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No encerramento, Capítulo celebra Santa Clara

13/11/2012

Notícias

A última celebração Eucarística do Capítulo Provincial, nesta segunda-feira (12/11), no Seminário Santo Antônio de Agudos (SP), celebrou Santa Clara de Assis, como grande eco de todo o Ano Jubilar dos 800 anos de fundação de sua Ordem. “Nossa celebração final desse Capítulo provincial é o Hino de Ação de Graças e retribuição a Deus por tudo aquilo que Ele realizou e realiza em e por meio de nossa Fraternidade. Com Francisco e Clara de Assis, queremos ‘partir novamente do Evangelho’, para a missão que nos é proposta, cientes de que “não podemos perder nosso ponto de partida”, mas precisamos também “avançar com cuidado pelo caminho da bem-aventurança”, disse Frei Luiz Henrique de Aquino, ao fazer o comentário inicial.

Frei Fidêncio Vanboemmel, Ministro Provincial, presidiu a celebração, tendo como concelebrantes Frei Estêvão Ottenbreit, Vigário Provincial, e os Definidores eleitos no domingo passado: Frei Mário Tagliari, Frei Germano Guesser, Frei Evaristo Spengler, Frei Evandro Balestrin, Frei José Francisco de Cássia dos Santos e Frei João Mannes.


Na sua homilia, Frei Fidêncio fez uma saudação particular aos novos Definidores que estarão a serviço da grande Fraternidade Provincial e, com base nos Escritos de Santa Clara, perguntou: o que ela, Clara, tem a dizer a nós, frades capitulares? O que Clara tem a dizer, através de cada um de nós, a todos os nossos irmãos da Província?

Para responder, o Ministro Provincial ofereceu cinco pontos: o dom da vocação; o seguimento ao Cristo Pobre; a essência desse dom, colocando-se diante de Jesus através do alimento da Palavra; o dom de Deus na missão; e um caminhar com passos seguros, que nascem da leveza do espírito da pobreza. 

“Caminhem irmãos, diz Clara, com passos leves. Caminhem irmaos com passos esguios, decisivos, passos seguros, passos firmes. É assim que nós queremos sair deste Capítulo Provincial”, admoestou o Ministro Provincial. E nesse sentido, a Palavra de Deus, da liturgia do dia, segundo Frei Fidêncio, é extremamente iluminadora. “Sim, diz a Palavra de Deus, na Primeira Leitura, carregaramos esse tesouro em vasos de barro. E justamente na nossa fragilidade, na nossa pequenez, na nossa limitação, podemos fazer a grande experiência da graça de Deus. Deus se manifesta na nossa fragilidade”, observou.

E concluiu: “E por fim o Evangelho nos diz que precisamos permanecer Nele, condição para a boa frutificação. Coloque-se diante do espelho todos os dias. É o segredo com que Clara se identificou com o ramo unido na videira. E produziu muitos frutos. Que nós assim também, queridos irmãos, possamos estar muito próximos do Senhor. Na missão possamos produzir bons e santos frutos. E que Santa Clara possa nos fortalecer na nossa vocação e na nossa missão evangelizadora”.

Após a Missa, os frades se reuniram na sala capitular para fazer os últimos encaminhamentos do Capítulo Provincial 2012, que se encerrou às 12 horas, com o Rito da Posse dos novos definidores na Capela do Seminário.


HOMILIA DO MINISTRO PROVINCIAL

Saudação particular aos confrades Definidores que, ontem, foram eleitos para este serviço da nossa grande Fraternidade Provincial.

A equipe que organizou a liturgia do nosso Capítulo Provincial nos apresenta para este último dia, na perspectiva do Ano Clariano, a figura de Santa Clara de Assis.  Por isso, nesta manhã, nos colocamos diante de Santa Clara e perguntamos o que ela tem a dizer a nós, frades capitulares? Que Clara tem a dizer, através de cada um de nós, a todos os nossos irmãos da Província?

O Dom da vocação
Em primeiro lugar, Clara de Assis nos recorda o que ela prescreveu  como princípio às suas coirmãs no início do Testamento: “Entre outros benefícios que temos recebido e ainda recebemos diariamente da generosidade do Pai de toda misericórdia e pelos quais mais temos que agradecer ao glorioso Pai de Cristo, está a nossa vocação que, quanto maior e mais perfeita, mais a ele é devida. Por isso diz o Apóstolo: Reconhece a tua vocação” (TestC 2-4).

Sim, queridos irmãos, Clara nos reconvoca, nesta manhã, para o dom da nossa vocação. Dom que ela entende como dádiva conferida por Deus a cada um de nós. Um dom confiado pelo Pai da misericórdia a cada frade. E, se é um dom confiado por Deus a cada irmão, temos para com ela um compromisso e uma responsabilidade.

Clara, certamente, está diante da parábola dos talentos do Evangelho. O Senhor nos confiou o ‘talento dos talentos’ à nossa vida. E sobre este talento nós temos a responsabilidade de fazê-lo frutificar. Sim, devo prestar contas o que a mim foi confiado!

Se aqui nos encontramos reunidos em Capítulo, sem dúvida alguma, é para rever esta vocação enquanto benefício recebido e nela nos identificar: “reconhece a tua vocação”!

