhos e da vossa coragem, da vossa simpatia e dos vossos sorrisos, da vossa alegria contagiante e também daquele mínimo de turbulência que sabeis trazer a cada situação e que ajuda a sair do torpor de hábitos e esquemas repetitivos em que às vezes encaixilhamos a vida. Como Papa, quero dizer-vos: a Igreja está convosco e tem tanta necessidade de vós, de cada um de vós, para rejuvenescer, explorar novas sendas, experimentar novas linguagens, tornar-se mais jubilosa e hospitaleira.

ENCONTRO COM BISPOS E RELIGIOSOS

No seu último dia de viagem, (06/11) o Papa Francisco iniciou a sua jornada com um encontro com os bispos, sacerdotes, consagrados, seminaristas e agentes pastorais na igreja do Sagrado Coração em Manama, a capital do Bahrein. O Papa iniciou o encontro manifestando sua satisfação por se encontrar “nesta comunidade cristã que manifesta claramente o seu rosto ‘católico’, isto é, universal: uma Igreja habitada por pessoas provenientes de muitas partes do mundo, que se reúnem para confessar a única fé em Cristo”. E continuou afirmando que “é bom pertencer a uma Igreja formada por histórias e rostos diferentes, que encontram harmonia no único rosto de Jesus. E tal variedade – vi-o nos últimos dias – é o espelho deste país, das pessoas que o povoam mas também da paisagem que o carateriza e que, embora dominada pelo deserto, goza duma rica e variegada presença de plantas e seres vivos”.

Água viva

Ao falar sobre as Leituras disse que as palavras de Jesus, falam da água viva que jorra de Cristo e dos crentes (cf. Jo 7, 37-39). Francisco disse que isso o fez lembrar desta terra, o Bahrein. “É verdade”, disse, “que há muito deserto, mas existem também fontes de água doce que correm silenciosamente no subsolo, irrigando-o. É uma boa imagem do que vós sois e sobretudo daquilo que a fé realiza na vida: à superfície emerge a nossa humanidade, ressequida por tantas fragilidades, medos, desafios” que deve enfrentar, males pessoais e sociais de vário gênero; “mas no mais fundo da alma”, afirmou, “no íntimo do coração, corre calma e silenciosa a água doce do Espírito, que irriga os nossos desertos, restitui vigor ao que corre o risco de secar, lava aquilo que nos embrutece, sacia a nossa sede de felicidade. E não cessa de renovar a vida”.

“É desta água viva que fala Jesus; esta é a fonte de vida nova que Ele nos promete: o dom do Espírito Santo, a presença terna, amorosa e regeneradora de Deus em nós”

E disse a todos para recordarem sempre que “a Igreja nasce do lado aberto de Cristo, de um banho de regeneração no Espírito Santo. Não somos cristãos por mérito nosso ou apenas porque aderimos a um credo, mas porque, no Batismo, nos foi dada a água viva do Espírito, que nos torna filhos amados de Deus e irmãos uns dos outros, fazendo-nos novas criaturas”. Em seguida Francisco disse que iria se deter brevemente sobre três grandes dons que o Espírito Santo nos entrega, pedindo para os acolhermos e vivermos: a alegria, a unidade, a profecia.

Espírito Santo fonte de alegria

“Antes de mais nada”, disse, “o Espírito é fonte de alegria. A água doce que o Senhor quer fazer correr nos desertos da nossa humanidade, feita de terra e fragilidade, é a certeza de nunca estarmos sozinhos no caminho da vida”. Completando que “a alegria do Espírito não é um estado ocasional nem uma emoção do momento; e muito menos aquela espécie de ‘alegria consumista e individualista tão presente nalgumas experiências culturais de hoje’”. Pelo contrário, disse, “é a alegria que nasce da relação com Deus, de saber que, mesmo nas dificuldades e noites obscuras que por vezes atravessamos, não estamos sozinhos, perdidos ou derrotados, porque Ele está conosco. E, com Ele, podemos enfrentar e superar tudo, até os abismos do sofrimento e da morte”.

“A vós, que descobristes esta alegria e a viveis em comunidade, gostaria de dizer: conservai-a; mais ainda, multiplicai-a”

Concluindo este ponto acrescentou ainda que “é importante fazer circular a alegria do Evangelho não só na Liturgia, em particular na celebração da Missa, fonte e ápice da vida cristã, mas também numa ação pastoral vivaz, especialmente a favor dos jovens, das famílias e das vocações para a vida sacerdotal e religiosa. A alegria cristã não a podemos guardar para nós mesmos e, quando a colocamos em circulação, multiplica-se”, animou o Papa.

Espírito Santo fonte de unidade

Ao falar sobre o segundo dom que o Espírito Santo nos entrega, que é a fonte de unidade, o Papa disse que “todos aqueles que O acolhem, recebem o amor do Pai e tornam-se seus filhos. “O seu fogo”, explicou, “queima os desejos mundanos e incendeia a nossa vida com aquele amor acolhedor e compassivo com que Jesus nos ama, para podermos, por nossa vez, amar-nos assim entre nós”.

