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Nos 40 anos da Jornada Franciscana, as provocações que vêm dos Jubileus

24/09/2023

Notícias

São Paulo (SP) – Os franciscanos e franciscanas do Regional São Paulo da CFFB (Conferência da Família Franciscana do Brasil) se reuniram neste domingo (24/9) no CONSA (Colégio Franciscano Nossa Senhora Aparecida), da Congregação das Irmãs Franciscanas de Ingolstadt, para mais um encontro como acontece todos os anos no início da Primavera e das festividades do Seráfico Pai Francisco.

Esta Jornada Franciscana reuniu a Primeira Ordem – Ordem dos Frades Menores, Frades Menores Capuchinhos e Frades Menores Conventuais -, a Ordem Franciscana Secular, franciscanos e franciscanas de diferentes Institutos e Congregações, a Jufra e simpatizantes de São Francisco e Santa Clara para um momento de reflexão e confraternização.

A animação e apresentações de todas as entidades esteve a cargo do coordenador da CFFB Regional de São Paulo, Alex Sandro Bastos Ferreira. “Meus irmãos e minhas irmãs, que alegria estarmos novamente nesta Jornada Franciscana. São muitas as congregações, são muitas as famílias religiosas, e também é um motivo de alegria porque voltamos para esta casa das Irmãs de Ingolstadt que, em 40 anos da Jornada, acolheu muitos eventos aqui. A Jornada nasceu há 40 anos para celebrar o 8º centenário de nascimento de São Francisco, em 1981”, explicou Alex. Nesses 40 anos de encontros presenciais (sendo dois on-line durante a pandemia).

 Alex Sandro Bastos Ferreira, coordenador da CFFB Regional de São Paulo

Frei George Matheus, OFMCap

Depois da acolhida, teve início o Momento Celebrativo da Ecoespiritualidade e Frei George Matheus, OFMCap, fez a reflexão. Na sequência, Alex fez um resumo dos Centenários Franciscanos da Ordem e, nas oficinas franciscanas, chamadas de Aldeias Franciscanas, os Jubileus da Regra Bulada e do Natal de Greccio foram os preferidos dos participantes. As oficinas também abordaram os temas da Animação Vocacional; do Perfil do Educador Franciscano; do JPIC – Engajamento Socioambiental – Sefras; e da Pastoral da Moradia. Depois das oficinas, das 12h30 às 14h, foi o momento de alimentar o irmão corpo.

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A Família Franciscana está celebrando os seguintes Jubileus de 800 anos:  a Regra Bulada e o Natal de Greccio, em 2023; a Impressão dos Estigmas de São Francisco de Assis, em 2024; o Cântico das Criaturas, em 2025; e a Páscoa de São Francisco, em 2026.

REGRA DE VIDA

Frei Fidêncio Vanboemmel fez a reflexão do Jubileu da Regra Bulada. “Toda vez que a gente celebra um jubileu, por exemplo, um jubileu de matrimônio ou o jubileu de uma igreja, de uma fraternidade, vai fazer o que em primeiro lugar? ‘Cavocar’ a sua história e o que aconteceu nesses 800 anos. A gente vai tentar trazer para o presente tudo aquilo que foi se construindo ao longo da história. Então, o que vamos dizer da história de 800 anos? Como é que esse projeto de 800 anos sobreviveu ao longo desses 800 anos? Foi fácil? Foi tranquilo? Não! Quantas discussões, brigas históricas, até divisões nós vimos. Mas uma coisa muito bonita está aí: ‘A Regra dos Frades Menores é esta: observar o Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo'”, contextualizou.

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Para o frade, celebrar os 800 anos da Regra Bulada pode, talvez num primeiro momento, trazer um perigo para nós. “Eu estava na Rodovia Ayrton Senna e vi um retrovisor dependurado. Precisamos do retrovisor, pois ajuda a ver áreas que não são vistas diretamente. Uma vez fiz uma foto muito bonita. Estava saindo de Assis, olhei no retrovisor do carro e vi espelhada a cidade de Assis inteira. Imediatamente bati a foto. Ainda guardo com carinho ela”, recordou.

“Então, celebrar 800 anos da Regra pode ser uma tentação de olhar para esse retrovisor e falar: gente que história bonita! Quantas santas e santos! Quanto essa história contribuiu para a ciência da Teologia, o quanto essa história contribuiu, a partir da espiritualidade de São Francisco de Assis, para as Missões, para o progresso dos povos. Se nós estamos todos no mesmo barco, não podemos permanecer com os olhos fixos apenas no retrovisor. Devemos nos perguntar o que essa história significa para nós, franciscanos e franciscanas, no tempo presente? O quanto nós estamos redescobrindo aqueles valores evangélicos que São Francisco estatuiu na Regra Bulada? Olhar para esse retrovisor significa, parafraseando o Papa Francisco, que devemos olhar, sim, para esses 800 anos com gratidão. Dizer a Deus muito obrigado por nosso Pai Francisco ter lançado para nós um projeto evangélico, um projeto emoldurado pelo Evangelho. Não um projeto qualquer. É um projeto escrito na moldura do Evangelho”, ressaltou.

