O Santuário Frei Galvão, localizado na cidade de Guaratinguetá, interior de São Paulo, se prepara para celebrar com devoção e reflexão os festejos de seu Padroeiro, São Frei Galvão. O evento teve a missa de abertura voltada para o envio dos voluntários da festa celebrada pelo frei Diego de Melo, reitor do Santuário Frei Galvão.

A expectativa para o início da grandiosa festa em honra a Frei Galvão já envolve todos os que fazem parte da organização do evento. No ano passado, durante a celebração, o Santuário dedicado ao primeiro santo brasileiro acolheu impressionantes 55 mil visitantes. Esse número crescente só reforça a necessidade de atenção especial no acolhimento dos fiéis.

O tema da festa e a arte foi definido ainda em maio deste ano. De acordo com Frei Diego Melo, Reitor do Santuário, o trabalho de mobilização do voluntariado começou de forma mais intensa depois da festa Julina. “Nós temos mais de 400 voluntários. A cada edição da festa de Frei Galvão este número vem aumentando. Aos longo desses 11 dias eles se dividem em diferentes equipes, coordenados por diferentes leigos e leigas que estarão fazendo a festa acontecer”, explica o frei.

O trabalho está dividido em diversas frentes, desde a organização do estacionamento, enfeites do santuário, barraquinhas de festa, cozinha, a outras diversas atividades. Toda a estrutura do evento foi minuciosamente planejada para garantir o máximo conforto e atendimento aos visitantes e devotos de Frei Galvão.

Aos 50 anos de idade, José Cleber dos santos Lima é inspetor de equipamentos. Devoto de Frei Galvão, esta é a quarta festa em que ele se dedica como voluntário, sempre na barraca que serve calabresa. “Moro próximo à Igreja, é muito prazeroso poder ajudar fazer acontecer essa festa em comemoração ao nosso santo. Poder receber todas as pessoas que vem de fora, de todo o Brasil e fazer fortalecer a nossa comunidade. Com isso, cada um fazendo sua doação, a gente faz acontecer essa festa maravilhosa, por isso sempre me coloco em doação para poder estar ajudando ao fazer um pouquinho dentro da barraca pra ter um resultado pra todos”, afirma.

Para José Cleber e seus colegas voluntários, o trabalho começou cedo. Às 13h, a barraca já estava aberta para receber os primeiros devotos. No entanto, todo o esforço de preparação já havia sido iniciado um dia antes. Com 11 dias de celebração pela frente, o cansaço físico é insignificante para esses voluntários dedicados. “Neste momento você não vê o lado do cansaço físico. Quando você está fazendo algo com objetivo em prol a todo mundo que tem a mesma a expectativa você nem vê o cansaço, A doação é o que nos fortalece. Ser voluntário é fazer acontecer, porque o bom resultado vai depender de todos.

Antes da missa no Santuário Frei Galvão, uma parte significativa dos visitantes teve o privilégio de apreciar a apresentação do terço cantado realizada pelo grupo de dança “Eu Sou do Sul”. O responsável por esse projeto de sucesso, Marcos de Brito, natural de Wenceslau Brás, no norte do Paraná, é professor da rede pública estadual.

O grupo, que surgiu há sete anos, tinha como objetivo a revitalização da cultura gaúcha na região, por meio de danças, músicas e trajes típicos. Brito explica: “Nós trabalhamos com todos os aspectos da cultura do Sul do Brasil. Isso inclui a dança, bailes e, claro, aspectos religiosos. As pessoas do Sul são muito religiosas e têm sua própria maneira de rezar. O terço é rezado de forma cantada. Claro que rezamos o terço da maneira tradicional, mas também nos reunimos uma vez por mês na casa de um dos nossos membros para recitar o terço cantado que apresentamos hoje.”

O tempo fez o grupo crescer e se tornar um dos maiores do Brasil, com 860 integrantes. Para esta apresentação participam cerca de 100. A razão para tanto crescimento também tem a ver com a saúde mental. “Muita gente utiliza pra fins psicológicos mesmo. A pessoa passou num psicólogo ou psiquiatra que aconselha a dança, porque a dança é uma forma de expressa o que está preso dentro dela, do sentimento dela que não consegue expressar de outras formas. É uma maneira de aliviar essa tensão que todos nós temos”, justifica Brito.