“Por isso, quando o Espírito do Ressuscitado desce sobre os discípulos, torna-se fonte de unidade e fraternidade contra todo o egoísmo”

Aprofundando este tema Francisco acrescentou ainda que assim, o Espírito Santo molda a Igreja desde as suas origens. “A partir de Pentecostes, as diferentes proveniências, sensibilidades e perspetivas são harmonizadas na comunhão, forjadas numa unidade que não é uniformidade. Se recebemos o Espírito, a nossa vocação eclesial é, antes de mais nada, a de guardar a unidade e promover o todo”. Recordando o testemunho de um jovem que disse ter ficado fascinado pela Igreja Católica por causa da ‘a devoção comum de todos os fiéis’, independentemente da cor da pele, da proveniência geográfica, da língua, o Papa destacou que “esta é a força da comunidade cristã, o primeiro testemunho que podemos dar ao mundo”.

“Procuremos ser guardiões e construtores de unidade! Para ser credíveis no diálogo com os outros, vivamos a fraternidade e a comunhão entre nós”

Dirigindo ainda aos presentes disse: “Sei que já dais um bom exemplo neste caminho, mas a fraternidade e a comunhão são dons que não nos devemos cansar de pedir ao Espírito, para repelir as tentações do inimigo que não cessa de semear cizânia”.

Espírito fonte de profecia

Por fim o Papa falou sobre o Espírito como fonte de profecia. “Como sabemos, a história da salvação está constelada por numerosos profetas que Deus chama, consagra e envia ao meio do povo para falar em nome d’Ele. Os profetas recebem do Espírito Santo a luz interior que os torna intérpretes atentos da realidade, capazes de captar, nas tramas por vezes obscuras da história, a presença de Deus e de a indicar ao povo”. E Francisco esclareceu a todos que “também nós temos esta vocação profética”.

“Todos os batizados receberam o Espírito e são profetas. E, como tal, não podemos fingir que não vemos as obras do mal, deixar-nos estar tranquilos na vida para não sujarmos as mãos”

“Pelo contrário, recebemos um Espírito de profecia para trazer à luz o Evangelho com o nosso testemunho de vida”. E concluiu dizendo que a profecia “torna-nos capazes de praticar as Bem-aventuranças evangélicas nas situações quotidianas, isto é, construir com firme mansidão aquele Reino de Deus onde o amor, a justiça e a paz se opõem a toda a forma de egoísmo, violência e degradação”.

Rezar pela Etiópia e Ucrânia

“Queridos irmãos e irmãs, nestes meses estamos rezando muito pela paz. Neste contexto, o acordo assinado e que diz respeito à situação na Etiópia é uma esperança. Encorajo a todos a manter este compromisso com a paz duradoura, para que, com a ajuda de Deus, se continue a trilhar os caminhos do diálogo e o povo possa em breve reencontrar uma vida serena e digna. E também não quero esquecer de rezar e dizer a vocês para rezar pela Ucrânia martirizada, para que essa guerra termine.”

Francisco concluiu seu discurso com agradecimentos por ser a última ocasião nesta viagem apostólica: “Gostaria enfim de vos dizer ‘obrigado’ por estes dias que vivemos juntos. Com ânimo repleto de gratidão, abençoo a todos vós, especialmente a quantos trabalharam para esta viagem. E, uma vez que serão estas as últimas palavras públicas que pronuncio, permiti-me agradecer a Sua Majestade o Rei e às Autoridades deste país a requintada hospitalidade. Encorajo-vos a continuar, com constância e alegria, o vosso caminho espiritual e eclesial”.

RETORNO AO VATICANO

O Papa Francisco deixou o Reino do Bahrein, neste domingo (06/11), concluindo sua 39ª Viagem Apostólica Internacional. O avião papal decolou às 13h16, hora local, 7h16 no horário de Brasília.

A cerimônia de despedida realizou-se na Base Aérea de Sakhir, em Awali, onde o Pontífice foi acolhido pelo rei do Bahrein, Sua Majestade Hamad bin Isa bin Salman Al Khalifa, pelo rei herdeiro e pelo primeiro-ministro, por outros três filhos do rei e por um neto, na Sala Real onde houve um breve encontro. Estava também presente na cerimônia de despedida o Grão Imame de Al-Azhar, Muhammad Ahmad Al-Tayyeb.

A chegada o Papa Francisco ao Aeroporto Internacional de Roma/Fiumicino está prevista para às 16h locais, meio-dia em Brasília.

Foi a 39ª viagem apostólica
Esta foi a 39ª Viagem do Papa Francisco que já visitou 54 países diferentes nestes quase 10 anos de pontificado. Dentro da Itália, o Papa fez 31 visitas pastorais a 41 cidades ou vilarejos. Sua última viagem ao exterior foi ao Cazaquistão de 13 a 15 de setembro deste ano por ocasião do VII Congresso de Líderes das Religiões Mundiais e Tradicionais.


Fonte: Vatican News (texto de Jane Nogara)