“Celebrar 800 anos é viver o presente com paixão. Sem paixão não conseguimos viver. Significa viver sem o amor pelo carisma. Olhar para esse retrovisor nos faz viver o presente com paixão e, ao mesmo tempo, esse projeto nos remete para frente: olhar para o futuro com esperança. Ou seja, nós temos um futuro a reconstruir. O texto escrito há 800 anos não é um texto morto”, explicou o frade.

Segundo ele, Francisco foi muito sábio ao escrever a Regra, a forma de vida, que diz: “A vida  e a Regra dos Irmãos Menores é esta: Viver o Santo Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo”. Portanto, para Frei Fidêncio, o Evangelho é a chave de abertura para esta forma de vida. “E aí então, na Regra, ele vai colocando os elementos essenciais para bem vivermos franciscanamente esta forma de vida. E termina depois dizendo: ‘Para que permaneçamos sempre fiéis ao Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo que nós prometemos’. Ou seja, essa é a moldura do Evangelho”, frisou Frei Fidêncio.

“Essa Regra continua como provocação. Como podemos viver nos dias atuais esse mesmo ideal projetado por São Francisco?”, completou Frei Fidêncio.

JUFRA E MISSA

Às 14h30 foi realizado um Momento Celebrativo para recordar os 50 anos da Jufra em São Paulo. A Jornada terminou com a Celebração Eucarística, às 15 horas, presidida por Dom Carlos Silva, OFMCap, Bispo Auxiliar de São Paulo para a Região Episcopal Brasilândia. Concelebraram o Ministro Provincial dos Frades Menores Conventuais, Frei José Hugo da Silva Santos; o Frei Agostinho Odorizzi, Ministro Provincial da Terceira Ordem Regular de São Francisco de Assis; e o Definidor Provincial e ex-Ministro Provincial, Frei Fidêncio Vanboemmel.

Na sua homilia, Dom Carlos saudou a todos. “É uma alegria rever tanta gente, tantos amigos e amigas de caminhada. Tantos homens e mulheres que continuam persistindo no caminho. Citando Dom Hélder Câmara disse: ‘É graça divina começar bem. Mas graça das graças é é ser fiel até o fim. Que Deus nos conceda então a fidelidade cada vez mais'”, disse.

Segundo o bispo, a nossa vida só pode ser compreendida se olharmos para trás. “Mas só pode ser bem vivida se olharmos para frente”, emendou.

Sobre o Evangelho de hoje, eu lembrei da música de Pe. Zezinho: “Quando Jesus passar…eu quero estar no meu lugar”. Quando ele passou na sua vida?”, perguntou. Ele recordou que São Francisco era um filhinho de papai, que foi para a guerra, tinha 23 ou 24 anos, segundo a história, quando foi chamado por Deus. Olhe Paulo, perseguidor de cristãos. Então, que horas Jesus passou em sua vida?”, reforçou a pergunta.

Então, segundo o bispo, o Evangelho de hoje, nessa 40ª Jornada nos faz relembrar que horas Deus nos chama. Ele recordou a mensagem do Papa Francisco no Angelus deste domingo ao falar do Evangelho: “A justiça humana diz para ‘dar a cada um o que merece’, enquanto a justiça de Deus não mede o amor na balança dos nossos rendimentos, dos nossos desempenhos ou dos nossos fracassos: Deus nos ama e basta, ama-nos porque somos filhos, e o faz com amor incondicional e gratuito'”.

“Nós somos chamados para amar e amar é serviço”, disse D. Carlos. “E tenhamos a sensibilidade que teve Francisco de Assis de trazer a sensibilidade da Encarnação no meio daqueles queridos e amados por Deus. E que Deus nos dê a graça de viver à altura do Evangelho. E como a gente vive à altura?”, perguntou, puxando o canto de Pe. Zezinho: “Amar como Jesus amou, sonhar como Jesus sonhou, pensar como Jesus pensou, viver como Jesus viveu. Sentir o que Jesus sentia, sorrir como Jesus sorria e ao chegar ao fim do dia eu sei que eu dormiria muito mais feliz…”.


Moacir Beggo e Frei Gabriel Alves, OFMCap