Notícias - Província Franciscana da Imaculada Conceição do Brasil - OFM

Onde está o teu tesouro, pergunta Frei Mário

08/06/2015

Notícias

Moacir Beggo

Santos (SP) – No oitavo dia da Trezena de Santo Antônio no Convento do Valongo, que neste ano celebra 375 anos, o pregador veio de São Paulo para falar sobre “O Santo dos Pobres”. O Definidor da Província da Imaculada, Frei Mário Tagliari, encantou a todos com suas palavras durante a celebração Eucarística das 19 horas. Um pouco antes, Frei Rozântimo Costa presidiu o momento devocional da Trezena, composto de cantos e orações.

Neste dia, a animação litúrgica esteve a cargo da Paróquia São Benedito, representada nesta celebração pelo diácono Anderson Ribeiro.

O Evangelho das Bem-aventuranças caiu como uma luva para Frei Mário desenvolver o seu tema. “O Sermão das Bem-aventuranças de hoje é muito propício para falarmos do Santo dos Pobres. Jesus está diante de uma multidão de pessoas simples, pessoas que colocavam sua única esperança em Deus. Tinham sede e fome material, mas também tinham sede e fome da justiça de Deus. Eram colocadas de lado no tempo de Jesus, por isso O seguiam e subiram a montanha para ouvi-Lo”, explicou o celebrante, frisando que Santo Antônio não é o Santo dos Pobres porque deu o pão aos pobres. “O Santo dos Pobres se fez pobre, se fez pequeno, se fez humilde, se fez irmão de tudo e de todos, de modo muito especial daqueles que mais sofriam”.

marioSegundo Frei Mário, basta ver que a primeira bem-aventurança já fala dos pobres de espírito. “Se fôssemos  orgulhosos e soberbos, como aqueles que não precisam de Deus,  nem eu nem vocês estariam aqui. Se não tivéssemos o coração humilde, não estaríamos aqui esta noite. A sede de Deus, a vontade de nos encontrarmos com Deus, sermos acolhidos por Ele, essa é a condição para sermos bem-aventurados. Bem-aventurado Antônio! Bem-aventurado cada um de vocês que está aqui”, disse, lembrando que a palavra bem-aventurado causa certa dificuldade de entendimento. “Muitas vezes é traduzida como ‘feliz’, mas aí a gente mistura com outras coisas, como felicidade, ganhar na loteria, casar com um bom partido. E não é isso que o Evangelho quer dizer. Quem sabe a palavra possa ser ‘realizado’, ou seja, realizado é a pessoa que tem Deus no coração, que coloca em Deus a sua vida, que coloca em Deus o seu destino, o seu caminhar, o seu pensar, o seu fazer, os seus gestos, as suas obras. Por isso, Santo Antônio é bem-aventurado!”, enfatizou Frei Mário.

“E ele mesmo diz, nos seus ‘Sermões’, que só podem esperar com segurança o encontro com o Senhor Jesus aqueles que já nesta vida moram no céu. Então, as bem-aventuranças do Evangelho de hoje não são um consolo porque um dia eu vou chegar lá e vou ser ‘realizado’. Não! Sou bem-aventurado agora, pois agora eu tento buscar Deus, viver o céu aqui na terra. Isso é ser bem-aventurado”, explicou.

antonio

E olhando para essa imagem, comentava que esse pobre parece com o Cristo. Não tem as chagas nas mãos, mas o rosto parece de Cristo. Certamente, o escultor que assim o concebeu, com Santo Antônio dando o pão ao pobre, quis dizer exatamente isso para nós. Se conseguirmos ver no pobre o rosto do próprio Cristo, e lhe dermos o pão, quem sabe estejamos no caminho do bem-aventurado Antônio. (Frei Mário)

Segundo Santo Antônio, para viver as bem-aventuranças, “Deus deu a cada um de nós a inteligência, a vontade e o sentimento do coração”. Agindo assim, segundo Frei Mário, estaremos vendo as pessoas como Jesus as via: com o coração. “Com  o coração vê a fragilidade do outro, a necessidade do outro, a insegurança, o sofrimento e também a alegria. No sofrimento tem compaixão. Faz com paixão, faz com caridade. Não dando esmola, mas agindo de corpo e alma diante do outro”, disse.

Segundo Frei Mário, através da obra-prima de Santo Antônio, os “Sermões”, podemos conhecê-lo um pouco mais. “Eles são como que uma janela para a sua alma, para o seu coração. A boca fala do que o coração está cheio, não é verdade? E Santo Antônio tinha uma particular estima pelos sofredores. Os pobres, os infelizes ocupavam um lugar privilegiado na sua pregação”, disse, mostrando o quadro ao lado de Santo Antônio distribuindo pães aos pobres. “Santo Antônio defendia os pobres contra aquilo que os tornava pobres. Por isso, ele adverte com dureza os avarentos, porque a avareza causa exatamente a pobreza. Quando alguns querem demais, outros vão ter de menos. Por isso, ele diz nos ‘Sermões’: ‘Só os pobres serão evangelizados'”, citou.

“Agora, por outro lado, contra os avarentos, ele diz: ‘Eles não têm coração no peito. O coração deles está no cofre’. E como diz o Evangelho, onde está o teu tesouro, aí está o seu coração’, destacou. O frade confessou que esta frase do Evangelho é muito especial para ele. “Tinha 23 anos, estava há um bom tempo relutando, trabalhando, estudando, namorando e querendo ser padre. Depois conheci São Francisco e queria ser franciscano. Um dia, no Encontro de Emaús, esse Evangelho me tocou. Durante a confissão, eu perguntei ao padre – que hoje é bispo e se lembrou desse fato há dois anos – o que significava ‘onde está o teu tesouro está o teu coração’. Vivia muito aflito e não tinha coragem de decidir a minha vida. Ele disse assim: pegue uma caneta e um papel e marque quantas vezes e que coisas o seu pensamento mais se ocupa. Não demorei para descobrir que eu passava semanas estudando, trabalhando,  pensando na liturgia, pensando no encontro de jovens, preparando a palestra, preparando o encontro. Aí eu fui entender: ‘lá onde está o teu tesouro está o seu coração’. Por isso, a gente precisa se decidir por esse tesouro, aquilo que mais ocupa o nosso coração. E aí poderíamos nos perguntar: o que Santo Antônio nos diz isso hoje?”, perguntou o frade.

“E eu pergunto para vocês: Onde está o teu tesouro? Onde está o seu coração? Por quem ele bate 24 horas? Em quem mais ele pensa? Aí a gente começa a ver se de fato Deus ocupa um lugar importante na nossa vida. Se de fato temos sede e fome de Deus. Só quem tem olhos de pobres, diz Santo Antônio, é capaz de contemplar o Filho de Deus”, ensinou o frade.

Para terminar, Frei Mário  destacou os pilares da espiritualidade franciscana, mostrando o Menino Jesus nas mãos de Santo Antônio: A pobreza de Deus no presépio, a doação na simplicidade do alimento do pão da Eucaristia e o Cristo nu da cruz, que dá sua própria vida. “Eu convido, cada um, cada uma, sob esse olhar de Santo Antônio com o Menino pobre e humilde em suas mãos, a perguntar:  qual atitude, gesto, palavra ou postura Santo Antônio gostaria de ver em mim, seu devoto, sua devota?”.

Nesta terça-feira, o pregador da Trezena é o Vigário Provincial Frei Estêvão Ottenbreit, que vai falar sobre o “Santo da Alegria”.