O Filho de Deus, nosso Caminho
Em segundo lugar, Clara de Assis nos diz que na essência da dádiva da nossa vocação está o Cristo pobre. O Cristo pobre se nos apresenta como possibilidade a ser seguido de verdade. “O Filho de Deus fez-se para nós o Caminho, que o nosso bem-aventurado pai Francisco, que o amou e seguiu de verdade, nos mostrou e ensinou por palavra e exemplo” (TestC. 5).

Sim, é o Filho de Deus que se faz para nós o Caminho! Este “Caminho”, segundo Clara, tem um princípio (origem), um meio (centro) e um fim (auge). No princípio está a pobreza, o total despojamento que se inspira no despojamento do Senhor na gruta de Belém: “Preste atenção no princípio do espelho: a pobreza daquele que envolto em panos, foi posto no presépio”! No centro do Caminho está a humildade: “No meio do espelho, considere a humildade…”. A humildade se traduz na minoridade enquanto virtude fundamental da nossa itinerância apostólica na evangelização. E o ponto culminante deste Caminho, queridos irmãos, é a caridade, isto é, a oblação total, generosa e absoluta: “No fim desse mesmo espelho, contemple a caridade inefável com que quis padecer no lenho da cruz e nela morrer a morte mais vergonhosa” (cf. 4Ct 19-23).

Se este Filho de Deus se fez para nós o Caminho, Clara, em terceiro lugar, nos dirá que existe um segredo para alimentar e sustentar este dom do Pai da misericórdia: “Olhe dentro desse espelho todos os dias…, e espelhe nele, sem cessar, o seu rosto” (4ª Ct 15). E ainda, “Ponha a mente no espelho da eternidade, coloque a alma no esplendor da glória… e transforme-se inteiro, pela contemplação, na imagem da divindade” (3ªCt 12-13).

Como podemos dar credibilidade à nossa vocação e missão se nós, diariamente, não nos colocamos diante deste espelho? O que refletimos na nossa missão? Que linguagem nós usamos se no anúncio não refletimos o rosto de um coração transfigurado pela contemplação?

Clara nos diz: coloque-se diante deste Espelho, irmão, olhe e contemple o Evangelho todos os dias para fazer brilhar aquilo que é a essência do próprio Espelho.

Vocação, reflexo do Espelho
Em quarto lugar, Clara de Assis nos entende como irmãos a caminho, irmãos itinerantes em missão. Também nós devemos ser reflexo do Espelho originário, dádiva de Deus na missão: “Com que solicitude, então, com que zelo da mente e do corpo devemos observar o que foi mandado por Deus… para restituir o talento multiplicado…. Portanto, se o Senhor nos chamou a coisas tão elevadas que em nós possam espelhar-se as pessoas que deverão ser exemplo e espelho para os outros” (Cf. TestC. 18-20)

Como podemos ser autênticos evangelizadores, missionários, anunciadores da Palavra, proclamadores da Boa Nova, se de repente este espelho que deveríamos ser é um espelho opaco, sem clareza, sem nitidez e sem identidade?

Passos ligeiros e seguros
Em quinto lugar, Clara nos admoesta que na nossa missão evangelizadora devemos ter uma postura firme, alegre e confiante: “Não perca de vista seu ponto de partida, conserve o que você tem, faça o que está fazendo e não o deixe mas, em rápida corrida, com passo ligeiro e pé seguro, confiante e alegre, avance com cuidado pelo caminho d bem-aventurança” (2Ct 11-13). “Passo ligeiro e pé seguro” é próprio de quem vive e caminha no espírito da altíssima pobreza.

O texto do Sacrum Commercium coloca este dizer na boca de São Francisco, ao exortar seus irmãos à escalada da montanha sobre a qual mora a Senhora Pobreza: “Fortalecei-vos no Senhor, pelo seu soberano poder, pois tudo o que é difícil ser-nos-á fácil. Deponde a carga da vontade própria, atirai para longe o peso dos pecados e preparai-vos como homens fortes” (SCom 13). A carga da vontade própria, i.é, aquilo que não nos permite caminhar com leveza, são as nossas estruturas pessoais às quais nos afixamos e, muitas vezes, tornam pesados os passos da nossa itinerância evangelizadora.

Conclusão
Caminhem irmãos, diz Clara, com passos leves! Caminhem, irmãos, com passos decisivos e seguros! É assim que ela nos quer ver como irmãos ao término deste Capítulo Provincial.
Nesse sentido a Palavra de Deus, hoje, é extremamente iluminadora. São Paulo, na primeira leitura, lembra que “trazemos este tesouro – o dom – em vasos de barro”. E justamente na nossa fragilidade, na nossa pequenez e limitação, é que experimentamos a força da graça de Deus. E quando trazemos a real mortificação de Jesus Cristo no nosso corpo, consequentemente fazemos a experiência pascal. É por isso que não desfalecemos. Mesmo se o nosso pobre corpo se decomponha, o nosso homem interior se renova a cada dia.

E, por fim, o Evangelho nos diz que precisamos permanecer Nele, condição para a boa frutificação. Coloquem-se diante do espelho todos os dias! É este o segredo com que Clara se identificou como ramo producente unido à videira.

Que nós também, queridos irmãos, possamos estar muito próximos ao Senhor para produzirmos bons a santos frutos pela nossa missão. E que Santa Clara possa fortalecer-nos na vocação e na missão evangelizadora. Amém!

Frei Fidêncio Vanboemmel