Frei Gustavo Medella

“O correr da vida embrulha tudo. A vida é assim: esquenta e esfria, aperta e daí afrouxa, sossega e depois desinquieta. O que ela quer da gente é coragem.” – Guimarães Rosa, em Grande Sertão: veredas.

Coragem. Eis a virtude que não falta nos dois personagens celebrados na liturgia deste domingo: São Pedro e São Paulo. Verdadeiros heróis, não saídos das histórias em quadrinhos, mas forjados nas duras consequências de terem assumido o seguimento de Cristo. Perseguição, incompreensão, dificuldades materiais, prisões, açoites, longas viagens a pé, conflitos para administrar. Tiveram suas recaídas: Paulo perseguia impiedosamente os cristãos; Pedro negou Jesus por três vezes e chegou a ser chamado de “Satanás” pelo mestre. Mostraram-se humanos, demasiadamente humanos. Talvez aí habite a firmeza e a segurança que estes homens até hoje transmitem à Igreja. Chegaram ao martírio: Pedro, crucificado, e Paulo, decapitado. Um pela cruz; outro pela espada. Mesmo entre uma e outra, jamais ficaram “em cima do muro”. Souberam decidir e entregaram-se sem reserva.

Pedro e Paulo dão a dimensão de quão exigente é o caminho do seguimento de Jesus. Servem de estímulo a todos os que decidem abraçar com a vida e o coração esta aventura. Mostram que a resposta à pergunta do Mestre – “E vós, quem dizeis que eu sou?” – é dada e reafirmada dia a dia, por palavras e atitudes, numa sentença assinada com o sangue, se necessário for. Tornaram-se grandes e se eternizaram, confirmando a máxima literária do mesmo Guimarães Rosa com quem abrimos esta reflexão: “Os homens bons não morrem. Ficam encantados”.