Moacir Beggo

Agudos (SP) – Depois de intensas discussões na quinta-feira, os 103 frades capitulares, reunidos desde a última terça-feira em Assembleia Capitular no Seminário Santo Antônio, em Agudos (SP), voltaram ao tema do redimensionamento logo cedo, quando o presidente da celebração Eucarística, Frei Daniel Dellandrea, fez uma reflexão a partir da festa litúrgica desta sexta-feira (9/11), quando a Igreja celebra a Dedicação da Basílica de São João do Latrão, denominada de a ‘Mãe de todas as Igrejas’.

Ao lado dos concelebrantes Frei Carlos Pierezan e Frei Miguel da Cruz, Frei Daniel lembrou: “Celebrar a memória da Basílica do Latrão é celebrar a memória da origem da nossa Ordem Franciscana”. Isso porque vários acontecimentos da vida de São Francisco estão ligados a esse local, sendo o mais significativo a aprovação da Primeira Regra da Ordem dos Frades Menores.

O comentarista Frei Mário Tagliari também destacou: “A celebração da dedicação desse templo material evoca a nossa verdadeira missão: ser a Igreja Viva, em contínua construção e aberta ao sopro do Espírito, conforme intuiu São Francisco na mensagem da fala do crucifixo da igrejinha de São Damião. Cremos que o redimensionamento passa pela escuta e fidelidade às ‘origens’ do nosso carisma”.

Frei Daniel lembrou que Francisco foi até o Papa Inocêncio III buscar reconhecimento da sua forma de vida de penitência há 800 anos. “E o Papa Inocêncio III viu em sonho que a Basílica do Latrão estava a desabar e um homem simples, insignificante, a sustentava. Ora, o Papa Inocêncio III, diziam, era poderoso, sábio, mas não era ele que sustentava a igreja. E Francisco se revela a ele com esse espírito novo, impulsionado pelo Espírito de Deus, desejoso de viver a simplicidade do Evangelho”, contou o celebrante, que lembrou de Frei Ildelfonso Silveira, quando era seu professor de Filosofia e dizia que nem que o Papa fosse profeta poderia compreender que Francisco seria o restaurador da Igreja, mas, frisou Frei Daniel, a história nos revelou a restauração, o novo impulso que Francisco ofereceu à Igreja.

“Por isso, sustentar a Igreja do Latrão foi também compreendido como alguém que trouxe um espírito novo à Igreja. E é esse mesmo espírito que nós queremos. Encontrar este mesmo sonho, este mesmo ideal, na simplicidade. Buscar construir esse templo sagrado no santuário de Deus, em nossas vidas, em nossa vocação de frade menor”, convocou Frei Daniel, que é atualmente o guardião da Fraternidade do Postulantado Frei Galvão, em Guaratinguetá (SP).

Frei Daniel também observou que as leituras da liturgia desta festa ajudam a compreender um pouco esse tempo capitular. “Elas nos ajudam a entender um pouco esse tempo de renovação, esse desejo de algo novo em nossa Província, de redimensionar a nossa vida e a nossa missão”, acrescentou.

Segundo o frade, São Paulo (1Cor 3,9c-11.16-17) mostra a dignidade de sermos cristãos. “Somos santuários de Deus, templos do Espírito Santo e temos como alicerce Jesus Cristo. Por isso, São Paulo admoesta que é preciso mais cuidado ao construir esse santuário. E aí a gente tem a noção de quão sagrada é a nossa vida dedicada ao Senhor”, disse.

Ao comentar o Evangelho (Jo 2,13-22), sobre a indignação de Jesus com a transformação da casa de oração num lugar de comércio e poder, Frei Daniel disse que Jesus também pensava: “É preciso redimensionar essa forma de culto”. E Ele propõe a destruição daquele templo e a reconstrução de um templo novo.

“Os discípulos só compreenderam, após a Ressurreição, do que se tratava este novo templo. É o próprio Cristo que se identifica: eu sou o novo Templo, eu sou a nova forma de culto. Ele é a centralidade, não mais aquela estrutura fixa, pesada, cheia de sacrifícios, mas um só sacrifício derramado: a morte e ressurreição. Um novo mundo”, disse.

Segundo Frei Daniel, só tendo Jesus Cristo como o alicerce, o fundamento, é possível ter forças e coragem para mudar. “E a partir daí pedir forças ao Espírito Santo para que a gente derrube todos os templos que nos deixam presos, fixos, pesados, inseguros, medrosos. Para que possamos nos libertar e que possamos sustentar, como Francisco, aquilo que o Espírito nos conduz: a um mundo novo”.

Durante a Missa foram lembrados os aniversariantes do dia: Frei Salésio Hillesheim e o aspirante Jairo Macedo.

Já os trabalhos do Capítulo Provincial continuam nesta sexta-feira com o estudo do “Instrumento de Trabalho” para este Capítulo, que foi elaborado a partir das Fraternidades e da Comissão Preparatória para esta Assembleia Capitular.