O rosto misericordioso de Deus na Rocinha
24/03/2017
Rocinha (RJ) – Existem cenas e momentos que ficam gravados na memória e no coração e que se tornam eternos e inesquecíveis. Assim foi o segundo dia de missões em preparação à Ordenação Diaconal de Frei Alan Maia de França Victor, que neste sábado dará mais um passo na resposta ao seu chamado vocacional.
Visitando às famílias da Comunidade São José, localizada no alto da Comunidade da Rocinha, no Rio de Janeiro, a equipe missionária deparou-se com cenas fortes e inimagináveis, tais como entrar na casa para dar uma bênção e deparar-se com um recém-falecido senhor, abençoar e rezar com jovens traficantes pesadamente armados, dar a bênção e amarrar uma fitinha com a inscrição “Por um mundo de paz e bem” no braço de um homem cujo punho segurava uma metralhadora, visitar à mãe cujo filho recentemente tinha sido assassinado, reunir-se para fazer um momento de adoração ao Santíssimo Sacramento enquanto homens permaneciam armados diante da porta da capela. Enfim, são todas situações para as quais nem sempre estamos preparados e que fogem do cotidiano de nossas evangelizações e missões, mas que nos mostram exatamente o que significa ser uma Igreja em saída e voltada para as periferias sociais e existenciais de nossos dias de hoje.
No entanto, essa missão não tem sido ímpar somente pelas cenas e momentos acima descritos. Talvez, muito mais forte e impressionante tenha sido presenciar a realidade da absoluta maioria dessa comunidade, que não se cansa de descer e subir as inúmeras escadarias e becos, levando e buscando seus filhos nas escolas, cursos e estudos, acreditando em um futuro melhor. Encontrar os pais de família saindo logo cedo para trabalhar, buscando com dignidade o seu pão de cada dia. Ver a beleza da solidariedade de tantas pessoas que ensinam na prática o milagre da partilha. Vivenciar a alegria de tantos fiéis que, com alegria, têm lotado a igreja para participar das celebrações do tríduo preparatório de Frei Alan. Perceber a alegria das pessoas tem acompanhado com orgulho e esperança a caminhada formativa do jovem seminarista diocesano Alex Fonseca, bem como de nosso frade estudante de Filosofia, Frei Francisco Dalilson, que são filhos dessa comunidade. Encontrar-se para rezar, partilhar e refletir com os jovens do catecumenato, que permaneceram reunidos conosco até tarde da noite por acreditarem na importância da fé para suas vidas. Ver pessoas chegando depois de um dia longo dia de trabalho e ainda encontrando tempo para se dedicarem à comunidade, pois descobriram que a alegria verdadeira está no dar e não somente no receber. Sentir na pele o que significa ser uma fraternidade no meio do povo, inserida e participante da realidade concreta dessa comunidade, que acolhe os nossos frades como verdadeiros membros de suas famílias, reafirmada na constante preocupação com a saúde de Frei Márcio Terra, que se encontra hospitalizado.
Enfim, essa missão vocacional está nos mostrando o verdadeiro rosto misericordioso de Deus. Está nos mostrando o quanto a fé é concreta e pode dar um sentido para o cotidiano de nossas vidas. Tem nos ensinado que ser frade menor, ser servo, ser diácono, é uma missão que vai além da Celebração Eucarística, ou melhor, é uma missão que faz da vida e do quotidiano uma verdadeira Eucaristia, celebrada nos grandes e majestosos altares das imponentes catedrais, mas também nas igrejas mais simples e recônditas, bem como no altar sagrado do coração e da vida das pessoas, daqueles que realmente nos evangelizam e nos ensinam o verdadeiro significado da palavra serviço.
Frei Diego Atalino de Melo