Neste ano, a festa no Santuário coincidiu com o aniversário do grupo. Quando Brito recebeu o convite para se apresentar no santuário, não hesitou. “Nós estivemos em Aparecida em julho, e estendemos a nossa viagem até o santuário de Frei Galvão, estávamos uniformizados e encontramos o Frei Diego, que prontamente no convidou para participarmos da festa. Então nós desmarcamos outro compromisso para comemorarmos o nosso aniversário desta forma, nada mais justo do que agradecer a Deus porque se não fosse por Ele nada disso teria acontecido, o nosso grupo não teria tomado a proporção que ele tem hoje”, acredita Brito.

É apenas o começo. Durante a novena, os freis do santuário irão abordar aos fiéis a importância da vocação e da constante conversão, inspirando-se no lema do santuário: “Coração ardente, pés a caminho.” A novena irá oferecer profunda reflexão sobre a vocação à luz dos Evangelhos e da vida de Frei Galvão, o primeiro santo brasileiro. “Nós estamos caminhando em consonância com o ano vocacional proposto pela CNBB pra todo o nosso país e assim pensamos em aprofundar a vocação e missão de Frei Galvão, ele que também tinha o coração ardente e estava sempre com os pés à caminho”, explica Frei Diego.

No primeiro dia da novena, marcado para o dia 16 de outubro, os fiéis e devotos do santo serão mergulhados no tema “Frei Galvão e a Vocação para uma constante Conversão”. Todos os nove temas foram cuidadosamente escolhidos para serem meditados até o dia da grande festa de São Frei Galvão. Frei Diego Melo explica que “ao longo desta novena, nesses dias de festa, em cada dia nós vamos aprofundar um diferente aspecto vocacional relacionado à Frei Galvão: Frei Galvão que tinha a vocação à caridade, Frei Galvão que tinha vocação à itinerância, Frei Galvão que tinha vocação à santidade e assim por diante, que nós vamos continuar”.

A novena é também uma oportunidade de revisitar a história e os ensinamentos de Frei Galvão, destacando sua intensa vocação religiosa e seu comprometimento com a conversão espiritual. O santo, que viveu no século XVIII e é conhecido por sua obra de caridade e amor ao próximo, deixou um legado de dedicação à fé e ao serviço aos mais necessitados. Com sua trajetória exemplar, serve como um modelo inspirador para os fiéis que desejam seguir o caminho da fé e da renovação espiritual.

Durante os dias que compõem a novena, os participantes terão a oportunidade fortalecer os laços de devoção, incentivando a busca por uma vocação pessoal e o compromisso com a constante conversão, valores essenciais na jornada cristã.

Frei Diego espera para este ano aumento de um terço a mais no número de peregrinos. “Nós estamos esperando um número maior que do ano passado, uma média de 70 mil visitantes para este ano, contando com a vinda dos peregrinos, uma vez que estamos num mês de alta temporada, e na região são muitos devotos que passam. A festa, o horário dela, é pensado para acolher os peregrinos. Como nós somos um santuário não teria sentido fazermos uma festa somente à noite e deixar de fora os peregrinos que passam durante o dia. Por isso que aos finais de semana a festa acontece o dia todo de tal modo possam também participar”.

Ninguém melhor que Marcos Brito para lembrar o quão essencial é a renovação espiritual na vida. Ele relata que, durante a pandemia, o grupo de dança foi forçado a se distanciar, mas ele próprio contraiu o vírus e só sobreviveu por um verdadeiro milagre. “Quando eu retornei após a Covid, eu mal acreditava que sobreviveria, porque não conseguia andar, me alimentar sozinho, nem mesmo lembrava meu nome ou conhecia meu filho. Passei por uma situação extremamente dramática e considerava uma verdadeira dádiva sobreviver. Eu jamais imaginei que voltaria a dançar e a dar aulas de dança. No entanto, essa experiência uniu todos os nossos alunos e integrantes em torno dessa causa. Quando tudo voltou ao normal, entendemos que poderíamos contribuir por meio da cultura gaúcha para unir as pessoas em sua religiosidade”, conclui.

O Santuário Frei Galvão continua sendo um local de peregrinação de suma importância, atraindo devotos de todo o Brasil. A celebração de São Frei Galvão carrega profundo significado espiritual tanto para a comunidade católica quanto para todos que buscam inspiração em uma vida dedicada à fé e ao serviço ao próximo.

Histórias de superação e renascimento como a de Marcos Brito e seu grupo de dança ecoam de maneira especial no Santuário, reforçando o poder da espiritualidade para unir as pessoas e inspirar a renovação de suas vidas.

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Por Pedro Teixeira
Imagem Patrick Henrique e Rayane